Sobre

O jornalismo de ambiente desempenha um papel fundamental na sensibilização, desenvolvimento e enraizamento de atitudes e comportamentos, e na transformação do discurso e ações do público face às questões ambientais.

No entanto, em Portugal, o jornalismo de ambiente pode ser classificado como espécie ameaçada, empurrado frequentemente para um estatuto de quase-extinto pelos media e, consequentemente pela sociedade. Muito embora ainda resistam valiosos jornalistas especializados nos domínios do ambiente, a extinção profissional e social verifica-se frequentemente a nível regional, e o grau de ameaça é pouco menor nos órgãos com alcance nacional. Os resultados deste cenário são um dos principais motivos por detrás do afastamento transversal da população portuguesa perante a degradação do património natural e das organizações que lhe fazem frente.

Ironicamente – ou não –, muitas das ameaças e desafios que o jornalismo de ambiente enfrenta, no nosso país e além dele, tendem a coincidir com os que a conservação da Natureza e as espécies de fauna e flora em vias de extinção padecem: a falta de priorização face a outros temas que mais agitação provocam na sociedade, reduzindo a sua visibilidade junto de diferentes públicos; a ausência de recursos humanos especializados, resultante da ausência de formação avançada específica na academia; a ausência de meios financeiros coadjuvada pela alocação dos orçamentos das redações para outros temas, que torna refém a estabilidade das equipas e a construção de trabalhos mais aprofundados; a escala dos assuntos, complexidade dos conceitos em causa e frequente necessidade de envolver técnicos, cientistas e bases de dados como fontes de informação, passíveis de ser simplificadas e tornadas acessíveis ao público; o ceticismo e a desinformação, que obrigam a combater a ausência de conhecimento e a manipulação do discurso por interesses instalados; e, claro, o envolvimento do público, que se assume como fator determinante para o reconhecimento e apoio quer ao jornalismo de ambiente, quer à proteção do património natural.

Ciente desta realidade que importa inverter e da necessidade de, colaborativamente, se construírem soluções, a Liga para a Protecção da Natureza apresenta em 2023 a segunda edição da Semana do Jornalismo de Ambiente. O evento terá lugar nas tardes de 6 a 10 de novembro na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, em Lisboa.

Com 5 convidados/as de renome internacional a encabeçar cada dia, ao longo da semana serão discutidos temas como o espaço e tempo que o ambiente ocupa e poderá vir a ocupar nos canais generalistas, a influência do teor da mensagem na perceção e ação público – o que faz as pessoas moverem-se? Boas notícias e sucessos? Ou as más notícias e o catastrofismo? –, os riscos e sinergias nas investigações lideradas por jornalistas, as oportunidades, dificuldades e sustentabilidade da carreira dos jornalistas de ambiente, e o poder isolado e combinado do storytelling e da imagem para a conexão intelectual e emocional com o público, entre muitos outros.

Em 2023, o programa irá ainda incluir uma sessão especial dedicada ao projeto LIFE Aegypius, que visa promover a conservação do criticamente ameaçado abutre-preto em Portugal através de medidas no terreno e da clarificação de mitos e crenças infundadas acerca da espécie, e a apresentação de um filme-documentário ambiental internacional desenvolvido por jornalistas.

À semelhança da edição de estreia em 2022 (descubra aqui a edição anterior), a iniciativa irá reunir profissionais e especialistas nacionais e internacionais, representantes da academia e de organizações não-governamentais de ambiente, alunos do ensino superior, interessados e curiosos.