Foi recentemente encontrada nas Alagoas Brancas uma rara comunidade de plantas associadas aos meios aquáticos, com várias espécies raras e ameaçadas. Este local na cidade de Lagoa está fortemente ameaçado pelo desenvolvimento imobiliário. A área tem sido defendida por um grupo de cidadãos e associações, que lutam há vários anos pela proteção do local. Esta descoberta vem acrescentar valor às Alagoas Brancas e dar alento à luta dos cidadãos. A esperança é que as autoridades de conservação da natureza intervenham e que a Autarquia de Lagoa finalmente perceba o valioso património natural que tem dentro da sua cidade.
Os cidadãos alertam, há muito, para os valores ambientais e para a biodiversidade das Alagoas Brancas. Esta zona húmida, à conta da tenacidade e consistência destes cidadãos, conseguiu o apoio e credibilidade de associações, ONG’s, académicos e deputados. Quanto mais pesquisas há no local, mais espécies são descobertas e algumas de raridade extrema.
E assim foi, um jovem estudante amante da natureza, resolveu fotografar as plantas aquáticas e colocá-las na plataforma iNaturalist. Esta plataforma de ciência cidadã une cidadãos com especialistas, de modo a facilitar a identificação das espécies e aumentar a área de cobertura e conhecimento das mesmas. Tal não foi o espanto dos biólogos que, com base na informação constante na plataforma, se deslocaram ao local, e se depararam com a maior população nacional de Damasonium bourgaei, espécie criticamente em perigo em Portugal, só conhecida em 2 outros locais (num local ocorre uma planta isolada e noutro local são poucas dezenas de indivíduos). Além desta também se depararam com outras plantas raras como Cressa cretica e Elatine macropoda e outras espécies que atestam o bom estado de conservação da comunidade como Sporobulos aculeatus.
O Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) já foi informado sobre estas populações raras e sensíveis de plantas aquáticas. Também a Sociedade Portuguesa de Botânica (SPB) e a Phytos- Associação Portuguesa de Ciência da Vegetação, foram notificadas sobre as espécies botânicas de modo a averiguar e se pronunciarem sobre esta significativa descoberta cidadã de grande valor florístico para a região e o país. A nível internacional, também a IUCN (International Union for the Conservation of Nature) foi informado sobre este novo registo de comunidades vegetais ricas em Damasonium sp. e a possibilidade de ocorrência de mais do que uma espécie deste género. Sendo assim, urge a identificação por peritos no terreno, uma vez que duas das espécies estão desaparecidas a nível nacional e ameaçadas globalmente.
Este conjunto de valores naturais, vem provar, uma vez mais, que as Alagoas Brancas não só mais um sítio alagadiço, é sim um local com um enorme património natural, e o único sítio do país onde se conhece esta comunidade vegetal.
Portugal já foi multado pela Comissão Europeia por não classificar o seu território e não atingir as metas estabelecidas ao abrigo da Diretiva Habitats. Esta é uma boa oportunidade para demonstrar o contrário e proteger, efetivamente, valores naturais raros no Algarve e em Portugal. Temos esperança que as entidades responsáveis pela conservação da natureza intervenham pela proteção do local e o Município de Lagoa finalmente perceba o valioso património natural que tem dentro da sua cidade. Com a informação que existe, o Município pode alterar o PDM e justificar a alteração dos acordos já realizados com promotores imobiliários. Ainda vamos a tempo de salvar as Alagoas Brancas, e transformar o local numa área protegida, para usufruto dos lagoenses de hoje e das gerações futuras. Assim haja vontade e coragem de quem, neste momento, tem o poder de decidir.
Associações signatárias:
Fotografia de capa ©Manfred Temme
30 de junho de 2023
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