Aprovado empreendimento turístico no Cabo Espichel que adiciona ainda mais pressão na Zona Especial de Conservação Arrábida/Espichel
Terminou ontem, dia 2 de julho, a consulta pública do Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução do Eco-hotel da ETOSOTO Cabo Espichel, o qual obteve Declaração de Impacte Ambiental Favorável Condicionada em fevereiro deste ano. Este empreendimento, localizado numa propriedade de 153 hectares (ha) incluída na Zona Especial de Conservação (ZEC) Arrábida/Espichel e nas imediações do Parque Natural da Arrábida, prevê a construção de 58 unidades de alojamento, com um total de 88 quartos, e respetivas estruturas de apoio.
Este é mais um projeto aprovado em área sensível (Rede Natura 2000) e que não tem em conta os impactes cumulativos da existência de outros dois mega-projetos aprovados para as proximidades da Aldeia do Meco, o empreendimento “Pinhal do
Atlântico” e o “Aldeamento Turístico Pinhal da Prata”. O primeiro, a implantar numa área de 30 ha, prevê um aparthotel com 411 unidades de alojamento com capacidade para 1168 camas; o segundo, numa área de 20 ha, incluirá 95 unidades de alojamento turístico com capacidade de 360 camas; sendo que ambos incluem um rol de unidades de apoio. A continuada apresentação e aprovação de mediáticos e polémicos projetos para implantação de mega-empreendimentos turísticos com afetação direta de habitats sensíveis, leva-nos a questionar a força política do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e da Comissão de
Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo no desempenho de um papel que não pode ser condicionado pelo poder político e pelos interesses económicos.
Projeto contraria as opções de gestão preconizadas para este espaço.
Para além disso, o projeto não só conduzirá inevitavelmente a uma perda do valor ecológico da zona, a perdas muito substanciais da integridade dos ecossistemas e a uma perda de eficácia da Rede de Corredores Ecológicos da Área Metropolitana de Lisboa, como também a sua implantação constituirá uma flagrante violação da gestão correta necessária à valorização da ZEC Arrábida/Espichel.
Fatores de ameaça diagnosticados
Em causa está a identificação de diversos impactes que não podem, nem devem, ser omitidos e tolerados, designadamente:
Por último, importa referir que a aprovação deste e de outros projetos imobiliárioturísticos em Rede Natura 2000, em particular na proximidade da zona costeira, demonstram que existe uma total permissividade dos poderes públicos em relação a projetos suscetíveis de promoverem a degradação dos valores naturais, alguns dos quais exclusivos de Portugal. Situação quase sempre acomodada com uma legislação de avaliação de impacte ambiental que, na prática, se tornou uma “via verde” para a eliminação de quaisquer constrangimentos de ordenamento do território e para contornar as obrigações do Estado Português em matéria de
salvaguarda de áreas que deveriam estar reservadas à conservação dos habitats e espécies protegidos.
4 de julho de 2021
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