Lisboa, 19 de dezembro de 2022 – Após semanas de negociação na COP15 (Montreal, Canadá) foi, sob a égide das Nações Unidas, aprovado o Quadro Global da Biodiversidade (QGB) que, reconhecendo que a Biodiversidade é fundamental para o bem-estar da humanidade e o equilíbrio do planeta, tem como objetivo último parar o seu declínio e concretizar uma visão de desenvolvimento que permita atingir uma total harmonia com a Natureza até 2050.
As negociações decorreram em geral sob um clima de tensão. De um lado estiveram a União Europeia e mais alguns países desenvolvidos e em desenvolvimento, que defenderam metas bastante ambiciosas para o QGB, e do outro a generalidade dos países em desenvolvimento, por considerarem que algumas dessas metas não seriam atingíveis nos seus territórios, ou por só as aceitarem com garantias de apoios financeiros importantes, disponibilizados através de um novo fundo.
Entre os aspetos positivos do acordo agora aprovado a LPN destaca:
Apesar desta lista de metas fortemente positivas, a LPN manifesta uma grande preocupação com o QGB, não ao nível dos princípios que estabelece, que são muito meritórios, mas da sua aplicação. Isto porque as versões preliminares do documento incluíam objetivos explícitos e quantitativos para a implementação das várias metas, que foram caindo durante o processo negocial, enfraquecendo o documento. Perdeu-se assim o sentido de urgência que levou ao lançamento do QGB e passou a ser fácil arrastar a implementação do acordo.
A título de exemplo, o texto proposto indicava que a área de ecossistemas naturais ameaçados deveria crescer pelo menos 5% até 2030 e 15-20% até 2050, mas o texto aprovado indica apenas que a área deve crescer de forma “substancial”, sem definir o que considera “substancial”.
Também no caso dos 30% do território do planeta a proteger, manteve-se uma grande ambiguidade sobre as exigências mínimas para que uma área possa ser incluída nessa meta. Há assim um grave risco de que alguns países procurem contribuir para a meta através da inclusão de falsas áreas de proteção.
Jorge Palmeirim, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e presidente da LPN, que fez parte da Delegação de Portugal nesta COP enquanto especialista declarou que “Apesar das suas limitações, este Quadro Global da Biodiversidade assume princípios ambiciosos, que resultam em grande parte do bom trabalho de negociação realizado pela União Europeia, sendo por isso fundamental que a Europa seja um bom exemplo na sua implementação e generosa no apoio à conservação nos países em desenvolvimento, tanto através do financiamento como da capacitação técnica. Isso criará condições para conseguirmos em COP futuras alcançar as metas que tiveram agora de ser abandonadas.”
Ao longo de todo o processo de negociação, Portugal manteve-se alinhado com as metas ambiciosas dos seus parceiros da União Europeia, e a LPN apela a que esta atitude positiva se mantenha durante os próximos anos, implementando o QGB de forma satisfatória no seu território e apoiando, tanto ao nível financeiro como de capacitação técnica, países em desenvolvimento, com especial destaque para os PALOP.
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