A batalha dos pesticidas na Europa

Durante décadas, os agricultores contaram com produtos químicos para produzir os alimentos que abastecem a Europa. Os perigos dos pesticidas são amplamente conhecidos, mas o seu uso permanece em grande parte sem controlo.

 

Assistimos a uma batalha entre o complexo agroindustrial e milhões de cidadãos que lutam contra a ameaça dos pesticidas à biodiversidade e à saúde humana.

 

Em 2021, a LPN apelou à participação dos cidadãos na Iniciativa de Cidadania Europeia “Salvar as Abelhas e os Agricultores”, requerendo à União Europeia (UE) uma agricultura amiga do ambiente, livre de pesticidas sintéticos e respeitadora da biodiversidade e dos agricultores. Recolheram-se mais de 1,3 milhões de assinaturas por todos os Estados-Membros.

 

Mas em plena crise de biodiversidade, conseguirá a Europa resolver o seu problema silencioso dos pesticidas? A batalha final decorre em Bruxelas!

 

Na semana passada, a Comissão Europeia propôs novas regras para reduzir a utilização e o risco de pesticidas na UE, cumprindo o objetivo da Estratégia “Do Prado ao Prato” de um sistema alimentar justo, saudável e respeitador do ambiente. Entre elas, estão metas juridicamente vinculativas a nível da UE para reduzir em 50% a utilização e o risco de pesticidas químicos e a utilização de pesticidas mais perigosos até 2030.

 

As novas regras serão estabelecidas num Regulamento que vincula diretamente todos os Estados-Membros.

 

Estas regras traduzem em ação o compromisso da Comissão Europeia de travar a perda de biodiversidade na Europa, proteger a saúde, ajudar a construir sistemas alimentares sustentáveis em conformidade com o Pacto Ecológico Europeu e garantir uma segurança alimentar duradoura. Eles são um reconhecimento de que enfrentar os desafios relacionados com o clima e com o meio ambiente é a tarefa definidora desta geração.

 

O uso de pesticidas na Europa e a crise da biodiversidade, um vídeo de Investigate Europe

 

 

 

As abelhas ajudam as plantas na reprodução, conectando as suas partes masculinas e femininas para que as flores se possam transformar em frutos. Isso chama-se polinização. Sem abelhas a produção mundial de alimentos colapsaria.

 

Os pesticidas matam os insetos, fungos e ervas daminhas que podem prejudicar as culturas agrícolas. Esta exterminação de larga escala aumenta a produção de alimentos. Mas o custo para as plantas silvestres, insetos, aves, água doce e solo é enorme.

 

Estamos em plena crise de biodiversidade. As espécies estão a extinguir-se agora mais rapidamente do que em 55 milhões de anos, dizem os cientistas. Nas últimas duas décadas, o número de insetos que morrem esmagados nos carros no Reino Unido diminuiu em quase 60%.

 

Os pesticidas também prejudicam as pessoas. Podem causar cancros, mutações e problemas reprodutivos. As empresas de água que abastecem 61 milhões de pessoas à volta do rio Reno [que atravessa a Europa de sul a norte], dizem que está cada vez mais difícil filtrar os pesticidas da água que bebemos. Resumidamente, é altura de encontrarmos alternativas.

 

Mais de um milhão de europeus assinou uma iniciativa a pedir que se acabe com os pesticidas químicos até 2035. Há dois anos atrás, a Estratégia da União Europeia “Do Prado ao Prato” estabeleceu uma meta de 50% de redução até 2030. Mas não é assim tão fácil…

 

Da Noruega a Portugal, do Reino Unido à Polónia, jornalistas da Investigate Europe falaram em primeira mão com agricultores e também com lobistas, agroecologistas, ativistas e políticos. Eles encontraram uma aliança de empresas químicas e lóbis de agronegócios, junto com políticos conservadores, defendendo o “status quo”.

 

Depois veio a invasão russa da Ucrânia. O preço dos alimentos, dos combustíveis e dos fertilizantes agrícolas aumentou em flecha. Essa aliança vem dizer que não é agora o momento certo para diminuir o uso de pesticidas.

 

Mas será este um falso dilema?

 

O entomologista Josef Settele prevê que “ao continuar com o atual sistema agrícola, estamos em última análise a colocar a segurança alimentar de toda a raça humana em risco”.

 

 

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