Os alunos do 8º ano da Escola Básica São Vicente-Telheiras foram ao encontro dos segredos da vida e da Geologia na zona entremarés da Área Marinha Protegida das Avencas, através da realização de três saídas de campo no âmbito do Projeto Despertar para a Natureza promovido pela LPN.
A Área Marinha Protegida das Avencas foi o local escolhido pela professora Rosa Sousa da Escola Básica São Vicente, em Telheiras para mais uma ação do Projeto Despertar para a Natureza
Com o intuito de estudar um ecossistema de entremarés, a Geologia do Litoral e problemas de ordenamento, os alunos do 8º ano, com a orientação do professor em mobilidade estatutária na LPN – Jorge Fernandes e a técnica da LPN – Rita Alves, estudaram e investigaram a Geologia das Avencas, sua influência no modelado da paisagem e existência da vida entremarés, percorrendo o areal pelos trilhos pré-definidos entre a praia das Avencas e a praia da Bafureira.
A Área Marinha Protegida das Avencas reúne uma rica biodiversidade e geodiversidade, sendo considerado um local excelente em termos didáticos e científicos. Ao todo estima-se em cerca de 137 espécies que chamam a atenção dos investigadores, incluindo 45 espécies de peixes. No entanto, esta também é uma área muito frágil, não só por estar sujeita a fatores físicos, mas principalmente por estar sujeita a uma grande pressão humana e como tal, sujeita a um pedido de autorização obrigatório à Capitania de Cascais e à Cascais Ambiente para a realização das saídas de campo.
A convergência de fatores geológicos, de carsificação dos calcários e dos filões de basalto que formam poças de maré e grandes plataformas rochosas atravessadas por canais naturais, permite que muitos organismos encontrem refúgio, tornando a Praia das Avencas uma das zonas intertidais (ou zona entremarés) mais diversificadas e ricas da costa portuguesa. Por essa razão, e porque o litoral está sujeito a um grande impacte e pressão antrópica, a plataforma rochosa e o areal da Praia das Avencas obteve a classificação de Área Marinha Protegida das Avencas tornando-se na primeira área protegida com gestão local do país. Esta praia, situada em Cascais, deve o seu nome a uma planta – a Avenca – com longa tradição de uso medicinal.
Nos ecossistemas entremarés rochosos é observável a influência dos fatores abióticos sobre os organismos. Esses habitats da zona intertidal variam de forma dramática onde os seres vivos se adaptaram utilizando diversas estratégias de sobrevivência. Numa zona que fica duas vezes por dia emersa e duas vezes imersa alguns seres vivos agarram-se com firmeza às rochas fixando-se e suportando as diferentes condições de submersão ao ritmo das marés. Em locais mais altos, os organismos só ficam submersos durante períodos breves, suportando uma longa exposição ao vento e ao sol, enquanto a zona da maré baixa fica quase sempre submersa.
Por vezes, o principal problema que existem nas “saídas de campo” é o facto de existir ainda uma perceção por parte dos alunos (e mesmo pela comunidade envolvente), que uma saída de campo ou visita de estudo é um “passeio” a um determinado local. Para além dos objetivos recreativos, de promoção da amizade e camaradagem que uma saída de campo possa constituir, é essencial ter-se de mudar essa perceção, pois se forem devidamente organizadas e com o delinear de objetivos, possibilitam uma melhoria das aprendizagens e conteúdos científicos, promovendo-se a cidadania ambiental.
Após cuidada planificação dos aspetos de natureza organizacional, nomeadamente, os procedimentos burocráticos e os transportes, os formadores lecionaram aulas virtuais (Visitas de Estudo virtuais), com o objetivo de servir de enquadramento e de informação prévia acerca da área a visitar e por forma a atenuar durante as saídas de campo, o “efeito novidade”, funcionando como organizador prévio facilitador da aprendizagem e de motivação para a saída de campo real.
Nas aulas virtuais para além dos alunos terem sido transportados para a paisagem, permitiu observar-se e analisar o espaço a visitar a várias dimensões, através das Tecnologias de Informação e Comunicação. Com o recurso ao Google Earth e Google maps, através de imagens de alta resolução, explorou-se o terreno e a área da Plataformas Litoral de Cascais, criando-se mapas e visualizando-se vídeos. Para além disso foram apresentadas algumas apps para serem aplicadas como ferramentas educativas durante as saídas de campo reais (SCR).
Com efeito, ao complementar-se as Aulas Virtuais aos espaços a visitar com as SCR, permite-se que os alunos criem uma associação entre o que foi dito e a sua visualização. As SCR são um elemento-chave do projeto não só para a consolidação do conhecimento adquirido nas sessões virtuais anteriores, mas também para o estímulo ao contacto com a Natureza e à adoção de comportamentos em prol do ambiente.
Integrando métodos de ensino e aprendizagem mais inovadores através de uma linguagem com que os alunos se identificam mais facilmente, não obstante, as Aulas Virtuais não dispensam os inúmeros benefícios que trazem as SCR, como sejam, entre outras: o treino de diversos processos científicos, a observação e contacto direto, as experiências e estímulos do estar em ambientes mais naturais, a promoção da prática física e desenvolvimento de capacidades e de destrezas variadas, a melhoria de aspetos relacionais, a camaradagem e o espírito de equipa, proporcionando a melhoria do bem estar e a saúde individual e coletiva (Almeida, 2013).
Na saída de campo real, após a explicação sobre a contexto geológico, geográfico, e zonação das comunidades intertidais, com cuidado para não perturbar os seres vivos, os alunos com recurso a um guião e a aplicações digitais, os alunos foram à descoberta de animais e algas, dos fósseis, descrevendo-se algumas caraterísticas e adaptações à vida na zona de entremarés entre a praia das Avenas e da Bafureira.
Esta saída de campo permitiu aos alunos terem uma abordagem interdisciplinar pois as questões do ambiente e de ordenamento do local implicam necessariamente abordagens sistémicas. A questão do Ordenamento do litoral face às alterações climáticas, da Física e Química, atendendo às variações do meio em os seres vivos se encontram, da informação sobre os paleoambientes evidenciado nas rochas, da dinâmica fluvial decorrente das ribeiras que desaguam nas praias e da ocupação/intervenção humana no litoral ao longo da história na área da Plataforma de Cascais foram temáticas mencionadas nesta saída de campo.
Foi um dia cheio de surpresas de observação direta em contacto com o meio semi-natural, numa forma agradável e didática de trazer os jovens para atividades fora da escola, através de abordagens mais motivadoras, que contribuem para a educação ambiental, fomentando uma consciência de proteção e de uso sustentável do meio natural
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