No âmbito das atividades da disciplina de Geografia do Agrupamento de Escolas Professor Armando Lucena (Malveira-Mafra) e inserido no Projeto Despertar para a Natureza da LPN, os alunos do 10º ano participaram em uma saída de campo, numa jornada de descoberta que teve como principal objetivo promover a aprendizagem em contexto real, explorando os valores naturais e culturais do Parque Natural de Sintra- Cascais, classificado como Património Cultural da Humanidade pela UNESCO.
Esta atividade permitiu desenvolver competências transversais fomentando o pensamento crítico, sensibilizando os alunos para a importância da preservação do património. A saída integrou os conteúdos curriculares da disciplina de Geografia com as de Ciências Naturais e História enquadrando-se no Perfil dos alunos à saída da Escolaridade Obrigatória e na Estratégia Nacional de Educação Ambiental.
No passado dia 13 de maio, os alunos do 10º ano do Agrupamento de Escolas Armando Lucena – Malveira, acompanhados pelos seus professores e pelo professor em mobilidade estatutária na LPN – Jorge Fernandes, participaram numa enriquecedora saída de campo que combinou a aprendizagem em contexto de natureza com a reflexão sobre questões sociais e ambientais. A iniciativa proporcionou uma jornada diversificada, com paragens estratégicas em locais de grande relevância científica, ambiental e cultural do Parque Natural de Sintra Cascais.
A primeira paragem teve lugar na Praia do Magoito, onde se efetuou um pequeno percurso pelo passadiço instalado junto à paleoduna, classificada como um geossítio (local de particular interesse para o estudo da geologia sob o ponto de vista científico, didático ou turístico) e que constitui um verdadeiro arquivo geológico e arqueológico. Ao longo do trajeto os alunos iam respondendo às tarefas propostas num guião e caso tivessem dúvidas poderiam colocar questões aos professores. Trata-se de uma estratégia metodológica que coloca os alunos como o centro da aprendizagem que promove diversos benefícios, como por exemplo, o desenvolvimento da autonomia.
Seguidamente, dirigimo-nos para a praia, onde com orientação dos biólogos Frederico Almada e Raquel Neves da Câmara Municipal de Sintra, os alunos tiveram a oportunidade de observar os aspetos geológicos e a biodiversidade da zona entre marés. Esta visita enquadrou-se na discussão sobre a futura Área Marinha Protegida Sintra-Cascais-Mafra, permitindo aos estudantes compreender a importância da biodiversidade marinha e os desafios da sua conservação.
A área marinha dos concelhos de Cascais, Mafra e Sintra tem “importantes valores naturais”, espécies e habitats que merecem ser conservados numa futura área marinha protegida, indo ao encontro da Estratégia da União Europeia para a Biodiversidade traçada até 2030. Nesse âmbito, em outubro de 2022, a Câmara Municipal de Sintra, Cascais e Mafra e a Fundação Oceano Azul realizaram uma expedição científica no mar contíguo a estes territórios a bordo do navio Santa Maria Manuela. Os resultados obtidos durante a expedição foram de grande valor para a consolidação da proposta de criação da Área Marinha Protegida. De acordo com o relatório sumário executivo foram identificados ao longo da expedição espécies e habitats “de particular relevância para a conservação”, sendo de destacar os recifes de Sabellaria, florestas de laminárias, comunidades mistas de esponjas e corais, comunidades mistas de esponjas e gorgónias e jardins de gorgónias (habitats prioritários no que respeita a sua proteção atendendo à Diretiva Europeia Habitats, Convenção OSPAR e legislação portuguesa. In: Observador datada de 16 de novembro de 2023.
A observação direta dos ecossistemas costeiros e das espécies que habitam este ambiente dinâmico foi um momento crucial, através da excelente explicação por parte dos biólogos Frederico Almada- investigador do Mare - ISPA e Raquel Neves proporcionando momentos de grande motivação por parte dos alunos e professores acompanhantes.
Saliente-se a observação dos peixes que guardam os seus ninhos fora de água, tendo Frederico Almada mencionado a existência de pequenos peixes, geralmente apelidados de cabozes, da espécie Lipophrys pholis que conseguem permanecer fora da água durante duas a três horas.
Como estão ao ritmo das marés, os machos Lipophrys pholis guardam o ninho instalado em cavidades ou buracos nas rochas, onde estão os pequenos ovos que fertilizou, até nascerem as crias. Ficam fora da água quando a maré vaza, sendo que foi possível durante a ação, observarem-se os ninhos numa das rochas da praia. Estes peixes (cabozes) reúnem um conjunto de adaptações que permitem estar perfeitamente adaptados à vida entre-marés, nomeadamente, o facto da época de reprodução ser favorável evitando a estação mais seca e quente e as tocas que ocupam, criam sombra, retêm humidade e água suficiente para que eles respirem. A pele destes peixes também não tem escamas, o que auxilia a respiração fora de água. “É aliás realmente impressionante o peso corporal e o estado físico em que os machos ficam no fim da época de reprodução”, comentou Frederico Almada.
De seguida, a comitiva dirigiu-se à localidade de Ulgueira, onde foi possível apreciar um mural com azulejos, da autoria de alunos, que promove uma cidadania europeia ativa ilustrando os artigos da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Os alunos com a ajuda do guião responderam a diversas questões mediante a observação dos diferentes motivos representando diversos locais da União Europeia.
Esse momento de pausa cultural e cívica destacou o empenho dos estudantes em expressar a sua visão sobre temas de importância global, demonstrando a multidisciplinaridade da saída de campo. O mural serviu como um poderoso lembrete da responsabilidade social e do papel ativo que cada jovem pode desempenhar na construção de uma sociedade mais justa para uma vida harmoniosa entre os humanos e a natureza.
A jornada culminou na Duna da Cresmina- Guincho, um local de elevado interesse geológico e ambiental. A observação desta formação dunar permitiu aos alunos aprofundar os seus conhecimentos sobre a dinâmica costeira, os processos de formação e erosão, bem como a importância da sua preservação para o equilíbrio dos ecossistemas. Durante o percurso nos passadiços da Duna da Cresmina-Guincho os alunos observaram as espécies de flora adaptadas à salinidade e escassez de água, trabalhando em grupo, fazendo registos das observações e verificando as consequências do impacto antropogénico expresso pela construção, pisoteio e presença de espécies invasoras, que promovem o avanço das areias em direção ao interior.
Esta parte da visita alinhou-se perfeitamente com os tópicos do 10º ano da disciplina de Geografia relativos aos espaços litorais, os seus recursos e problemas ambientais, como a erosão costeira e a gestão da linha de costa. A observação in loco da intervenção humana e natural na linha de costa permitiu uma compreensão mais profunda dos desafios da gestão e ordenamento do território.
As saídas de campo organizadas pelo professor Henrique Martins reforçam o compromisso do Agrupamento de Escolas da Malveira em proporcionar uma educação dinâmica, preparando os jovens para serem cidadãos mais conscientes e responsáveis em relação ao ambiente que os rodeia, desenvolvendo o espírito crítico, aprofundando a sua consciência ambiental e cívica. A articulação entre a sala de aula e o terreno proporciona uma abordagem dinâmica e enriquecedora aos participantes.
São esses também os objetivos do Projeto Despertar para a Natureza da LPN, que vão ao encontro das Aprendizagens Essenciais do perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, do Referencial de Educação para a Sustentabilidade e Estratégia Nacional de Educação Ambiental.
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