Abraçar a zona de entremarés no Litoral de Cascais

Os alunos do Agrupamento de Escolas Fernando Namora, no âmbito do Projeto Despertar para a Natureza, foram ao encontro da geodiversidade e biodiversidade da zona de entremarés do litoral de Cascais descobrindo os seus segredos naturais de elevada importância ecológica que nos ajudam a compreender melhor o passado e a prevenir os desafios que se abatem sobre o litoral português.

 

A Área Marinha Protegida das Avencas (AMPA) - anteriormente designada por Zona de Interesse Biofísico das Avencas ou ZIBA – foi, no dia 23 de fevereiro, o local escolhido pelas professoras do Agrupamento de Escolas Fernando Namora, na Amadora, para mais uma ação do Projeto Despertar para a Natureza, de saída de campo com alunos do 10º ano.

Com o intuito de estudar um ecossistema marinho, a Geologia do Litoral e problemas de ordenamento, os alunos, com a orientação do professor destacado na LPN e Rita Alves, técnica da LPN e pelas professoras da escola, estudaram e investigaram a geologia das Avencas, a sua influência no modelado da paisagem e a existência da vida entremarés.

 

Inicialmente, após o enquadramento geológico e biológico, destacou-se a necessidade do cumprimento de várias regras face às condicionantes do local, devido às suas características geológicas e biológicas muito especiais, habitat de uma grande variedade de espécies que deverá ser preservado.

 

Sendo um habitat de grande importância e do qual dependem inúmeras espécies, utilizado como zona de abrigo, refúgio e de alimentação, alertou-se para as normas de visitação e pisoteio decorrentes da regulamentação da AMPA, tendo em vista a manutenção da biodiversidade.

 

 

 

 

 

 

A convergência de fatores geológicos, de carsificação dos calcários e dos filões de basalto que formam poças de maré e grandes plataformas rochosas atravessadas por canais naturais, permite que muitos organismos encontrem refúgio, tornando a AMPA uma das zonas intertidais (ou zona entremarés) mais diversificadas e ricas da costa portuguesa. O estudo e observação da Geologia efetuado permitiu constatar a influência da geodiversidade como condicionante da colonização dos seres vivos e de alguns aspetos geológicos curiosos, como sejam a presença de variados fósseis e estruturas geológicas, indicadores de diferentes paleoambientes de deposição.

 

Nas arribas da praia verificam-se escorrências de água doce, onde proliferam plantas pteridófitas (plantas com tecidos vasculares mas sem sementes) - Avencas (Adiantum capillus-veneris) – de onde provém o nome da praia. Junto às arribas, os alunos, com o apoio das professoras de Física e Química analisaram diversos parâmetros da qualidade da água, como por exemplo o Ph, a temperatura e os teor de nitratos na água das escorrências.

 

A questão do ordenamento do litoral face às alterações climáticas, atendendo às variações do meio em os seres vivos se encontram, da informação sobre os paleoambientes evidenciado nas rochas, da dinâmica fluvial decorrente das ribeiras que desaguam nas praias e da ocupação/intervenção humana no litoral ao longo da história na área da Plataforma de Cascais foram temáticas mencionadas nesta saída de campo.

 

 

Determinação do teor de nitratos das águas de escorrência das arribas da praia das Avencas.

 

 

Inicialmente, Rita Alves mencionou que a faixa litoral entre as praias de S.Pedro do Estoril e da Parede, dada a sua importância sob o ponto de vista ecológico, pedagógico e científico, atualmente constitui uma Área Protegida Local. Devido à necessidade de se garantir a preservação do ecossistema tão rico em biodiversidade, mas que ao longo do ano tem como utilizadores pescadores desportivos, alunos de todos os níveis de ensino, investigadores e veraneantes, foi proposta a criação da primeira Área Marinha Protegida Local em Portugal, expandindo os limites iniciais da ZIBA.

 

A fauna e flora das poças de maré logo despertaram a curiosidade e  interesse dos participante e após a explicação sobre a zonação das comunidades intertidais, com cuidado, para não perturbar os seres vivos, fomos à descoberta de  alguns animais como as anémonas, os caranguejos, as estrelas e ouriços-do-mar, as lapas, burriés, mexilhões e percebes, camarões e cabozes e diversas algas descrevendo-se algumas caraterísticas e adaptações à vida na zona de entremarés.

 

Para além da observação da fauna e flora do litoral, os alunos iam colocando diversas dúvidas, preenchendo os guiões efetuados pelos professores e registando o tipo de zona costeira e eventual poluição e ameaças através do questioinário Coastwatch.

 

Observação da fauna e flora das poças de maré.

 

 

 

De destacar a observação de um exemplar de gastrópode – Búzio e de um polvo – Octopus vulgaris  que estava bem escondido na zona mediolitoral (zona situada entre a zona de marés) e que logo nos envolveu de curiosidade. Procurou-se não o perturbar, mas ele deixou  o seu selo “intimador“ evidenciando os seus braços fortes que nos supreendeu, enriquecendo pela sua beleza e inteligência a nossa memória vivencial.

 

E assim, caminhando em comunhão com a “mãe natureza” ele envolvia-nos com um abraço cheio de surpresas.

 

 

Búzio - gastrópode.

 

Polvo (Octopus vulgaris).

 

 

Poça de maré na zona mediolitorall – observação de Ouriços do mar (Paracentrotus lividus), Mexilhões (Mytilus galloprovincialis), algas calcária (Lithophylum incrustans) e alga Cistoseira sp.

 

 

Na praia observavam-se os efeitos dos processos de modelação de natureza mecânica (abrasão, arranque de blocos, etc.), química e biológica. É devido à irregularidade nas lages calcárias conferida pelas atividades dos seres vivos (bioturbações) que permite boas condições para a vida marinha se desenvolver.

 

Vestígios de atividade de seres vivos (icnofósseis).

 

 

Despertou-nos ainda a curiosidade pela descoberta de em vários afloramentos, na praia da Bafureira, de zonas com fósseis, troncos fossilizados, com carvão e pirite, que ajudam a compreender a evolução paleogeográfica das formações que afloram no concelho de Cascais.

 

 

Carvão-lignito (material vegetal incarbonizado), testemunhando uma deposição em ambiente redutor (pouco oxigenado) – Praia da Bafureira.

 

 

Numa bancada mesmo por debaixo do restaurante da Bafureira, num nível de calcários margosos observou-se uma abundância significativa de fósseis de ostraídeos, excelentes exemplos de vestígios de lumachela (rocha composta quase exclusivamente de conchas de conchas fósseis), indicando que na altura da sua deposição o ambiente era perto do litoral, numa zona de transição.

 

 

Cristais de piroxena no filão basáltico.

 

Zona de falha principal pondo em contacto rochas de idade diferente a SE e a NW.

 

 

Os alunos, com esta saída de campo, tiveram uma abordagem interdisciplinar pois as questões do ambiente e de ordenamento do local implicam necessariamente abordagens sistémicas.

 

Os alunos tiveram não só a perspetiva da Biologia e Geologia, consolidando os seus conhecimentos, mas também da Física e Química, contribuindo para a promoção de uma cidadania ativa, por forma a se construir uma visão crítica, que implique uma governação sustentada no bem público.

 

 

Esta saída de campo teve o apoio da EPAL no âmbito do Protocolo de Cooperação Estratégica para aumento do valor ambiental e promoção da sensibilização ambiental da empresa.

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