Arte e Natureza no Metro de Lisboa

A Educação Ambiental pressupõe um enfoque interdisciplinar e sistémico dada a complexidade da dimensão das questões do ambiente. Envolve um conjunto de atores do universo educativo promovendo a ligação entre várias áreas do conhecimento, constituindo-se como uma ação transformadora e um instrumento para o desenvolvimento sustentável.

 

Assim, viajando pelas estações de metro de Lisboa, a LPN organizou uma ação de formação de professores, aberta a associados e interessados, possibilitando o contacto com representações de artistas consagrados e com a geodiversidade, que expressam um diálogo de saberes, promovendo o debate e a partilha de ideias, com foco nas questões de cidadania ativa ligadas à sustentabilidade ambiental.

 

 

A arte no metro de Lisboa e o estudo da geodiversidade foram temas abordados viajando pelas estações de metro. Contando, atualmente, com 56 estações, 4 linhas e quase 45 km de extensão, o metro de Lisboa possui uma galeria de arte pública na qual a maioria das vezes não nos apercebemos por passarmos com pressa, pelas estações. Para além da riqueza em azulejos, o metro de Lisboa apresenta rochas ornamentais originárias de vários países e que percorrem todo o nosso País, permitindo ser um livro aberto, para se estudar a Geologia de Portugal.

 

 As obras de arte no metropolitano são ricas em significados e conotações. São uma representação da cidade cosmopolita, do país, da sua história expressando também elementos decorativos alusivos à biodiversidade.

 

 Nesse âmbito, no dia 25 de fevereiro, com a orientação de Jorge Sequeira, Patrick Wallerand e Jorge Fernandes partiu-se à descoberta da arte, geodiversidade e biodiversidade percorrendo algumas estações de metro de Lisboa.

 

O trajeto iniciava-se na estação do Terreiro do Paço, mas como estávamos perto da estação Sul e Sueste, não poderíamos deixar de a visitar. Antiga estação delineada anteriormente como uma estação completa ferroviária e fluvial, fazendo parte do plano abandonado para uma linha  férrea entre Santa Apolónia e o Cais do Sodré, a  estação Sul e Sueste foi inaugurada em 28 de maio de 1932, sendo nessa altura considerada como uma extensão dos comboios com origem e destino no Barreiro, na atual Linha do Alentejo.

 

Classificada como Monumento de Interesse Público, apreciámos a beleza do interior do edifício projetado por Cottinelli Telmo, no estilo Art Déco, sendo considerada como um exemplo da abertura ao modernismo internacional. Logo à entrada, no átrio aprecia-se uma decoração de azulejos que retratam algumas estações ferroviárias para onde dali se podia partir. E partimos à descoberta da Geodiversidade… recuando milhões de anos, observámos a beleza dos mármores de Vila Viçosa onde Jorge Sequeira nos transportou para tempos muito antes da ocupação humana, para rochas das mais antigas explicando a Geologia dos mármores do Alentejo.

 

No chão que pisávamos observámos também os calcários da região de Lisboa com diversos fósseis (Rudistas, Nerinea sp e icnofósseis (vestígios da atividade de seres vivos), transportando-nos para milhões de anos muito mais recentes desde o Pré-Câmbrico até à Era Mesozóica retratando-se diferentes modificações do planeta e paleoambientes.

 

Vestígios de atividade de seres vivos (icnofósseis) - Estação Fluvial do Barreiro.

 

 

Após a vista à Estação Sul e Sueste mergulhámos no subterrâneo do metro, mas com a descompressão de irmos ver verdadeiras obras de arte com muitas histórias para contar. Na estação do Terreiro do Paço estávamos rodeados de rochas ornamentais de cor escura esverdeada, “São ofiolitos do Maciço Morais-Bragança e representam o contexto de tectónica de placas, de formação de montanha, sendo um fragmento de crosta oceânica e do manto superior a ela adjacente” diz Jorge Sequeira.

 

Apontando para uma parede elevada situada no átrio principal, Patrick Wallerand começou a descrever a intervenção plástica semelhante a um “vitral” de azulejos., intitulado “Transparências II” produzido pela Fábrica Viúva Lamego.

 

 

Transparências – estação do Terreiro do Paço.

 

 

Seguidamente iniciámos a nossa viagem pela linha azul em direção à estação mais antiga do metro de Lisboa, a estação dos Restauradores inaugurada em dezembro de 1959.

 

Revestindo o piso com o símbolo local a Calçada Portuguesa, nas paredes Paul Wallerand destacou os 6 painéis do artista Nadir Afonso que representam uma homenagem de Lisboa para 6 cidades- Madrid, New York, Paris, Londres, Moscovo e Rio de Janeiro.

 

Estação dos Restauradores.

 

 

 

 

Dirigindo-nos para o átrio norte destaque para o Painel Brasil – Portugal – 500 anos – A Chegança que representa  o encontro de 2 culturas, obra do artista brasileiro Luíz Ventura com temas alusivos à biodiversidade tropical. - “A flora permeia a imagem que nos conduz a uma nau portuguesa. Segundo a descrição do autor de vários signos um deles “representa raízes de mangue, frutos e pássaro (este com elementos da plumária indígena) junto a um grafismo (não identificado de forma a assinalar a extinção de povos indígenas) e máscara cerimonial Tukana, fundem-se com a embarcação e seus tripulantes”.

 

 

 

Painel Brasil-Portugal – 500 anos. A chegança do artista brasileiro Luíz Ventura - estação dos Restauradores.

 

 

Paul Wallerand descrevendo a arte na estação dos Restauradores junto aos painéis de Nadir Afonso.

 

 

 

Depois de termos contemplado o belo painel de Luiz Ventura na estação dos Restauradores apreciámos belos exemplares de rochas ornamentais de fósseis de Rudistas e de Nerineas junto ao átrio de ligação com a linha amarela para se visitar a estação de metro do Saldanha.

 

 

Observação de um gastrópode marinho (Nerinea sp). Foto: Luisa Santos. Estação do Marquês de Pombal.

 

 

 

Chegados à estação do Saldanha, ao longo do cais de embarque são referenciados em azulejaria por Luis Filipe de Abreu, os temas dos quatro elementos: Terra, Água, Ar e Fogo, as estações do ano, momentos como o Encontro, a Despedida e a Espera, num percurso de diálogos e descobertas sensoriais à luz dos temas “Homem”, “Lugar” e “Tempo”.

 

A Estação do Saldanha pertence à primeira geração do metro, quando tinha uma linha em Y que acabava nos Restauradores com as estações terminais em Sete Rios e Entre Campos. Na estação trabalhou-se com dois tipos de materiais: azulejos no cais e mármores Rosa de Borba nos acessos, com caras enormes, mãos e cabeças da autoria do escultor Jorge Vieira. Vêem-se temáticas ligadas à sustentabilidade, na harmonia entre as estações do ano, com a interligação entre o ambiente e o ser humano.

 

Também na estação está presente a obra multifacetada de Almada Negreiros, através da intervenção do seu filho, o arquiteto José Almada Negreiros que reproduziu algumas obras, desenhos e pinturas do seu pai, dignas de serem apreciadas.

 

 

Painel de Azulejo de Luís Filipe de Abreu – estação do Saldanha.

 

 

 

A geodiversidade das estações de metro com a explicação de Geologia com uma escala temporal que ultrapassa a génese da humanidade era aflorada de forma magnífica por Jorge Sequeira, possibilitando conhecer melhor o património geológico e a diversidade de rochas ornamentais utilizadas.

 

 

Estação do Saldanha – painel de azulejo de Luis Filipe de Abreu com imagem referente a um dos quatro elementos - Água.

 

 

Após a informação sobre o plano futuro de expansão do metro que teve uma troca de ideias bastante rica, já se fazia tarde, e era tempo de irmos para a linha vermelha em direção à estação do Oriente.

 

A linha vermelha que surgiu durante a Expo98 foi a única que foi feita de raíz com espaços mais amplos, com um único átrio central, as mais antigas têm 2 átrios (sul e norte) e que concentrou no dia da sua inauguração o mesmo número de pessoas que na abertura do metropolitano de Lisboa.

 

Após ouvirmos a história do metro e que retratam a linha vermelha, passámos pela estação de Olaias, embora não tivéssemos parado por motivos de tempo. Para abordarmos a arte e a geodiversidade desta estação e de outras da linha vermelha para além da do oriente teríamos de reservar por si só, uma outra ação de saída, pois a estação de Olaias reúne diversos prémios internacionais.

 

Chegar à estação de Oriente é chegar à temática dos oceanos, e ali, logo se pôde admirar a grande quantidade de belos painéis e esculturas de artistas nacionais e internacionais. Nesta estação foram convidados 11 artistas de reconhecido mérito internacional representativos dos cinco continentes: cinco europeus, três asiáticos, um africano, um americano e um australiano.

 

 

Estação do Oriente.

 

Errö (Islândia) criou um trabalho em azulejo cuja temática aborda mitos e lendas ligados ao mar,numa narrativa descontínua, aplicando uma linguagem estética semelhante a uma banda desenhada.

 

 

 

Estação do Oriente.

 

 

 

Mural de Errö (Islândia). Na roda do leme Vasco da Gama é homenageado juntamente com outros navegadores Portugueses neste mural - Estação do Oriente.

 

 

 

Junto à escultura em bronze da artista polaca Magdalena Abakanowicz que representa um peixe, Jorge Fernandes mencionou que tem o mesmo toque dos sinos do Vaticano, pois durante a sua elaboração, a artista solicitou que fosse tratado o bronze da mesma forma e esse bronze, na verdade tem esse tratamento. Esse facto foi motivo para que os participantes constatassem esse pormenor de grande riqueza simbólica.

 

Face à estação do Oriente ter sido subordinada durante a sua inauguração à temática dos oceanos realçou-se a importância da conservação dos oceanos e a problemática da sobreexploração da pesca. Foram abordados alguns problemas nomeadamente a captura em excesso de espécies com ciclos de vida longo (tubarões e raias), o aquecimento das águas, a acidificação dos oceanos mencionando-se que até ao final da década a União Europeia deverá ter 30% dos mares classificados como Áreas Protegidas. Até 2020 apenas 10% das áreas costeiras e marinhas beneficiaram dessa medida de proteção. Em Portugal só 8% de Áreas Marinhas Protegidas num território que tem 1 727,408 km2 de área constituindo a 5ª maior ZEE – Zona Económica Exclusiva da Europa. O envolvimento das Associações de Ambiente e das populações deverão ser os faróis de esperança para o cumprimento de se classificarem com uma monitorização eficaz por forma a assegurar a defesa da Biodiversidade e uma eficaz fixação de dióxido de carbono.

 

 

Ouvindo os sinos do Vaticano na escultura do “peixe” de Magdalena Abakanowicz, na estação do Oriente.

 

 

 

Já tinha passado meia hora do tempo final para a ação de formação e os participantes continuavam interessados nas explicações dos formadores, nomeadamente, com a explicação final através de uma retrospetiva efetuada através de um “powerpoint manual” do Jorge Sequeira relativo à viagem de geodiversidade e da Geologia de Portugal efetuada nas estações de metro de Lisboa.

 

No final concluiu-se que uma viagem pelo metro de Lisboa é não só uma galeria aberta para todo o público, mas constitui também, uma excelente oportunidade para que os professores possam trazer os seus alunos para uma aprendizagem fora da sala de aula, de educação Ambiental, reunindo amostras de Geologia de todo o país e do estrangeiro, de Paleontologia, de Artes Visuais, de História, de Português, Geografia e de outras disciplinas e áreas transversais do saber.

 

 

 

Jorge Sequeira explicando a Geodiversidade e Geologia de Portugal na estação Oriente.

 

 

O feedback efetuado pelos participantes permitiu ainda constatar a possibilidade de se efetuar outras edições desta saída, abordando-se outras estações de metro que reúnem igualmente um excelente acervo de arte, de geodiversidade, de temáticas de ambiente e sustentabilidade e de temas transversais como a educação para os direitos humanos, mas que por razões óbvias de tempo, não puderam ser visitadas e referenciadas com maior ênfase.

 

 

 

 

 

 

Dada a riqueza da geodiversidade das diferentes utilizações que são dadas aos recursos geológicos em Lisboa e da importância de se preservar a biodiversidade, esta ação de formação permite sensibilizar os professores para utilização desses espaços urbanos como estratégias educativas que vão ao encontro das competências explicitadas no perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória e para a promoção da educação para a sustentabilidade.

 

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