Carta Aberta sobre Acordo Transfronteiriço da Água

Na véspera da assinatura do acordo entre Portugal e Espanha sobre a gestão transfronteiriça da água, mais de 40 associações e movimentos de cidadãos pedem à senhora Ministra do Ambiente e Energia a democratização do processo de definição da política nacional da água, um processo que se precisa mais aberto, transparente e participado.

 

 

Carta aberta ao Ministério do Ambiente e Energia (10 de setembro de 2024)

 

 

Exma. Senhora Ministra do Ambiente e Energia, Prof.ª Doutora Maria da Graça Carvalho,

 

No âmbito do processo de negociação com Espanha para a gestão dos recursos hídricos transfronteiriços, sobretudo os relacionados com o Rio Tejo e o Rio Guadiana, dirigimo-nos a V. Exa. para manifestar o nosso interesse relativamente às negociações e solicitar a divulgação pública daqueles que serão os termos gerais do acordo cuja formalização, segundo tem sido amplamente divulgado, estará prevista para o próximo dia 26 de setembro.

 

Este acordo terá implicações profundas para a sustentabilidade ambiental e a equidade na distribuição de água e, em vista da sua importância, é crucial que os termos sejam tornados públicos antes da assinatura, a fim de garantir um processo transparente, dando a oportunidade de uma resposta informada e atempada da sociedade civil.

 

A história dos acordos internacionais em temas ambientais demonstra a importância da transparência para a eficácia e aceitação desses acordos pelo que, a publicação antecipada dos termos permitirá uma análise detalhada e uma discussão aberta, garantindo que o acordo seja justo e atenda aos princípios de sustentabilidade e equidade. Além disso, a transparência fortalecerá a confiança pública nas instituições e nas decisões tomadas, refletindo um compromisso para com a boa governação e a responsabilidade ambiental.

 

Na mesma medida, a definição da política nacional para a água não deve voltar a dispensar uma participação pública efetiva, sobretudo dado o interesse expresso pelas organizações da sociedade civil, já manifestado na carta aberta enviada em junho de 2023 à então Ministra da Agricultura e da Alimentação.[1]

 

Se entendemos a água como um bem comum, as políticas da água não podem ser definidas por um grupo restrito de atores, ficando a restante sociedade sujeita às consequências destas políticas. São particularmente relevantes as decisões relativas aos rios Tejo e Guadiana, que estarão na base do atual processo de negociação,  como a gestão dos caudais libertados por Espanha no Tejo, a utilização da água de Alqueva na zona de fronteira e as captações que ambos os países pretendem sustentar no Rio Guadiana, junto à localidade do Pomarão. É também fundamental assegurar a participação de organizações da sociedade civil no grupo de trabalho “Água que Une”, criado pelo Despacho n.º 7821/2024 do Gabinete da Ministra do Ambiente e Energia e do Gabinete do Ministro da Agricultura e Pescas, ou, pelo menos, assegurar procedimentos de envolvimento contínuo destas organizações, assegurando uma participação efetiva e consequente.

 

As organizações e movimentos cívicos signatários desta carta, reiteram a necessidade de uma divulgação pública prévia dos termos que o Governo Português se prepara para validar, formando o acordo sobre a gestão transfronteiriça da água que está a ser negociado entre Portugal e Espanha, no respeito pelos princípios de um Estado de Direito Democrático e pela defesa da água enquanto bem comum. Também reivindicam a democratização do processo de definição da política nacional da água, assegurando uma participação efetiva da sociedade na construção do Plano Nacional da Água 2035 e demais instrumentos de planeamento e execução.

 

SIGNATÁRIOS:

  • A ROCHA
  • AAAF - Associação Ambiental Amigos das Fortes
  • ACSA - Alimentar Cidades Sustentáveis - Associação
  • ADPM – Associação de Defesa do Património de Mértola
  • AEPGA – Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino
  • Alcácer P’lo Ambiente
  • Alentejo com Vida
  • ALMARGEM – Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve
  • AMORA – Associação de Monitorização e Regeneração do Rio Almansor
  • ANIMAR – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local
  • ANPIWWF
  • Associação ALDEIA
  • Associação de Estudos do Alto Tejo
  • Associação Vegetariana Portuguesa
  • CIDAMB - Associação Nacional para a Cidadania Ambiental
  • Associação PATO - Associação de Defesa do Paul de Tornada
  • Dunas Livres - Associação Dunas Livres
  • FAPAS - Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade
  • GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente
  • Juntos pelo Sudoeste - Movimento de Cidadãos de Aljezur e Odemira em Defesa do Sudoeste
  • LPN - Liga para a Protecção da Natureza
  • Movimento Alentejo VIVO
  • Movimento Ecologista do Vale de Santarém
  • Movimento Mondego Vivo
  • MovRioDouro
  • MUNDA - Movimento em Defesa do Rio Mondego
  • Oikos - Associação de Defesa do Ambiente e do Património da Região de Leiria
  • OIKOS – Cooperação e Desenvolvimento
  • OnGaia - Associação de Defesa do Ambiente
  • Palombar – Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural
  • PAS – Plataforma Água Sustentável
  • Plataforma contra la especulación urbanística y ambiental de Candeleda
  • proTEJO – Movimento Pelo TEJO
  • Project Earth
  • Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza
  • Sociedade Portuguesa de Estudos Rurais
  • SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves
  • SPECO – Sociedade Portuguesa de Ecologia
  • ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável
  • Zero Waste Lab – Associação ZEWALAB

 

 

Subscrições Adicionais

  • Milvoz
  • Proteger Grândola - Associação de Defesa do Ambiente
  • Tamera - Centro de Pesquisa para a Paz
  • Rewilding Portugal

 

 

[1] https://zero.ong/noticias/carta-aberta-ao-ministerio-da-agricultura-e-da-alimentacao/

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