Ciclo de solos e desertificação: uma urgência para a educação

O solo tal como a água e o ar é um dos recursos vitais para a existência do planeta. É o suporte da vida e está mesmo debaixo dos nossos pés e à nossa volta Urge refletir e agir sobre o tratamento humano que este recurso natural finito recebe. É por isso indispensável o papel que a educação tem para que sejam tomadas medidas para a sua proteção e conservação através de uma gestão sustentável do solo.

 

Nesse âmbito o Centro de Formação da LPN organizou durantes os meses de fevereiro e março três sessões de formação inseridas num Ciclo de Formação sobre Solos e Desertificação – Uma urgência para a educação. Efetuadas em regime online derivado ao momento de pandemia que se regista, as ações que relevam para efeitos de progressão na carreira docentes contaram como participantes, professores de todos os níveis de ensino mas também profissionais e participantes interessados das áreas de ambiente e educação.

 

Em contexto de capacitação para a educação sobre a temática dos Solos o ciclo foi organizado em sessões independentes mas complementares. Reunindo investigadores e especialistas sobre a temática, bem como um conjunto de práticas e projetos relevantes levados a cabo por Instituições e Escolas do País, foram partilhados conhecimento e disponibilizados recursos para exploração científica e pedagógica fornecendo ferramentas de sensibilização para a importância do Solo e contribuindo para a melhoria das práticas educativas.

 

Na primeira sessão com a designação Estado Atual dos Solos – Trajetórias e Desafios Futuros, o professor Carlos Alexandre introduziu-nos o tema sobre o que era o Solo, a sua constituição, de ser um recurso não renovável devido à sua taxa de renovação muito lenta (400 anos em média para se formar 1cm de solo). Apontando-nos desafios futuros como sejam o aumento da população humana cujo bem estar parece não estar dependente deste bem resultante do seu progressivo afastamento em relação à natureza, exemplificando a redução da vegetação natural como um dos indicadores do impacto do Homem sobre o Solos sendo necessário uma educação, gestão e governação mais sustentáveis do solo em múltiplas áreas como sejam a o planeamento urbanístico, a agricultura sustentável e Floresta. A professora Felícia Fonseca explicitou os fatores antrópicos no sistemas terrestres e armazenamento do Carbono sendo que o Solo constitui um dos principais reservatórios de Carbono do Planeta e dos Fogos não controlados serem um fator de degradação dos solos mencionando baseando-se em resultados de investigações de campo na zona NE de Portugal de que o armazenamento de C é uma das importantes funções das comunidades de matos e pode contribuir de forma efetiva para a mitigação das mudanças climáticas.


O professor Tomás de Figueiredo elucidou-nos sobre a problemática da Desertificação do Solo, ao aumento da aridez no território continental, da ligação interdependente entre a água e o solo, nomeadamente o aumento da Erosão dos Solos resultante dos incêndios que reduz a eficácia da proteção dos solos conduzindo à perda da Biodiversidade e às Alterações Climáticas.
No 2º Painel, Maria de Lurdes Silva (Centro Comunitário do Prado) apresentou o Projeto Horta do Saber efetuado no âmbito do seu mestrado. Um projeto estratégico de sustentabilidade de famílias carenciadas junto às margens do Cávado de hortas urbanas que envolveu processos de conservação e aumento de fertilidade do solo, de agricultura biológica com fins pedagógicos, e culturais contribuindo para a inserção de grupos sociais desfavorecidos e que obteve o segundo melhor prémio Internacional de Agricultura Urbana em 2015.


Coube à professora Ana Lúcia Vasconcelos da Escola EB23 dr. Horácio Bento de Gouveia – Funchal a apresentação do projeto premiado pelo Ecoescolas, sobre Economia Circular numa Ecoescola da Madeira – Horta Biológica, Compostagem e outras iniciativas demonstrando-se as ações excelentes que algumas escolas desenvolvem na no incremento da Educação Ambiental.

 

Na sessão II - com a designação de Fertilidade e Nutrição das Plantas os professores Mário de Carvalho, Eugénio Sequeira e a investigadora Paula Fareleira focaram.se aspetos relacionados com a Conservação do Solo, da importância da matéria orgânica nas funções do solo e do papel essencial dos organismos (manutenção da estrutura, ciclo de ni«utrientes, bioproteção das culturas, degradação e pesticidas). O professor Mário de Carvalho salientou ao problema da mobilização do Solo que conduz à sua perda por erosão evidenciando diversos exemplos tal como o professor Eugénio Sequeira.


Paula Fareleira evidenciou o papel das bactérias como promotoras do crescimento das plantas dando uma visão geral de como estes microrganismos do solo se associam às plantas e influenciam o seu desempenho, abordando-se também a importância de adotar práticas que promovam a sua proliferação e biodiversidade.


A apresentação das escolas ficou ao cuidado da professora Paula Canha do Agrupamento de Escolas de Odemira que mencionou alguns excelentes trabalhos de projeto desenvolvidos com alunos sobre a problemática dos solos referindo algumas atividades práticas sobre solos que se podem efetuar nas aulas regulares, apesar do tema não constar de forma clara e significativa nos programas do secundário.


A professora Cristina Cardoso do AE do Alto de Azambuja mostrou o que se conseguiu concretizar no âmbito da formação/projeto “Vamos Cuidar do Planeta” de manter o espaço escolar limpo; criar uma horta escolar e iniciar um Jardim Botânico.


Na sessão III sobre Degradação Proteção, Remediação e Regeneração dos Solos divulgaram-se técnicas e práticas de conservação do solo, de remediação de remediação e regeneração do solo em que a professora Cândida Rocha mencionou a produção de resíduos orgânicos, e as tecnologias de tratamento de resíduos mais indicados nomeadamente a valorização orgânica de devolver aos solos aquilo que eles nos deram e a professora Erika Santos mencionou algumas técnicas de recuperação de solos contaminados, com recurso a tecnosolos e fitotecnologias, nomeadamente de recuperação de solos de minas através por exemplo de bactérias que se associam às raízes das Plantas capazes de crescerem em terrenos contaminados.


No 2º painel Alice Nunes, investigadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa apresentou os projetos de regeneração do Montado nomeadamente de desenvolvimento de um modelo preditivo da regeneração natural potencial e de monitorização e avaliação do sucesso das reflorestações que envolveu a elaboração de ebooks – acerca de  Boas práticas para a reflorestação, Manual de boas práticas para conservação do solo e da água e Plano de Adaptação de Mértola às Adaptações Climáticas.


Por fim, Dayana Andrade apresentou o “Projeto Hortas Sintrópicas nas Escolas”, idealizado em 2018 e realizado em 5 escolas públicas do Concelho de Mértola. A experiência relatada testou o potencial pedagógico da agricultura sintrópica, integrada às perspectivas da alfabetização ecológica e da pedagogia crítica, na implantação de hortas escolares com crianças entre os 7 e os 10 anos de idade. e que resultou em: prémio no Concurso Nacional de Sustentabilidade  da Fundação Galp; e numa publicação num E- Book.


Todos estes conhecimentos e práticas relevantes evidenciados neste Ciclo de Solos contou com uma participação ativa por parte dos participantes que colocaram diversas questões enriquecendo os debates em cada sessão que contou com uma avaliação bastante satisfatória.


Todos os dias pisamos um recurso natural bastante vulnerável, um bem cada vez mais percível que sustenta a vida. A Estratégia da Biodiversidade da União Europeia para 2030 destaca que é esseencial intensificar os esforços para a proteção da fertilidade dos solos, de aumentar a matéria orgânica, de identificar e restaurar os solos degradados, O incremento de ações no âmbito da temática dos solos através do ensino experimental das Ciências e de ações no campo, com a sua inserção mais efetiva nos curriculos e programas  escolares, bem como o desenvolvimento de práticas educativas mais instrutivas e motivadoras de aproximação das crianças e jovens à Natureza são essencias para um futuro mais sustentável e próspero.


Todas essa abordagens e projetos inovadores que os professores nos trouxeram sugerem o excelente trabalho desenvolvido pelas escolas e o incentivo à realização de iniciativas e projetos relacionados com os espaços verdes escolares no interior das escolas bem como nos espaços exteriores capacitando os alunos para uma cidadania ativa com o objetivo do cumprimento da Agenda 2020 para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, da Estratégia Nacional de Educação Ambiental, Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da Biodiversidade e Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas.

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