No dia 20 de fevereiro a LPN através do professor destacado foi convidada a participar na visita de estudo/saída de campo organizada pelo professor Henrique Martins.
Inserida no plano de atividades da Escola Básica da Bobadela partimos então numa saída interdisciplinar rumo ao Parque Natural de Sintra – Cascais e a Odrinhas. A primeira paragem do nosso destino foi o Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas levando os alunos a conhecer uma das maiores coleções de inscrições romanas da Península Ibérica que integra o ambiente natural, os vestígios arqueológicos locais com as origens e tradições díspares da ocupação humana diversificada que Sintra sempre teve.
Entrada Museu Arqueológico de Odrinhas
Recebidos pelas orientadoras do Museu, os cinquenta e dois alunos do 7º ano de escolaridade e os oito professores da saída foram divididos em dois grupos penetrando na profundidade do tempo, caminhando em direção às épocas mais remotas e mergulhando progressivamente nas realidades que mais se afastam do nosso próprio quotidiano.
Logo no início fomos “confrontados” numa sala que evoca as necrópoles da civilização etrusca com a presença de três sarcófagos, os únicos existentes em Portugal. Datados do século IV e III a.C., foram adquiridos no século XIX por Sir Francis Cook então proprietário da Quinta de Monserrate, na serra de Sintra que os utilizou como decorações nos jardins do seu palácio. Esculpidos na pedra ornamental vulcânica - Nenfro, oriunda da Tarquínia (província de Viterbo- Itália), foram em boa hora resgatados e restaurados após décadas de incúria para o museu de Odrinhas.
Sarcófago de Arnth Vipinana – séc. IV a.C. Na tampa deste sarcófago está representado um homem, sem barba, preparado para um banquete. No baixo-relevo estão representadas oito figuras que compõem uma cena de combate.
Seguidamente entrámos numa sala de maior dimensão com várias lápides de homens, mulheres e escravos, todas provenientes da região e viajamos no tempo vários séculos entrando numa necrópole medieval com as suas sepulturas e outros vestígios. Ainda no espaço interior terminámos a visita com os marcos de fronteira que separavam Lisboa e Sintra mas que evidenciam as ligações históricas, económicas e sociais desde os tempos pré-históricos.
Posteriormente fizemos um pequeno percurso pedestre que representa uma extensão ao ar livre do museu, junto às ruínas da villa romana de São Miguel de Odrinhas e em direção ao espólio arqueológico - Santuário Megalítico de Odrinhas (Menires da Barreira). Aqui os alunos movidos das pranchetas começaram a responder às questões do guião da saída começando por localizar-se geograficamente e localizando alguns pontos de referência avistados do local.
Situados no alto de uma colina, os menires da Barreira constituem um afloramento de calcários do Jurássico Superior, próximo do contacto com os calcários do Cretácico da famosa Pedra do Lioz. Aí num exuberante cenário natural avista-se o Atlântico, a serra de Sintra, as chaminés vulcânicas de Alcainça e até ao palácio de Mafra. Não admira que dada a sua localização fosse o cenário natural para que os antepassados da região, especialmente os chefes das tribos se reunissem, associando estas estruturas megalíticas ao culto da fertilidade. De notar que alguns menires apresentam escavações ocas - covinhas que tinham diversas funcionalidades. Os menires da Barreira foram decretados como Imóvel de Interesse Público em 1993. Pelo seu valor didático, científico e patrimonial importa protegê-lo e valorizá-lo pois incrivelmente até já foram retiradas do local algumas estruturas.
Santuário Megalítico de Odrinhas (Menires da Barreira) – Covinhas “fossetes” nos calcários do Jurássico Superior com Líquenes foliáceos – Xanthoria parietina, Parmelia sp. e Líquenes crustáceos.
Depois da visita a este espaço museológico ao ar livre, lá fomos rumo à segunda paragem do nosso destino, a praia do Magoito para se observar a sua duna consolidada do período quaternário moldada pela erosão da exposição à nortada.
Após uma breve introdução da Geologia da serra de Sintra fomos efetuar uma caminhada pela escadaria de acesso à praia, junto à ribeira da Mata, rodeados pela duna consolidada, onde a natureza nos mostra que o nível do mar ao longo da história geológica variou. A duna consolidada corresponde a um estádio de evolução de areia solta para arenito formada há 10000 anos e que testemunha um nível do mar que se situava muito acima do atual e onde aqui também aqui se identificaram em conexão com a duna dois sítios arqueológicos de idades diferentes – período pré-Boreal e meados do V milénio a.C. e do Neolítico Final.
Já na praia observando o sol radioso a incidir no vaivém das ondas sentámo-nos a descansar um pouco nos blocos rochosos desprendidos pela ação da erosão nas arribas. Mas aí deparámo-nos com belas rochas sedimentares cheias de bioturbação, com vestígios de icnofósseis, fósseis de lamelibrânquios, gastrópodes e também com rochas magmáticas cheias de fenocristais de minerais ferromagnesianos.
De volta ao autocarro, subindo a escadaria de acesso à arriba, junto ao estacionamento vislumbrava-se a sul, as arribas compostas por uma sucessão de camadas quase horizontais de calcários e margas do cretácico e o destino da nossa paragem seguinte o Cabo da Roca.
Ao longo do caminho entre Magoito e o Cabo da Roca passámos pela bela paisagem da serra de Sintra e pelas Azenhas do Mar onde as casas assentam no precipício das “arribas vivas” resultantes da diferenciação da resistência das rochas à erosão que aliada à fraturação vertical cria blocos que se desprendem provocando o seu recuo natural e progressivo.
Ao chegarmos “onde a terra se acaba…e o mar começa…” (que Camões descreveu o Cabo da Roca no famoso livro ´Os Lusíadas´), na ponta continental mais ocidental da Europa, a 150 m de altura fomos encadeados neste belo dia de sol pela imensidão do lugar numa beleza estonteante. Após salientar-se que no cabo da Roca ocorrem alguns dos maiores núcleos de cravo-romano Armeria pseudarmeria, de cravo-de-sintra Dianthus cintranus cintranus e de saramago-de-sintra Coyncia cintrana sendo, por isso, considerada área de elevado interesse de conservação, os alunos iam respondendo ao guião, questionando os professores nas dúvidas que tinham.
E já com o Sol a mergulhar no mar vastíssimo, de volta à escola ficámos com a certeza que esta visita se revelou diferente, pois para além de ir ao encontro das metas programáticas permitiu de forma interdisciplinar uma abordagem in situ dos conteúdos e um maior enriquecimento cultural e vivencial dos espaços visitados.
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