Ciência em Castro Verde

Fotografia de Rui Cunha

 

 

 

O estudo conduzido nas herdades da LPN recentemente publicado na revista internacional Parasitology revela a dinâmica do parasitismo em colónias mistas.

 

Em Castro Verde, são comuns as colónias de aves que congregam diferentes espécies que dependem de condições semelhantes para nidificação, como as cavidades de montes alentejanos abandonados ou as torres de nidificação construídas pela LPN nas últimas décadas. Alguns dos aspetos da dinâmica dentro destas colónias continuam por desvendar, como a carga e diversidade de parasitas que reúnem. Este fator é sobretudo importante de conhecer dado o impacto que pode gerar sobre o normal desenvolvimento quer de crias, quer de adultos, como a redução do sucesso reprodutor, que poderá até colocar em causa a própria continuidade de colónias.

 

Um estudo recentemente publicado numa revista internacional da especialidade, conduzido nas herdades da LPN em Castro Verde, veio agora revelar um pouco mais sobre estas relações de parasitismo. Os investigadores procuraram dar resposta a questões como a variação da abundância e diversidade de parasitas nas colónias de aves em função do seu tamanho, da proximidade entre ninhos, da riqueza de espécies de aves que neles habitavam e do número de ninhos de cada uma. Foram amostrados mais de 250 ninhos de 30 colónias mistas diferentes, tendo-se focado em quatro espécies de aves – francelho (Falco naumanni), rolieiro (Coracias garrulus), estorninho-preto (Stunus unicolor) e pombo doméstico (Columba livia) – e parasitas como as moscas, ácaros e piolhos.

 

O estudo concluiu que nas colónias mistas de aves a identidade das espécies é o principal fator a determinar a presença e abundância de parasitas. Em declarações ao cE3c, João Gameiro, primeiro autor do estudo, constata que “na verdade, é a identidade dos hospedeiros - se é um rolieiro ou um pombo, por exemplo - que mais influencia a composição de parasitas nos ninhos destas colónias, independentemente do quão grandes, densas, ou ricas são. Além disso, e por causa disso, o número de casais ou ninhos de cada espécie torna-se o fator determinante para a abundância da mosca Carnus hemapterus: uma pequena mosca chupadora de sangue muito frequente em várias espécies de aves e o parasita mais comum nestas colónias”. Acrescenta ainda que “independentemente do tamanho ou densidade da colónia, ela vai ter mais parasitas se for dominada por francelhos, e menos parasitas se a colónia for dominada por estorninhos”.

 

Apoiar a investigação é desde sempre um dos objetivos da LPN, patente no seu objetivo de “contribuir para a difusão do conhecimento produzido pelas comunidades académica e científica”. Ao conhecermos cada vez melhor a ecologia das espécies e o funcionamento dos ecossistemas podemos ir aplicando medidas cada vez mais direcionadas para a sua conservação, pelo que este nível de colaborações são de extrema importância.

 

A investigação foi conduzida nos montes alentejanos e torres de nidificação construída pela LPN para a conservação da avifauna da Reserva da Biosfera de Castro Verde, em particular para a recuperação da população do peneireiro-das-torres (ou francelho; Falco naumanni). O estudo é assinado por João Gameiro, aluno de doutoramento do cE3c - Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e por Jorge Palmeirim, investigador da mesma unidade e Presidente da Direção Nacional da Liga para a Protecção da Natureza.

 

Referência do artigo: Gameiro, J., Veiga, J., Valera, F., Palmeirim, J., & Catry, I. (2021). Influence of colony traits on ectoparasite infestation in birds breeding in mixed-species colonies. Parasitology, 1-40. DOI:  http://dx.doi.org/10.1017/S0031182021000470 

 

Notícia adaptada da original disponível em ce3c.ciencias.ulisboa.pt

 

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