Despertar para a Natureza – Uma jornada no concelho de Mafra

Através de um roteiro que deu a conhecer a envolvência natural e cultural da praia de Ribeira de Ilhas, Jardim do Cerco - Palácio Nacional de Mafra e Penedo do Lexim, iniciou-se neste ano letivo o Projeto Despertar para a Natureza da LPN, numa saída de campo com alunos e professores do Agrupamento de Escolas Vergílio Ferreira – Escola Básica S. Vicente.

 

A possibilidade de se realizarem Saídas de Campo por parte das Escolas trazem inúmeros benefícios, não só ao nível da aprendizagem dos alunos, como também na promoção da Cidadania Ambiental. Nesse âmbito, o apoio da EPAL – Empresa Pública das Águas de Lisboa ao ceder o transporte, revela-se crucial para a consolidação por parte das Escolas das Saída de Campo, diminuindo assim os obstáculos à sua realização, contribuindo para os principais eixos da Estratégia Nacional de Educação Ambiental e para o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória.

 

Após o desafio lançado pela LPN para a realização de uma saída de campo, a professora Rosa Sousa, do grupo de Biologia- Geologia da Escola S. Vicente, em Telheiras, rapidamente decidiu planificar juntamente com os seus colegas da escola e com o professor em mobilidade estatutária na LPN - Jorge Fernandes, uma saída de campo para o 7º ano de escolaridade, que conectasse as aprendizagens no campo, em situações reais, com os conhecimentos teóricos adquiridos (ou que iram adquirir) em sala de aula, possibilitando uma aprendizagem mais relevante e significativa.

 

Através de uma planificação rigorosa elaborou-se o itinerário da saída de campo que incluiu não só a elaboração de um guião de campo para os alunos, mas também, o recurso às plataformas e tecnologias móveis. Esse é aliás, um pressuposto dos objetivos da Estratégia Europeia da Biodiversidade 2030, que visa o aumento da consciência e participação sobre a perda da biodiversidade, suas ameaças e necessidade da sua conservação, através do desenvolvimento de uma conexão direta com as áreas naturais ou naturalizadas.

 

Após a apresentação das regras da saída de campo deu-se início à visita do litoral da praia da Ribeira de Ilhas, onde a sua beleza natural e características únicas, oferece um enorme potencial didático para diversas áreas do conhecimento. A Praia da Ribeira de Ilhas é conhecida pelos estrangeiros como “Little Hawai”, e como um lugar de referência na Europa para os surfistas de todo o mundo. Estando incluída na Reserva Mundial do Surf, a praia de Ribeira de Ilhas é mais do que um simples paraíso para surfistas e amantes da natureza, pois trata-se de um verdadeiro laboratório a céu aberto para geólogos, aliada a uma rica biodiversidade, constituindo um local de aprendizagem fascinante para todos aqueles que se interessam pela formação da Terra.

 

 

Introdução das regras e atividades a realizar na Praia de Ribeira de IlhasPenedo do Lexim.

 

 

 

Classificada como um Geossítio onde estão representados vários tipos de intrusões, filões, uma pequena soleira e três corpos de morfologia semiesférica que intruem sedimentos detríticos e carbonatados de idade Aptiano-Albiano (96 a 113 Ma), a sua geomorfologia condicionou não só a sua rica biodiversidade, como proporciona a ondulação tornando-a na “sala de visitas do Surf português.

 

Após uma descrição da biodiversidade, geodiversidade, de aspetos resultantes da ocupação antrópica e problemas de ordenamento do litoral pelo professor destacado na LPN, caminhou-se ao longo da praia, salientando-se a chaminé do Penedo Gordo a norte praia, e a intersectar as unidades litológicas sedimentares do cretácico, as falhas e filões, com destaque para um graben bem visível, que constitui um excelente exemplo para os alunos vivenciarem na realidade, aquilo que é mencionado teoricamente nas aulas.

 

 

Junto aos filões e camadas do Cretácico Inferior na praia de Ribeira de Ilhas.

 

 

 

Praia de Ribeira De Ilhas (Ericeira) – Plataforma de abrasão e Chaminé vulcânica de Penedo Mouro.

 

 

 

 

Aproveitando a maré que estava a subir rapidamente partimos em direção a Mafra para visitar o Jardim do Cerco e aproveitarmos para fazer um piquenique no parque de Merendas.

 

 

Parque de merendas do Jardim do Cerco local onde os alunos e professores almoçaram desfrutando da bela área de lazer.

 

 

Na transição perfeita entre a Tapada e a monumentalidade do Palácio Nacional de Mafra, originalmente cerca conventual, construído por António Rebelo da Fonseca, por ordem de D. João V, o Jardim do Cerco, de estilo Barroco, é um espaço histórico de recreio e lazer, contendo uma mata, horto botânico, jardim formal e áreas de lazer, dispostos geometricamente formando canteiros bem repartidos por amplas ruas, com aproximadamente 9 hectares.

 

Com uma biodiversidade notável onde se enquadram espécies autóctones com espécies exóticas introduzidas no século XIX, explicou-se aos alunos os métodos de extração de água junto a uma nora centenária ainda em funcionamento que movimenta as águas fornecidas pelas 32 nascentes da Tapada. A nora é uma peça central no sistema hidráulico permitindo a circulação e o aproveitamento das águas percorrendo uma extensão de 5 quilómetros de condutas e aquedutos, minas de água e elementos de retenção e armazenamento, lagos, pias e cisternas, culminando, finalmente, no poço de pedra do Jardim do Cerco.

 

Caminhando pelo Jardim do Cerco, os alunos iam observando as espécies arbóreas e arbustivas notáveis como por exemplo, a Ceiba speciosa, Araucárias e uma das árvores mais raras e ameaçadas em Portugal – o Teixo, ou para a riqueza da diversidade de Briófitas e Líquenes existentes, como por exemplo, a Lobaria pulmonAria, espécie indicadora de boa qualidade do ambiente.

 

Simultaneamente alertava-se para o problema das espécies invasoras, focando-se especialmente na existência de duas espécies problemáticas (Pittosporum ondulatum, Acacia melanoxilon), e ainda de Acanthus, que embora não listada como invasora na legislação Portuguesa, apresenta no Jardim do Cerco um potencial invasor algo preocupante.

 

 

Explicação de algumas espécies arbóreas (Metrosideros excelsa) junte à nora centenária no Jardim do Cerco.

 

 

No horto dos frades – plantas aromáticas, condimentares e medicinais.

 

 

Após a observação da flora do Jardim do Cerco os alunos foram á descoberta de fósseis de rudistas nas cantarias dos muros do Jardim sob orientação dos professores.

 

 

 

 

Observação e estudo dos fósseis e paleoambientes existentes nas rochas dos muros do jardim do Cerco.

 

 

Fósseis de Rudistas - Caprinídeos – corte transversal da concha (valva livre) no calcário lióz. – Entrada do Jardim do Cerco (Foto: Jorge Fernandes).

 

 

 

Após o Jardim do Cerco fomos rumo ao Penedo do Lexim, onde entre campos agrícolas, pastos e carvalhais, os alunos iam preenchendo o guião previamente fornecido. Com o apoio do professor destacado observou-se e destacou-se alguns aspetos da flora caraterística da região até se avistar a Chaminé magmática do Penedo do Lexim e a Disjunção prismática do Basalto. No cimo do Penedo foi referenciado a existência de Entretanto, lá em baixo, os alunos reparavam nos prismas dominantemente pentagonais da rocha identificando-se a sua textura e os minerais.

 

Neste local encontram-se registadas fases de ocupação de diversos períodos cronológicos desde o Neolítico (4000 antes de Cristo) até à época Romana, o seu património geológico, arqueológico e natural fundamenta a sua classificação como Imóvel de Interesse Público  desde 1982, e embora também seja classificado como Geossítio de relevância nacional pela ProGeo, atualmente, algumas incursões clandestinas de pessoas, conjuntamente com o processo de meteorização e erosão natural, gradualmente, o vão degradando.

 

 

Penedo do Lexim.

 

 

Penedo do Lexim

 

 

 

Todos esses locais visitados constituem valores ambientais, científicos, didáticos e pedagógicos que importa salvaguardar e valorizar. Numa altura em que os sistemas educativos estão a ser testados quanto às limitações financeiras, materiais e comportamentais e, por outro lado, a burocracia para a realização das saídas de campo constituem obstáculos à sua realização, a parceria entre a EPAL e a LPN torna-se fundamental possibilitando o incremento dessas ações de educação ambiental pelas Escolas.

 

A avaliação do Projeto Despertar para a Natureza da LPN, pelos alunos e professores demonstra inequivocamente, que a implementação das saídas de campo bem estruturadas, são uma excelente estratégia de ensino-aprendizagem, promovendo a melhoria do desempenho académico, responsabilidade, autonomia e espírito de grupo, como também a Cidadania Ambiental, indo ao encontro dos diversos Referenciais e Estratégias de Ambiente e Educação.

 

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