É tempo de marcar abutres-pretos!

Fotografia: Cria de abutre-preto na colónia do Douro Internacional. ©Palombar

 

 

As marcações com emissor GPS/GSM permitem obter informação fundamental para a conservação da espécie.

 

Em junho, as equipas LIFE Aegypius Return já marcaram três crias com emissor GPS/GSM, e mais se seguirão em breve. Monitorizar a reprodução da espécie e conhecer a idade das crias é essencial para os trabalhos.

 

De olhos postos nos abutres-pretos

Monitorizar a reprodução do abutre-preto (Aegypius monachus) é um trabalho complexo e exigente, que ocupa nove meses por ano. A construção do ninho e os acasalamentos começam aproximadamente em janeiro, e as crias só começam a voar aproximadamente em agosto ou setembro. Durante este longo período, e para se poderem calcular os parâmetros de reprodução – índices que permitem aferir o sucesso efetivo de cada época de reprodução – cada ninho é detalhadamente acompanhado. Os trabalhos seguem um protocolo que permite uma observação detalhada, mas que também garante a segurança das aves, evitando a sua perturbação.

 

Em cada ano, as equipas de monitorização registam os comportamentos nupciais, a incubação e a eclosão das crias, e acompanham o seu desenvolvimento. O mês de abril marca as primeiras eclosões, e segue-se um período de elevada sensibilidade, onde a perturbação do habitat ou um evento meteorológico mais adverso (como uma tempestade ou uma onda de calor) podem condicionar a sobrevivência dos pequenos abutres, totalmente dependentes dos pais. Cada casal de abutres-pretos põe apenas um ovo por postura, o que aumenta a vulnerabilidade da espécie.

 

 

Abutre-preto adulto e cria com cerca de 30 dias. Aves observadas a grande distância, com telescópio, para evitar a sua perturbação. © Eduardo Santos/LPN

 

 

Marcar para melhor conservar

Se tudo correr bem com o desenvolvimento das crias, com cerca de 80 a 90 dias já têm porte e robustez para serem marcadas, mas ainda não voam, o que possibilita uma aproximação segura ao ninho. A marcação consiste na colocação de anilhas identificativas e de um emissor GPS/GSM. Esta tecnologia regista os movimentos e os comportamentos de cada abutre marcado, o que permite compreender as necessidades ecológicas da espécie em termos de habitat, alimento e repouso, mas também conhecer as ameaças que enfrenta e os fatores de mortalidade. Ao detetarem uma pausa excessivamente prolongada ou um comportamento anómalo, as equipas que fazem a monitorização remota podem organizar uma operação de resgate e salvamento. Em caso de lesão, podem encaminhar o abutre para recuperação, ou, em caso de morte, investigar as causas e, de forma mais sustentada, combater os problemas.

 

Cada contacto com indivíduos desta espécie ainda relativamente rara no nosso país é também otimizado para recolher amostras biológicas, como sangue e penas. Este material é usado em diversos estudos (genéticos, toxicológicos, bioquímicos, entre outros), que permitem reforçar o conhecimento científico disponível sobre a espécie e, assim, ajudar a definir estratégias de conservação da espécie e tratamentos para a recuperação de cada indivíduo lesionado.

 

 

Anilhagem, marcação com emissor GPS/GSM e exame médico-veterinário de uma cria de abutre-preto. ©VCF

 

 

 

Mãos à obra

Em junho de 2025 foram marcadas três crias de abutre-preto com emissores GPS/GPS, num total de cinco crias anilhadas nas colónias do Douro Internacional, da Herdade da Contenda e de Vidigueira/Portel.

 

No próximo mês, os trabalhos irão prosseguir nas mesmas colónias, e, ainda, no Tejo Internacional.

 

Infelizmente, nem todas as crias podem ser marcadas, o que se prende com as limitações de orçamento e também com as dificuldades de acesso aos ninhos. Todos os trabalhos de subida aos ninhos, recolha de amostras, anilhagem e marcação são realizados por um número muito reduzido de técnicos altamente especializados e credenciados pelas autoridades de conservação da natureza.

 

 

 

 

Trabalhos de marcação, medição e recolha de amostras biológicas de uma cria de abutre-preto. ©VCF

 

 

 

Um trabalho de equipa

Em Portugal, conhecem-se atualmente cinco colónias reprodutoras de abutre-preto: Douro Internacional, Serra da Malcata, Tejo Internacional, Herdade da Contenda e Vidigueira/Portel. Todas as colónias são detalhadamente monitorizadas no âmbito do projeto LIFE Aegypius Return. Cerca de quatro décadas após a extinção da espécie em Portugal, em 2024, foram confirmados pelo menos 108 casais nidificantes, um resultado que trouxe muita esperança para a recuperação do abutre-preto no país.

 

Estes resultados só são possíveis graças à colaboração entre um vasto número de pessoas e entidades comprometidas com a conservação da natureza e do abutre-preto. Em particular, no que respeita à monitorização da reprodução do abutre-preto em Portugal, os parceiros LIFE Aegypius Return agradecem o apoio dos técnicos e vigilantes da natureza do ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas), da Rewilding Portugal e da Quercus.

 

 

 

Fotografias de grupo na Herdade do Monte da Ribeira (colónia de Vidigueira/Portel) (à esquerda) e Herdade da Contenda (à direita).

 

Para os trabalhos de marcação decorridos em junho, agradece-se o apoio e participação de:

  • Douro Internacional: parceiros Palombar, ICNF – Direção Regional do Norte, equipa veterinária do HV-UTAD (Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro).
  • Vidigueira/Portel: parceiros LPN (Liga para a Protecção da Natureza) e VCF (Vulture Conservation Foundation), Herdade do Monte da Ribeira - Eng.ª Mariana Carmona e António Aleixo, ICNF, Rogério Cangarato, Jade Gava (École Nationale Vétérinaire de Toulouse), Carlos Pacheco.
  • Herdade da Contenda: parceiros LPN, VCF, Herdade da Contenda e GNR (Guarda Nacional Republicana) – Comando Territorial de Beja e Destacamento Territorial de Moura, ICNF – Direção Regional do Alentejo, Maria Dias (LPN e Universidade de Lisboa), Pinto Moreira, José Figueira, Vânia e Rodrigo Marujo, Joana Rocha, Jade Gava, Carlos Pacheco.

 

 

 

 

 

 

O projeto LIFE Aegypius Return é cofinanciado pelo programa LIFE da União Europeia. O seu sucesso depende do envolvimento de todos os stakeholders relevantes, e da colaboração dos parceiros, a Vulture Conservation Foundation (VCF), beneficiário coordenador, e os parceiros locais Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, Herdade da Contenda, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Liga para a Protecção da Natureza, Associação Transumância e Natureza, Fundación Naturaleza y Hombre, Guarda Nacional Republicana e Associação Nacional de Proprietários Rurais e Associação Nacional de Proprietários Rurais Gestão Cinegética e Biodiversidade.

 

 

Subscreva a
nossa Newsletter

Se deseja receber informação atualizada sobre a LPN, por favor insira o seu email:

© 2018 Liga para a Protecção da Natureza.

Powered by bluesoft.pt