Ecologia entre marés - Biogeodiversidade e a problemática do lixo marinho

Sabiam que na Área Marinha Protegidas das Avencas (AMPA), 1ª área marinha protegida local do país, existem pegadas de dinossauros?

 

Que a praia das Avencas deve o seu nome a uma planta medicinal – a avenca?

 

Que na praia da Bafureira se encontra âmbar e existem vários afloramentos que merecem ser observados com detalhe, zonas com fósseis, com carvão e pirite, que ajudam a compreender a evolução paleogeográfica das formações que afloram no concelho de Cascais?

 

Que existem 137 espécies na AMPA, entre peixes, algas e invertebrados que os cientistas estão a monitorizar?

 

Que os resultados de acordo com o Plano Estratégico de Alterações Climáticas do Concelho de Cascais indicam que, durante este século, a região de Cascais vai aquecer e a precipitação reduzir‐se significativamente, embora com intensidade diversa, conforme os cenários?

 

Essas e outras questões, foram analisadas no âmbito de uma ação de Formação para professores e cidadãos interessados, promovida pela LPN na Área Marinha Protegida das Avencas que reúne uma rica em geodiversidade e biodiversidade. No entanto, esta também é uma área muito frágil, não só por estar sujeita a fatores físicos mas principalmente por estar sujeita a uma grande pressão humana.  

 

A ação de formação com o tíitulo de Ecologia entre Marés, teve como objetivo conhecer a geobiodiversidade da plataforma rochosa de Cascais, em particular da AMPA - Área Marinha Protegida das Avencas, as ameaças resultantes das atividades antrópicas da faixa litoral, de partilhar informações, conhecimento científico e soluções sobre a problemática do lixo marinho, com sugestões práticas para um envolvimento ativo de todos.

 

A ação que contou com a participação da formadora – técnica da LPN – Rita Alves e de Jorge Fernandes professor destacado na LPN, decorreu em dois módulos de formação. No primeiro módulo realizado em regime online, efetuou-se uma abordagem introdutória de caraterização ambiental da zona costeira da Plataforma rochosa de Cascais, especialmente da AMPA, da zonação dos andares litorais, das pressões naturais e antrópicas do litoral e da problemática do lixo marinho.

 

Face a existir uma integração entre a geodiversidade e a biodiversidade, após a caraterização da Geologia do concelho de Cascais, onde as grandes lages calcárias e os filões basálticos são o substrato da enorme biodiversidade da Área Marinha Protegida das Avencas, caraterizou-se as principais espécies da flora e fauna da zonação intertidal. 

 

Analisou-se também a evolução das praias de Cascais ao longo de um século, com base em indicadores de evolução Geodinâmica das praias e arribas, de acordo com o Plano Estratégico de Cascais face às Alterações Climáticas.

 

O impacte da problemática do lixo marinho foi também analisado, tendo a formadora Rita Alves, divulgado o projeto da LPN – Mares Circulares – uma iniciativa ibérica de preservação dos oceanos, lançada pela Coca Cola European Partners (CCEP), que conta com várias entidades parceiras e que a LPN coordena. O Projeto tem como objetivo incentivar a economia circular, a sensibilização e formação ambiental para a gestão de resíduos e a promoção da cidadania ativa ao nível do voluntariado estando as candidaturas abertas para a 2ª Edição do Concurso Mares Circulares nas Escolas, para o ano letivo 2021/2022.

 

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 800 espécies que vivem em diferentes locais do planeta são afetadas por detritos marinhos, e 80% desses resíduos são formados por plásticos que “irão dos oceanos para os nossos pratos”. Nas recolhas efetuadas nas praias em Portugal, a formadora Rita Alves mencionou os três tipos de resíduos mais encontrados, de acordo com os dados da APA, são respetivamente, de beatas e filtros de cigarros, seguido de fragmentos de plástico de 0 a 2,5cm e fragmentos de esferovite de 0 a 2,5cm.

 

Após a sessão online de enquadramento da Plataforma de Cascais partimos à descoberta da rica geodiversidade e biodiversidade, percorrendo os trilhos de visitação delimitados pela AMPA. com um percurso durante a maré-baixa, ao longo da zona costeira entre a praia da Bafureira e a praia das Avencas.

 

Após uma introdução por parte da formadora Rita Alves e do professor destacado na LPN- Jorge Fernandes, no parque de estacionamento da praia das Avencas, antes de nos dirigirmos à praia, alertou-se para as normas de visitação e pisoteio decorrentes da regulamentação da AMPA, tendo em vista a manutenção da biodiversidade.

 

Seguidamente, a formadora Rita Alves, explicou como estava dividida a zona entre marés, demonstrando que devido a essa zona ser um ambiente de transição que apresenta um gradiente bastante acentuado das condições ambientais, vai determinar a colonização e distribuição dos seres vivos. Possibilitando observar-se a grande variação das adaptações morfológicas e comportamentais singulares dos organismos.

 

 

Observação dos organismos da zona de entre-marés.

 

 

 

Observação das lages calcárias com bioturbação (perturbação de estrutura sedimentar por ação de organismos vivos). Fotografia de Rui Farinha.

 

 

Observação do caranguejo-eremita, bernardo-eremita, paguro, casa alugada. Fotografia de Rui Farinha.

 

 

Balanus sp, Chathamalus sp. (Cracas) e Patella rustica (Lapa).

 

Por outro lado, permitiu constatar-se a influência da geodiversidade como condicionante da colonização dos seres vivos, de alguns aspetos curiosos geológicos, como sejam a presença de variados fósseis e estruturas geológicas, indicadores de diferentes paleoambientes de deposição.  

 

 

Fósseis (somatofósseis) de ostraídeos.

 

 

Carvão (material vegetal incarbonizado), testemunhando uma deposição em ambiente redutor (pouco oxigenado). Praia da Bafureira.

 

 

Zona de Falha principal pondo em contacto as rochas de idade do Albiano - Cenomaniano com rochas mais antigas do Aptiano na praia da Bafureira. Fotografia de Rui Farinha.

 

 

Para além da observação dos povoamentos da flora e fauna do Intertidal, o professor destacado – Jorge Fernandes caraterizou “in situ”, algumas das ameaças associadas à atividade antrópica nas zonas costeiras, em particular da Plataforma de Cascais.

 

 

Muros de contenção em mau estado. Existência de falha nos calcários nodulares cortados por um filão eruptivo.

 

 

Observação da arriba nascente da Praia da Bafureira. Risco de queda de blocos – fenómenos naturais resultantes da meteorização e erosão mas que podem ser agravados pela ação humana nas zonas litorais (exemplo:construção de estradas, saneamento, edificações).

 

 

A zona litoral, nomeadamente, a Plataforma de Cascais com o seu excecional valor paisagístico, constitui uma zona privilegiada para o estudo das relações entre os fatores bióticos e abióticos, para além de permitir também, constatar-se os efeitos decorrentes do crescimento económico e da pressão humana. Por isso, a realização de saídas de campo pelos professores com os seus alunos, nas zonas de entre-marés, constitui um laboratório natural, um espaço pedagógico de excelência.

 

Esse foi o objetivo da realização desta ação de formação, de sensibilizar os professores para a realização de saídas de campo nas zonas intertidais, mas também de sensibilizar a população na promoção de uma cidadania ativa, por forma a se construir uma visão crítica, que implique uma governação sustentada no bem público.

 

 

Caminhando na transição entre ambientes geológicos diferentes.

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