Educar para a Geoconservação em Setúbal

A LPN dinamizou uma ação de saída de campo intitulada “Biodiversidade e Geodiversidade é da nossa responsabilidade!”, que contou com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal, da Associação da Baía de Setúbal e do Mares Circulares, no terceiro período letivo com os alunos do 11º ano da Escola Secundária Lima de Freitas – Setúbal, no âmbito do Programa Bandeira Azul 2023.

 

Com o objetivo de conhecer o património geológico e de conhecer para melhor preservar, fomos ao encontro da Geologia divulgando a Geodiversidade de Setúbal com os alunos e professores, efetuando paragens em locais de excecional valor natural e cultural.

 

O território do município de Setúbal é particularmente rico e variado do ponto de vista geológico, contemplando diversos fenómenos geológicos representativos da evolução da Terra.

 

A Geodiversidade de Setúbal é parte integrante da cultura humana tendo como exemplos mais evidentes a Brecha da Arrábida, que recentemente foi classificada com “Pedra Património Mundial” - (Heritage Stone) pela UNESCO e que foi explorada na Arrábida, o calcário Lioz, existente nas fachadas e edifícios da cidade, ou o Geomonumento da Pedra Furada, classificado como bem de Interesse Público.

 

A primeira paragem foi o Geomonumento da Pedra Furada, onde o professor destacado na LPN, Jorge Fernandes, com a colaboração das professoras acompanhantes, muito conhecedoras da região e do seu património natural, realçou a importância de se preservar este Geomonumento, Segundo o professor Galopim de Carvalho, antigo diretor do Museu Mineralógico e Geológico da Faculdade de Ciências de Lisboa e do Museu Nacional de História Natural - a Pedra Furada é uma formação rochosa de características únicas e peculiares, “sobre a qual ainda não se sabe muita coisa sobre a sua origem e que é preciso estudar”.

 

O que se sabe sobre a Pedra Furada é que se trata de um rochedo ferruginoso, sendo uma formação rara no mundo, e só na Califórnia existe algo semelhante. A particularidade da Pedra Furada é a sua constituição de areia consolidada com ferro, através de estruturas tubulares, enquanto que a formação rochosa descoberta nos Estados Unidos teve o calcário como elemento endurecedor. Fenómeno geológico de valor excecional, a Pedra Furada tem sido, desde os tempos remotos, objeto de curiosidade, associado a lendas e mitos.

Seguidamente, dirigimo-nos ao Convento de Jesus que, para além do seu valor artístico, histórico e monumental, sobressaem facilmente os materiais geológicos utilizados na sua construção e ao seu redor.

 

No seu portal, na capela-mor, na pia batismal e mesmo no exterior do Convento de Jesus destaca-se a diversidade de cores da Brecha da Arrábida, utilizada em diversas obras emblemáticas, especialmente no séc. XVI, no período manuelino e apreciada ao longo da história.

 

Para além da observação e descrição da brecha da Arrábida, salientou-se a presença de outras rochas ornamentais, como por exemplo os calcários de Liós, provenientes da região de Sintra e onde se destacam vários fósseis de Rudistas (grupo de bivalves extinto com aspeto muito diferente dos atuais e que viveram no fim do período Cretácico, na mesma altura em que se extinguiram os dinossauros) e de calcários provenientes da Serra de Aire e Candeeiros com amonites (animais cefalópodes do período Jurássico).

 

Observação da descrição e constituição da Brecha da Arrábida junto ao Convento de Jesus. Foto: Teresa Ribeiro.

 

 

Brecha da Arrábida junto ao Convento de Jesus. Foto: Teresa Ribeiro.

 

 

 

Atentamente, os alunos iam recolhendo apontamentos e, após a visita ao interior do Convento de Jesus, o destino seguinte era a cadeia da Arrábida, onde os alunos iriam observar uma das pedreiras que constituiu a matéria-prima para a construção desse e outros monumentos do país e do exterior.

 

 Com uma breve paragem na zona da Comenda para observação dos conglomerados locais, lá fomos em direção à paragem da Pedreira do Jaspe na serra mágica da Arrábida, onde a paisagem é fonte de poesia. Junto à Mata do Solitário, uma área de proteção total que testemunha as matas mediterrânicas de há muitos milhares de anos, antes das Glaciações, avistávamos a serra do Risco - a falésia calcária mais alta da Europa, descrita por Sebastião da Gama como o “fóssil de uma onda”.  

 

Ao longo do percurso o professor Jorge Fernandes descreveu a história da LPN indissociavelmente ligada à Arrábida, bem como a sua missão, e os seus projetos de conservação da Natureza.

 

Nessa paragem realizou-se um pequeno percurso pedestre, por trilho fácil e densa vegetação autóctone, até se chegar a uma pequena pedreira, com duas frentes de desmonte, desativadas. – Pedreira do Jaspe.

 

Junto à Pedreira do Jaspe, através da carta geológica fez-se um enquadramento da Geologia, do tipo de vegetação e ecossistema, e uma apresentação da história do local onde a pedreira se encontra, com destaque pelo papel que a LPN teve na proteção da Mata do Solitário e da formação do Parque Natural da Arrábida, salientando-se que atualmente, as ameaças à conservação  ambiental se mantêm. Tal é o exemplo da proposta de ampliação das pedreiras da SECIL na Arrábida, que não respeita as regras do Parque Natural, pondo em causa a sustentabilidade ambiental, e à qual a LPN já se pronunciou solicitando um plano  de desativação  através de uma carta-aberta pedindo fim definitivo da sua atividade.

 

 

Descrição da paisagem e geomorfologia da região com vista para a Serra do Risco e utilização dos painéis informativos. Foto: Teresa Ribeiro.

 

 

Enquadramento da Geologia através da carta geológica junto à Pedreira do Jaspe. Foto: Teresa Ribeiro.

 

 

 

De seguida, foi efetuado um teste numa amostra de brecha da reação que o calcário faz com o ácido clorídrico comprovando que os clastos da brecha são de calcário, e uma esquematização dos episódios de rifting e do levantamento da serra da Arrábida. A Pedreira do Jaspe apresenta uma grande relevância científica e pedagógica que importa preservar e valorizar onde segundo o professor Carlos Kulberg, ao longo dos séculos XIX e XX, esta rocha e a formação geológica em que se insere, foram alvo de inúmeros trabalhos científicos. Os mais recentes destacam a sus relevância no contexto das fases iniciais da abertura do Atlântico Norte durante os períodos Jurássico e Cretácico.

 

 

 

 

 

Em suma, esta viagem pelo tempo geológico contou uma excelente participação dos alunos. Sempre atentos e interventivos, os alunos com a colaboração dos professores foram um exemplo que poderemos ter confiança nas novas gerações, permitindo que os conteúdos estudados em sala de aula fossem aplicados de modo a conhecer melhor a geodiversidade de Setúbal. Através da observação direta e conhecimento dos locais realizados possibilita o objetivo de se ter uma participação consciente e informada da Conservação da Natureza, nomeadamente na defesa e valorização do Património Geológico.

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