Em Castro Verde, promove-se a adaptação às alterações climáticas através da manutenção de linhas água

Fotografia: António Folgado

Entre o final de setembro e novembro de 2021 realizou-se o desassoreamento dos pegos na Ribeira da Chada numa barragem das Reservas da Biodiversidade da LPN em Castro Verde onde têm vindo a decorrer importantes projetos de conservação da Natureza dirigidos às aves estepárias.

Na Ribeira da Chada foram limpos 4 pegos, numa extensão total com 350 metros de ribeira e cerca de 2000 m² de área. Foram removidas 1200 toneladas de sedimento destes 4 pegos. A remoção de sedimentos foi efetuada apenas no leito da ribeira, de forma a preservar a vegetação existente nas margens e, assim, evitar situações de erosão. O sedimento removido foi colocado junto de uma barragem existente nesta propriedade, para que funcionem como marouços (tocas) para coelhos. O local escolhido para a deposição do sedimento teve em consideração a proximidade a um local com água para abeberamento do coelho-bravo, mas que evite o assoreamento de linhas de água. Com esta medida adicional pretendeu-se contribuir para aumentar a abundância de presas e contribuir para reduzir o impacte da predação natural nas aves estepárias.

Foi também efetuado o desassoreamento da barragem existente na Herdade da Chada, numa área com cerca de 3900 m² tendo sido removidas 1400 toneladas de sedimento. O sedimento removido foi usado para reforçar a parede de suporte da barragem e espalhado na superfície agrícola.

As aves estepárias são muito vulneráveis às alterações climáticas, em particular ao aumento da frequência de secas, pois estas afetam a qualidade do habitat tanto durante a época reprodutora como pós-reprodutora.

As situações de seca alteram a estrutura do coberto vegetal (tanto das pastagens naturais como das searas), tanto em percentagem de cobertura como em altura da vegetação, reduzindo a adequabilidade do habitat de nidificação para as aves que nidificam no solo. Acresce a redução substancial e alimento que se acentua durante a época pós-reprodutora, ou seja, no verão, o que tem impactes na sobrevivência dos juvenis nascidos durante a primavera.

As ações de desassoreamento permitem aumentar a disponibilidade de água para a fauna no verão. Desta forma, o período de permanência da água irá aumentar, prolongando-se até ao final da primavera e verão. A disponibilidade de água durante o verão é um factor crítico para assegurar a sobrevivência dos juvenis de abetarda, bem como, de outra fauna estepária, como o cortiçol-de-barriga-negra.

A ação de remoção de sedimento em pegos de verão nas ribeiras e em pequenas barragens está inscrita no objetivo de a resiliência dos ecossistemas e a adaptação às alterações climáticas com soluções baseadas na natureza, patente no projeto de Promoção da conservação das aves estepárias em Castro Verde (Aves das Estepes), financiado pela Associação VIRIDIA - Conservation in Action.