Época de reprodução do abutre-preto com resultados promissores

Durante o mês de julho, os parceiros do projeto LIFE Aegypius Return procederam à marcação de 15 crias de abutre-preto (Aegypius monachus), nas quatro colónias do país. A informação recolhida vai ser um enorme contributo para a recuperação da espécie em Portugal, que se pretende que duplique até ao final de 2027, permitindo assim alterar o seu estatuto de conservação de “Criticamente em Perigo” para “Em Perigo”.

Monitorização da época de reprodução do abutre-preto

O acompanhamento desta época de reprodução foi cuidadosamente preparado desde o início do ano, garantindo que todas as colónias do país recebiam a devida monitorização. As equipas de projeto estão em campo desde fevereiro, acompanhando cada ninho conhecido, detetando novos ninhos e prospetando também áreas de expansão das colónias e potenciais novas áreas de assentamento da espécie.

Os parceiros do projeto, junto com outras organizações não governamentais de ambiente e o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) irão conseguir estabelecer uma nova situação de referência para a espécie, que até recentemente contava com cerca de 40 casais reprodutores no país. A monitorização detalhada de cada colónia permite às equipas perceber quantos casais se tentaram reproduzir, quantos conseguiram ter uma postura e quantas crias efetivamente nasceram. Posteriormente, será também possível averiguar o sucesso reprodutor da espécie, isto é, aferir quantas crias se tornaram independentes e integraram a população.

Resultados promissores para o futuro da espécie em Portugal

O trabalho conjunto na monitorização da espécie já devolveu resultados muito promissores, que demonstram a importância da colaboração interinstitucional e da união de esforços para a conservação do abutre-preto em Portugal. Houve considerável aumento do número de ninhos conhecidos e ocupados por casais reprodutores e foi detetado um maior número de casais reprodutores em todas as colónias.

A época de reprodução do abutre-preto está agora numa das fases mais sensíveis, com as crias já nascidas, mas ainda totalmente dependentes dos progenitores. Nesta fase, a vigilância incide sobre a sobrevivência das crias e o evitamento de qualquer fonte de perturbação dos ninhos. Os dados desta época de reprodução serão divulgados assim que esta fase sensível, bem como o respetivo trabalho de monitorização, terminem.

A monitorização permite ainda estimar a idade de cada cria, parâmetro fundamental para que estas possam ser marcadas. A marcação envolve a captura das crias ainda no ninho, que é construído no topo de árvores. As crias são trazidas para o solo, onde são analisadas e marcadas, e posteriormente devolvidas ao ninho. Toda esta metodologia requer pessoal devidamente acreditado pelo ICNF, mas também experientes escaladores em altura!

15 crias de abutre-preto marcadas com emissores de GPS

Nas últimas semanas, as equipas de projeto estiveram ocupadas com a importante tarefa de marcar aves em cada colónia. No Parque Natural do Douro Internacional, a colónia mais frágil e limítrofe, foram marcadas duas crias. Na Serra da Malcata, a evolução da colónia face aos anos anteriores permitiu marcar quatro crias. No Tejo Internacional, onde está a maior colónia do país e onde a espécie voltou a nidificar pela primeira vez em Portugal, em 2010, depois de se ter extinguido como reprodutora na década de 1970, foram marcadas com emissor GPS seis de um total de 12 crias anilhadas e processadas. Por fim, na Herdade da Contenda no Alentejo, a colónia mais a sul, foram marcadas três crias adicionais. Quando as 15 crias marcadas abandonarem o ninho, será possível acompanhar em tempo real os seus movimentos e agir rapidamente, em caso de alguma se encontrar em situação de risco.

Uma das crias do Tejo Internacional apresentava uma protuberância junto a um dos olhos, tendo sido encaminhada para o Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens (CERAS), em Castelo Branco, onde a protuberância foi cirurgicamente extraída e a ave se manterá até estar plenamente recuperada. Também este episódio demonstra a importância da colaboração entre várias entidades e da articulação interdisciplinar.

Duplicar a população de abutre-preto em Portugal: o projeto LIFE Aegypius Return

O projeto LIFE Aegypius Return pretende consolidar e acelerar o regresso do abutre-preto em Portugal e Espanha ocidental, através da melhoria de habitat e da disponibilidade alimentar, e da minimização das principais ameaças com ações de capacitação das entidades e agentes nacionais. Um esforço conjunto das nove entidades parceiras do projeto, que contam com a colaboração de várias entidades essenciais para a implementação de ações de conservação específicas em dez áreas Natura 2000 ao longo de quase toda a fronteira entre Portugal e Espanha. O projeto pretende duplicar a população de abutre-preto em Portugal para 80 casais em 5 colónias e, assim, baixar o estatuto nacional da espécie de ”Criticamente Em Perigo” para ”Em Perigo” até 2027.

Agradecimentos aos profissionais e entidades envolvidos na marcação das crias de abutre-preto

O trabalho efetuado até agora demonstra que a conservação da natureza é tão mais eficaz quanto maior a cooperação entre áreas de saber e instituições. Os trabalhos de marcação requereram uma grande articulação entre parceiros de projeto, entidades cooperantes e as autoridades, numa aturada congregação de esforços entre biólogos, médicos veterinários e outros profissionais de um vasto leque de entidades, a quem são devidos agradecimentos.

DOURO INTERNACIONAL

Patricia Mateo-Tomás, María Fernández García e equipa da Universidade de Oviedo; Javier de la Puente, especialista em conservação de aves e colaborador da Palombar; Jose Francisco Pedreño, Dirección General de Emergencias - Cuerpo de Agentes Forestales de la Comunidad de Madrid; Divisão de Áreas Classificadas e Vigilantes da Natureza do ICNF - Direção Regional da Conservação da Natureza e Florestas (DRCNF) do Norte; equipa veterinária do Centro de Recuperação de Animais Selvagens do Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (CRAS-HVUTAD) e do Centro de Interpretação Ambiental e Recuperação Animal (CIARA); e aos parceiros Palombar, Liga para a Protecção da Natureza (LPN), Associação Transumância e Natureza (ATNatureza) e GNR/SEPNA (Comando Territorial de Torre de Moncorvo); Viridia – Conservation in Action pelo cofinanciamento das ações no Douro Internacional.

MALCATA

Carlos Pacheco, Filippo Guidantoni, Vigilantes da Natureza e ICNF – DRCNF Centro; Rewilding Portugal; parceiros ATNatureza, LPN e GNR/SEPNA (Comando Territorial da Guarda).

TEJO INTERNACIONAL

Alfonso Godino, Hawk Mountain Sanctuary e Departamento de Toxicologia da Faculdade de Veterinária da Universidade de Múrcia (Espanha), com o apoio de Endesa; Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza e equipa do Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens de Castelo Branco (CERAS); Vigilantes da Natureza e ICNF – DRCNF Centro e parceiros Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), LPN e GNR (Núcleo de Proteção Ambiental da GNR de Idanha-a-Nova, Comando Territorial da GNR de Castelo Branco).

HERDADE DA CONTENDA

Carlos Pacheco, Vigilantes da Natureza e ICNF – DRCNF Alentejo; parceiros Herdade da Contenda, LPN, Vulture Conservation Foundation (VCF), Palombar e GNR/SEPNA (Núcleo de Proteção Ambiental da GNR de Moura, Comando Distrital da GNR de Beja).

Sobre o projeto LIFE Aegypius Return  

O projeto LIFE Aegypius Return pretende consolidar e acelerar o regresso do Abutre-preto em Portugal e Espanha ocidental, através da melhoria de habitat e da disponibilidade alimentar, e da minimização das principais ameaças com ações de capacitação das entidades e agentes nacionais. A equipa do projeto vai implementar ações de conservação específicas em dez áreas Natura 2000 ao longo de quase toda a fronteira entre Portugal e Espanha, com o objetivo de duplicar a população de Abutres-preto em Portugal para 80 casais em 5 colónias e, assim, baixar o estatuto nacional da espécie de ”Criticamente Em Perigo” para ”Em Perigo” até 2027. 

O projeto LIFE Aegypius Return é confinanciado pelo programa LIFE da União Europeia. O seu sucesso depende do envolvimento de todos os stakeholders relevantes, e da colaboração dos parceiros, a Vulture Conservation Foundation (VCF), coordenador beneficiário, e os parceiros locais Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, Herdade da Contenda, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Liga para a Protecção da Natureza, Associação Transumância e Natureza, Fundación Naturaleza y Hombre, Guarda Nacional Republicana e e Associação Nacional de Proprietários Rurais Gestão Cinegética e Biodiversidade.   