Face ao aumento da população urbana e de vivermos numa sociedade cada vez mais tecnológica e digital, as interações com a natureza, mediadas pelo conhecimento, são fundamentais para se ter uma maior reconexão com a complexidade da natureza e dinâmica da biodiversidade.
A LPN através das suas ações de formação procura desenvolver diferentes estratégias e metodologias para a realização das saídas de campo, proporcionando diversas experiências na natureza, refletindo e integrando o contexto sociocultural em que vivemos, nomeadamente, por exemplo, incorporando as tecnologias móveis nas saídas de campo e refletindo suas implicações na Educação Ambiental.
Através do seu Centro de Formação, a LPN tem organizado diversas ações de formação, estimulando a organização através dos professores. de saídas de campo e de atividades ao ar livre com os seus alunos, propiciando diversas experiências em meios mais naturais com o objetivo de dar a conhecer a complexidade e funcionamento dos sistemas naturais, aproximando os cidadãos à natureza.
São inúmeros os benefícios das saídas de campo e de atividades ao ar livre, que quando bem estruturadas e planeadas (de acordo com diversas investigações educativas e científicas) contribuem para o desenvolvimento pessoal e social dos alunos, melhoria da eficácia da aprendizagem e aumento de comportamentos pró-ambientais.
Nesse âmbito, no passado mês de outubro, a LPN desenvolveu uma ação de formação para professores, aberta a cidadãos interessados na Mata Nacional dos Medos - Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica. Dando a conhecer uma série de potencialidades que poderão ser desenvolvidas pelos professores, recorreu-se às tecnologias móveis, discutindo-se o seu impacto nas práticas pedagógicas de atividades ao ar livre e saídas de campo.
Embora não seja possível estimar um número exato da utilização dos smartphones em Portugal por crianças e jovens dos 9 aos 17 anos, num estudo realizado por Ponte e Batista (2019), cerca de 90% utilizavam todos os dias o smartphone e 45% utilizavam-no mais de duas horas por dia em videojogos ou na utilização das redes sociais mais de seis horas por dia (Carapinha et al, 2022). Vivemos numa sociedade digital e a esfera do não digital na sociedade ocidental é já praticamente inexistente sendo que os smartphones quando utilizados de forma responsável podem fornecer recursos educativos valiosos melhorando a acessibilidade dos conteúdos científicos e educativos.
Sabendo que a maior parte da população urbana em Portugal tem acesso às tecnologias móveis e que são parte da vida dos adolescentes, porque não utilizar os smartphones como um recurso educativo em saídas de campo?
Assim, nesta ação os participantes percorreram um itinerário nos passadiços da Mata dos Medos e tiveram alguns desafios, com questões sobre a Geodiversidade, Biodiversidade, Geografia e História recorrendo às tecnologias digitais com os smartphones ligados aos recetores de GPS gravando o seu percurso, identificando algumas espécies e descrevendo as suas observações.
Após uma introdução efetuada às potencialidades de algumas aplicações móveis para as saídas de campo, os formandos iniciaram um percurso pedestre pelos passadiços da Mata Nacional dos Medos rodeados pelo arvoredo, em direção a três miradouros – Zimbral- Cavalo e Raposa que oferecem vistas deslumbrantes e panorâmicas sobre a costa e o oceano.
Os formadores optaram por desenvolver uma atividade com uma metodologia mista, uma experiência integrando uma componente de autonomia e outra orientada, dividindo em duas partes o percurso pedestre. Na primeira parte da ação, os formandos dividiram-se em grupos e efetuaram um percurso definido de forma autónoma, respondendo a questões e desafios com a utilização das tecnologias móveis. Simultaneamente, com as aplicações móveis de navegação outdoor de georreferenciação iam conhecendo o trilho, gravando-o, com riqueza de detalhes, anotando as descrições do que observavam e registando através de fotos e vídeos.
Figura 1 – Gravação de parte do percurso na aplicação Wikiloc.
Na primeira parte/metade do percurso, selecionaram-se alguns aspetos da biodiversidade e geodiversidade recorrendo-se à informação já existente nos painéis informativos do ICNF e de alguns QR Code instalados pelos formadores, em locais pré-definidos, (posteriormente removidos por estarem numa zona classificada como Reserva Botânica após indicação e autorização para o efeito) que reuniam informação relevante sobre a Arriba Fóssil da Costa da Caparica e Mata dos Medos, salientando a sua importância e caraterísticas.
Espécies prioritárias da Diretiva Habitats (Diretiva 92/43/CEE).
Armeria do Sado (Armeria rouyana)
Figura 2 - Exemplo de informação de um QR Code instalado especificamente para a ação de formação na Mata Nacional dos Medos
Planta com flor pertencente à família Plumbaginaceae.
É uma planta muito especial: ocorre apenas numa estreita faixa junto ao litoral, desde a região costeira a sul do Tejo até próximo do Rio Mira, e em mais nenhum lugar do mundo. Planta endémica. Entre abril e junho, a arméria-do-sado dá uma linda flor cor-de-rosa. Está a sofrer um declínio preocupante devido à redução de habitat disponível e à competição com espécies exóticas invasoras. Espécie protegida pelo Anexo II (espécie prioritária) e IV da Directiva Habitats. Fonte: https://spea.pt/ja-viu-esta-planta-noutro-lado-visita-qr-code-lagoa-pequena/
Posteriormente, na segunda metade do percurso, no local de encontro junto a um dos miradouros, recorreu-se a uma estratégia mais orientada e guiada pelos formadores na qual se tiraram algumas dúvidas/esclarecimentos e se caraterizou a Arriba Fóssil da Costa da Caparica-Mata Nacional dos Medos destacando-se a importância da sua Conservação.
Como a atividade na primeira parte do percurso foi em grande parte realizada de forma autónoma era aconselhável ter-se um feedback dos participantes. Assim, para além das questões/desafios (colocadas no questionário em formato googleforms), os participantes foram convidados à realização de selfies juntamente com o que observaram e identificaram.
O Questionário pretendia não ter só questões relacionadas com a Biodiversidade, Geodiversidade, Geografia e História do local, mas abordar também alguns aspetos relacionados com a dimensão da experiência, auscultando a opinião por parte dos participantes, como por exemplo, o que achavam da implementação dos passadiços no local, ou sobre a utilização das tecnologias móveis nas saídas de campo.
Da análise dos resultados efetuada verificou-se que os formandos consideraram serem favoráveis á existência dos passadiços na Mata Nacional dos Medos, não obstante terem mencionado algumas desvantagens. Relativamente às opiniões sobre o que os formandos pensavam acerca da utilização das tecnologias móveis na saída de campo, de um modo geral, consideraram que são ferramentas úteis, mas que deverão ser usadas com ponderação. Essas opiniões vêm ao encontro das investigações que mencionam que a tecnologia digital pode melhorar a experiência de presença em saídas de campo e programas de ar livre, dependendo da forma como essa tecnologia é utilizada e da forma como é gerida (Hills, D., Kraalingen, I., Thomas, G. 2023).
Dar a conhecer uma maior gama de estratégias de educação na natureza, nomeadamente, recorrendo-se às tecnologias móveis foi o objetivo da ação de formação, sugerindo-se que essas tecnologias, quando bem geridas e utilizadas, beneficiam a eficácia das aprendizagens, mas também, eventualmente, uma dimensão nova experiencial com a Natureza que importa ser investigada.
Face aos múltiplos benefícios que as saídas de campo e atividades ao ar livre, bem estruturadas e planeadas têm, será desejável que a sociedade em Portugal incorpore de uma forma séria, regular e contínua a sua realização. Não se trata de um mero contacto com a natureza, de um passeio, mas sim de uma experiência. A experiência significa que deve mudar as pessoas de forma que possa em última análise, ser integrada na identidade individual (Clayton et al. (2016).
As ações de formação da LPN têm assim como finalidade propiciar experiências integradas e compartilhadas capacitando os professores e as pessoas para uma participação coletiva na proteção da natureza
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