Fotografia: Primeira cria de abutre-preto marcada na Herdade da Contenda, no ano em que a espécie voltou a reproduzir-se no Alentejo (ano de 2015), a praticar exercícios de voo antes da saída do ninho
Num trabalho de colaboração entre a Herdade da Contenda, a Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e a Vulture Conservation Foundation (VCF), foram anilhadas este ano 3 crias de abutre-preto em Moura, no Alentejo.
Na Herdade da Contenda ocorre uma das principais colónias portuguesas de abutre-preto. Em 2015, ao fim de mais de 40 anos, nasceu ali a primeira cria de abutre-preto no Alentejo. Esse foi um dos resultados do esforço pela conservação e recuperação da espécie na região, iniciado em 2010 com o projeto LIFE Habitat Lince Abutre, liderado pela LPN. Hoje, a colónia, estimada em pelo menos 10 casais reprodutores, é a segunda maior do país.
O trabalho de monitorização dos ninhos e dos casais tem início logo no final do inverno, com a identificação dos ninhos ocupados e de novos ninhos naturais.
O abutre-preto tem um período reprodutor longo, que dura quase 9 meses por ano, começando em finais de janeiro com a construção ou arranjo dos ninhos de anos anteriores, normalmente localizados em árvores de grande porte, em encostas com nenhuma ou reduzida perturbação humana. A fêmea faz uma postura por ano, entre fevereiro e abril, sendo esta quase sempre composta por um único ovo.
Este ano, no final de fevereiro quase todos os casais desta colónia estavam já na fase de incubação e no início de agosto as crias marcadas preparavam-se para a saída do ninho, treinando os seus primeiros voos.
O número de casais manteve-se estável em relação ao ano anterior. Contudo, e apesar de se terem registado 9 incubações, as crias voadoras reduziram de 7 para 3, um número bastante inferior a 2021. A esta baixa produtividade estão associadas causas como o colapso de ninhos, picos de calor em maio (altura em que as crias já nascidas se apresentavam ainda muito vulneráveis) e outras não conhecidas.
As 3 crias voadoras, 2 fêmeas e 1 macho, foram marcadas no passado mês de julho com anilhas metálicas (fornecidas pelo CEMPA/ICNF), anilhas coloridas (que permitem identificação dos animais à distância, com recurso a telescópio) e emissores de GPS/GSM cedidos pela VCF.
Estas formas de monitorização constituem-se métodos particularmente relevantes para espécies de aves ameaçadas, como o abutre-preto, pois permitem acompanhar os seus movimentos numa base diária e assim compreender vários aspetos da sua ecologia, bem como identificar com maior eficácia causas de mortalidade.
Para além das aves marcadas, foi ainda possível resgatar uma cria que se encontrava no chão, debaixo do ninho, com sinais de desidratação e lesões. Depois de estabilizado, o ainda jovem abutre-preto foi encaminhado para o Centro de Recuperação de Animais Silvestres do Parque Florestal de Monsanto (LxCRAS), por parte do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF, Direção Regional do Alentejo), onde se encontra atualmente em recuperação.
Fotografias de Francisco Pinto Moreira.
Os nomes escolhidos para as crias recentemente marcadas estão entre os mais votados pelo público, através de uma Votação Online que o município promoveu em 2020, mas que ainda não tinham sido atribuídos - Moura e Safara (no caso das fêmeas), e Santo Aleixo.
No início do outono, esperamos poder testemunhar o início dos seus voos de dispersão.
Moura, a maior cria de abutre-preto alguma vez marcada na Herdade da Contenda, sete anos depois do nascimento da primeira cria (ano de 2022).
Pela sua importância e biodiversidade, esta propriedade pública do município de Moura integra uma Zona de Proteção Especial e um Sítio de Importância Comunitária da Rede Natura 2000.
A gestão desenvolvida na Herdade da Contenda, que é também Zona de Caça Nacional, tem contribuído decisivamente para o sucesso reprodutor da espécie, uma vez que são garantidas as condições necessárias para a sua nidificação.
Estas condições passam pela instalação de plataformas de nidificação, condições de tranquilidade e disponibilidade de alimento em períodos críticos.
Os esforços de proteção e fomento da população de abutre-preto ali instalada é uma das prioridades da Herdade da Contenda ao nível da Conservação da Natureza, sendo realizada em ampla articulação com gestão cinegética, pecuária e turismo de Natureza.
Ao contrário do seu parente mais comum, o grifo (Gyps fulvus), o abutre-preto (Aegypius monachus) é uma espécie globalmente quase ameaçada e está incluído na categoria CR (Criticamente em Perigo) de acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.
Outrora presente em toda a Península Ibérica, a espécie tornou-se cada vez mais rara ao longo do século XX. As principais ameaças à sua conservação são o envenenamento, a escassez de alimento (motivado essencialmente pela recolha sistemática de carcaças de gado no campo), a colisão e eletrocussão com linhas elétricas e a alteração do habitat.
Porque este é um trabalho de equipa,
a Liga para a Protecção da Natureza agradece:
A Carlos Pacheco, biólogo responsável pelo acesso de escalada aos ninhos e marcação das aves,
A David Delgado, médico veterinário colaborador da LPN, e Joana Almeida, sua assistente, pelos cuidados prestados à cria de abutre-preto encaminhada para recuperação,
A Eduardo Santos, biólogo e antigo técnico da LPN que durante anos esteve responsável pela coordenação do trabalho de conservação e monitorização desta colónia reprodutora,
A Francisco Pinto Moreira, voluntário da LPN, pela dedicação demonstrada no apoio à monitorização e no registo fotográfico desta colónia reprodutora ao longo dos últimos anos,
A Pedro Rocha, Administrador Executivo da Herdade da Contenda, que durante o período crítico de incêndio e resultante condicionamento do acesso, da circulação e da permanência de pessoas e bens no espaço florestal nos providenciou informação regular sobre o estado das crias sob monitorização,
Às equipas de Vigilantes da Natureza do ICNF que acompanharam a marcação e que encaminharam uma das crias para recuperação,
À equipa do LxCRAS pelo acompanhamento e tratamento da cria encaminhada para recuperação,
Às entidades parceiras da LPN - a Herdade da Contenda, E.M. e a VCF.
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