Termina hoje a Trienal de Arquitetura de Lisboa, um evento internacional manchado pela “mentira verde” do projeto “Terras da Comporta”, do seu promotor – a Vanguard Properties, e da organização da Trienal, conivente com a promoção deste projeto com grave impacto na natureza.
A cada três anos, Lisboa acolhe um fórum de debate, reflexão e divulgação na área da Arquitetura, com a participação de arquitetos convidados de todo o mundo. A Trienal 2022, “Terra”, foi anunciada pela organização como um apelo à mudança, “contribuindo para um futuro mais sustentável do Planeta e de quem o habita”.
Já depois de conhecido o programa, a organização apresentou como Patrocinador Oficial de “Terra” a Vanguard Properties, o promotor do projeto imobiliário de luxo “Terras da Comporta – feito pela Natureza”, numa escolha que terá considerado a sua “sustentabilidade ambiental”.
O projeto “Terras da Comporta” insere-se numa das últimas e mais bem preservadas zonas da faixa do litoral ibérico (Tróia-Melides), detentora de ecossistemas costeiros terrestres e marinhos únicos e em bom estado de conservação. Está localizado na orla da Reserva Natural do Estuário do Sado, nos concelhos de Alcácer do Sal e de Grândola, onde está prevista ou já começou a construção, numa área com mais de 1380 hectares, de condomínios turísticos, de um condomínio privado de moradias de luxo, hotelaria, comércio e serviços, academias internacionais desportivas e um campo de golf de 18 buracos, entre outros.
A Comporta, um lugar para pescadores e agricultores, tornou-se uma mina de ouro para os investidores, interessados em associar o turismo de luxo à Natureza, atraídos não só pela beleza do património Natural e tranquilidade do local, como pela oportunidade de negócio. A estratégia é simples: vender mais caro graças ao contexto natural de qualidade, mas destruindo parte dele no processo. E utilizar greenwashing para fingir tratar-se de um projeto respeitador da Natureza.
As restrições de construção dentro de área protegida travaram a edificação na praia, mas empurrou-a para cima dos ecossistemas dunares – um património natural valioso, sensível a tamanha pressão, e que a classificação territorial falhou em proteger. Motivo que levou o Movimento Dunas Livres, com o apoio da Liga para a Protecção da Natureza (LPN), a lançar a petição “Pela Preservação do Património Natural da Península de Tróia”, a qual reúne já mais de 7 mil assinaturas e resultará no envio de uma Carta Aberta a vários órgãos municipais e do Governo fundamentando a exigência pela conservação dos ecossistemas dunares desta região.
A LPN lamenta a associação do projeto “Terras da Comporta” à Trienal 2022 “Terra” – “É lastimável que o uso da palavra ‘sustentabilidade’ esteja a ser abusado desta forma. O vídeo promocional de “Terras da Comporta”, difundido pela organização da Trienal, procura passar uma mensagem de harmonia com a natureza mas esconde o problema de base, o da urbanização turística desregulada e construção insustentável sobre um património natural insubstituível“, esclarece Jorge Palmeirim, presidente da Direção Nacional da LPN.
A imagem de greenwashing na Trienal de Arquitetura de Lisboa levou mesmo à criação de uma Carta Aberta assinada por vários Arquitetos convidados a participar no evento, rejeitando a decisão da organização em escolher como patrocinador oficial a Vanguard Properties. “O projeto Terras da Comporta é um desastre ambiental. Não nos podemos deixar iludir com escolhas de materiais ou de técnicas de construção mais sustentáveis quando o projeto em si está a levar à destruição de património natural importante. É urgente desmascarar a falsa preocupação ambiental tão prevalente em vários setores e lamentamos que a Trienal se tenha manchado ao credibilizar a falsa imagem verde da Vanguard Properties”, acrescenta Jorge Palmeirim.
Em resposta a uma carta da LPN a denunciar a gravidade da situação, a organização da Trienal desvalorizou o assunto. Assim, no dia em que “Terra” termina, a LPN vem lamentar o comportamento da organização, repudiar as campanhas de greenwashing, que reduzem a credibilidade das empresas e das instituições, e apelar à necessidade urgente de proteger as dunas de Tróia a Melides dos megaempreendimentos projetados ou já iniciados.
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