Entre 14 e 19 de abril, a LPN esteve na Região Autónoma da Madeira (RAM) a promover uma ação de formação para professores e abriu portas aos biogeoturistas e investigadores que se quiseram associar ao evento. Como descobridores os participantes, ávidos de conhecimento científico, durante cinco dias realizaram cinco saídas de campo, com direito a passeio em duas embarcações de recreio para nos transportar ao Ilhéu de Cima, na Ilha de Porto Santo e da Ilha Porto Santo à Ilha da Madeira.
Levada do Caldeirão verde Levada do Folhadal
Equium nervosum Euphorbia piscatoria
Num BioGeocircuito, iniciamos em Porto Santo pela geodiversidade, tendo como professores convidados o Professores Mário Cachão e António Brum da Silveira, o primeiro Paleontólogo e o segundo Vulcanólogo da FCUL, o périplo pelos dez geossítios começou com o Pico Ana Ferreira, uma intrusão filoneana (dique) de composição intermédia (mugearito) que apresenta disjunção prismática de elevado valor científico e estético. Seguiu-se o Miradouro das Flores com vista para o Ilhéu da Cal e descemos à Ponta da Calheta, interpretando a geologia, nomeadamente os eolianitos e as suas rizoconcreções, e as lavas submarinas. Percorrendo um areal de areia dourada chegamos até ao Lobo Marinho, a Foca-mongue que resolveu iniciar a sua prospeção e descansar na Praia de Porto Santo. Seguiu-se Morenos, de cortar o coração a qualquer geólogo ou amante da natureza. O afloramento pintado pelos magmas félsicos e máficos destacava-se da paisagem e os tons pareciam sair de uma tela, entre o cinzento vulcânico, cores acastanhadas, alaranjadas ou avermelhadas. O final da formação do primeiro dia ainda estava para vir. O professor António Brum da Silveira explicou a génese dos fenómenos vulcânicos no mundo e em particular do arquipélago das ilhas de Porto Santo e da Madeira. No segundo dia, a capitania do Porto de Porto Santo, tendo ao leme o Patrão de Costa Sr. Costa cedeu-nos uma aventura no atlântico de águas selvagens e levou-nos até ao Ilhéu de Cima. Local onde se podem observar afloramentos repletos de Rodólitos, que os Portossantenses identificam como “laranjas”, nele foi igualmente possível situar estes níveis fossilíferos na sequência dos eventos vulcanológicos observados. Neste dia, o grupo teve ainda a oportunidade de analisar os afloramentos rochosos do Penedo do Sono. No entardecer, desta vez, o Professor Mário Cachão explicou como se formaram os rodólitos e os eolianitos em Porto Santo.
Neste dia, para nosso espanto, no Calhau da Serra de Fora, em direção à Ponta dos Ferreiros, observamos majestosos eolianitos, dunas consolidadas trepadoras. Não pudemos deixar de pensar o espanto que os navegadores portugueses Tristão Vaz Teixeira, Bartolomeu Perestrelo e João Gonçalves Zarco tiveram em 1419. A Ilha de Porto Santo, cujas datações apontam uma idade de 18 Ma, uma das mais antigas da RAM, é detentora de afloramentos majestosos e fauna e flora endémica, como é o caso do Equium portosanctensis e Hystricella turricula de deixar qualquer biogeoturista, investigador e/ou professor rendido à sua beleza nas suas paisagens naturais.
Repletos de paisagens naturais e de coração cheio com Porto Santo, os participantes preparam a sua ida até à Ilha da Madeira tendo como principal fonte de informação o Professor António Brum da Silveira, um dos autores da carta geológica e notícia explicativa da Madeira. Os participantes tiveram ainda oportunidade esclarecer algumas questões específicas sobre a geologia da ilha da Madeira. De uma riqueza geológica fora do vulgar, estando identificados trinta e sete geossítios, alguns dos quais irão integrar a futura rede de Monumentos Naturais da RAM.
Saída para Ilheu de Cima.
Todos os participantes sonharam com a oportunidade futura de realizar uma segunda edição desta formação, com a possibilidade os visitar. A aventura continuou e desta vez, com o ferry “Lobo Marinho”, abrindo as cartas náuticas da RAM foi possível compreender a distância relativa das ilhas Desertas e Selvagens e a através das batimétricas a profundidade. A RAM é detentora de áreas marinhas protegidas, em 2008 foram criadas as de Porto Santo de modo a salvaguardar os principais sistemas marinhos e costeiros, que engloba uma área de grande diversidade de ambientes geológicos, físicos e paisagísticos, que incluem grutas, fendas, enseadas, poças e baixas. Na Madeira destaca-se a Reserva Natural Parcial do Garajau e Reserva Natural da Rocha do Navio, área protegida do cabo Girão, área protegida da Ponta do Pargo, não esquecendo a rede de áreas marinhas de Porto Santo e Reserva Natural das Ilhas das Desertas e das Ilhas Selvagens. Numa travessia entre ilhas, chegamos à Madeira, por via Marítima, como chegaram os nossos navegadores portugueses Tristão Vaz Teixeira, Bartolomeu Perestrelo e João Gonçalves Zarco em 1419, numa paisagem de postal fotográfico que se guarda para a vida toda. Na Ilha da Madeira, guiados pelo professor Miguel Sequeira da Universidade da Madeira (UMA) descobrimos a floresta relíquia da Laurissilva, património Mundial Natural da Humanidade. Assim chamada por possuir predominantemente espécies da família das lauráceas, como o Til (Ocotea foetens), Loureiro (Laurus novocanariensis), Vinhático (Persea indica) e Barbuzano (Apollonias barbujana subsp. barbujana). São espécies lenhosas sempre verdes que foram observadas no decorrer de duas levadas: a Levada do Caldeirão e a Levada do Folhadal.
A Região Autónoma da Madeira foi o palco de uma elevada riqueza Natural ainda por descobrir. Esta ação cumpriu superou os seus objetivos. Os participantes com esta experiência conseguiram apreender in situ o património em bio e geodiversidade e fomentou nos professores a atualização de conhecimentos de forma a construir e desenvolver ações em campo com alunos, 2º e 3º ciclos do Ensino Básico e Secundário, inerente aos curricula e reforçando os princípios e eixos temáticos da ENEA2020, no que se refere a uma Educação Ambiental sustentável em Portugal.
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