Manutenções e construção de novos ninhos para abutre-preto na Herdade da Contenda

Neste último Outono, em outubro e dezembro, a Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e a Herdade da Contenda levaram a cabo manutenções e reparações de ninhos de abutre-preto bem como a instalação de novas plataformas artificiais de nidificação nesta herdade, no âmbito do projeto LIFE Aegypius return.

 

No total, foram efetuados trabalhos de manutenção em dez ninhos e contruídas cinco novas plataformas artificiais para abutre-preto. Mais em detalhe, as manutenções consistiram na reconstrução total de três ninhos, o reforço estrutural de outros dois e, finalmente, a realização de podas e/ou a colocação de material vegetal adicional em cinco deste tipo de estruturas.

 

Estas intervenções contaram com o apoio de uma equipa de dois técnicos especializados com experiência na manutenção e construção de ninhos artificiais, a quem se agradece.

 

Manutenções e reparações de ninhos

Com o passar do tempo e a exposição aos elementos, tanto os ninhos naturais como as plataformas artificiais vão-se degradando, necessitando de manutenção. Adicionalmente, e de forma cada vez mais frequente e intensa, intempéries danificam ou até causam a queda de ninhos de abutre-preto. Foi precisamente isto que aconteceu em resultado de duas tempestades sucessivas em outubro passado, que causaram a queda de dois ninhos da espécie.

 

Um desses ninhos, uma plataforma artificial que tinha sido já construída no final de 2021 para substituir a estrutura natural que havia colapsado meses antes, foi agora novamente reconstruída, desta vez utilizando um poste metálico telescópico e um cesto em malhaço, para lhe conferir ainda mais robustez e resistência.

 

 

 

Ninho derrubado pelas tempestades ocorridas em outubro passado na Herdade da Contenda. Fotografias LPN.

 

 

Materiais utilizados na reconstrução do ninho: poste metálico telescópico, cesto em malhaço e material vegetal existente no local (pequenos ramos, paus, etc.). Fotografias LPN.

 

 

Processo de instalação/reconstrução do ninho de abutre-preto. Fotografias LPN

 

 

Ninho já reconstruído, após finalização dos trabalhos. Fotografias LPN.

 

 

O outro ninho, não foi possível reconstruí-lo, uma vez que a própria árvore foi derrubada pelas tempestades. No entanto, uma das novas plataformas artificiais instaladas em dezembro foi construída num local muito próximo, de modo a que possa vir a servir de alternativa para o respetivo casal de abutre-preto.

 

Outra situação ocorrida este ano foi a queda de ninhos durante a época de reprodução. Num caso em concreto, o colapso de um ninho natural ocasionou a morte de uma cria, na altura já com cerca de 50 a 60 dias de idade. Como forma de assegurar que este ninho está novamente disponível para a reprodução da espécie na próxima época de nidificação, procedeu-se em outubro à sua reconstrução. Para tal e considerando as características da árvore, utilizaram-se barras metálicas que se moldam e fixam entre si e à própria árvore, formando uma plataforma artificial, que é finalmente preenchida com material vegetal existente no local (pequenos ramos, paus, etc.), mimetizando e substituindo assim o anterior ninho natural.

 

 

Processo de reconstrução do ninho de abutre-preto, utilizando barras de ferro. Fotografias LPN.

 

 

Ninho de abutre-preto já reconstruído. Fotografias LPN (esq.); C. Pacheco (dir.)

 

 

Para além dos ninhos que foram totalmente reconstruídos ou reforçados estruturalmente, em outros cinco foi necessário proceder a podas e/ou à colocação de material vegetal adicional no seu interior. Esta intervenção torna-se necessária devido ao crescimento das árvores que suportam os ninhos ou à degradação do material colocado nas plataformas artificiais, aquando da sua construção, em particular quando as mesmas não são utilizadas pela espécie.

 

 

Colocação de material vegetal adicional em plataforma de nidificação de abutre-preto. Fotografias LPN

 

 

 

Plataforma de nidificação de abutre-preto, após finalização dos trabalhos de manutenção. Fotografia LPN.

 

 

Instalação de novas plataformas artificiais de nidificação

Em dezembro procedeu-se também à instalação de cinco novas plataformas artificiais de nidificação para abutre-preto, ação prevista no projeto LIFE Aegypius return. Esta intervenção visa aumentar a disponibilidade de locais de nidificação para a espécie, em áreas com características favoráveis, na expectativa de promover o aumento do número de casais nidificantes na colónia de abutre-preto da Herdade da Contenda.

 

Os cinco novos ninhos artificiais foram instalados em pinheiros-bravos e construídos com recurso a barras de ferro e também material vegetal existente no local (pequenos ramos, paus, etc.), de forma a imitar as condições naturais e tornar estas estruturas atrativas para a espécie. Nesta região os abutre-pretos frequentemente selecionam esta espécie de árvore para nidificar, pelo que se espera possam vir a ocupar as novas estruturas nos próximos anos.

 

 

 

Árvore selecionada para instalar uma das novas plataformas artificiais para abutre-preto (em cima) e respetivo processo de construção. Fotografias LPN.

 

 

Aspeto final de uma das novas plataformas artificiais para abutre-preto. Fotografias LPN.

 

 

Expectativas para a próxima época de reprodução

Finalizado o trabalho de manutenção dos ninhos existentes e de construção de novas plataformas artificiais para abutre-preto, segue-se, a partir do início de 2024, a monitorização da próxima época de reprodução. Entretanto, ainda no final de novembro, foram já observados abutres-pretos em pelo menos um dos ninhos intervencionados, o que aumenta a expectativa de que os esforços realizados produzam os efeitos desejados.

 

 

Abutres-pretos em ninho recém-intervencionado (imagem obtida à distância, através de telescópio). Fotografias LPN.

 

 

 

A manutenção, reforço e reparação de ninhos e plataformas artificiais, assim como a instalação de novas estruturas de nidificação, permitem aumentar a disponibilidade de locais de reprodução para o abutre-preto e promovem o seu sucesso reprodutor. A Herdade da Contenda possui o segundo maior núcleo reprodutor de abutre-preto em Portugal, estimado em 17 a 18 casais nidificantes em 2023. A monitorização da época de reprodução que se avizinha, nesta e nas restantes regiões de intervenção do projeto LIFE Aegypius return, permitirá acompanhar e avaliar o sucesso reprodutor da espécie e o impacto das medidas de conservação implementadas pelo projeto.

 

 

Advertência: As fotos aqui apresentadas foram tiradas a uma distância segura para fins de monitorização e conservação. Por outro lado, as intervenções foram realizadas fora de período reprodutor, de modo a assegurar que não perturbam a espécie e que os ninhos estão aptos antes do início da próxima época de nidificação.

 

 

Sobre o abutre-preto

O abutre-preto (Aegypius monachus) é uma ave imponente, com quase 3 metros de envergadura. Necrófaga, desempenha um papel vital nos ecossistemas, ao alimentar-se de carcaças, minimizando a proliferação de doenças. Os indivíduos têm uma maturidade sexual algo tardia (aos 4 a 5 anos) e cada fêmea reprodutora põe apenas um ovo por ano. O processo reprodutivo é também bastante demorado: desde a construção ou arranjo do ninho até à independência das crias passam cerca de nove meses. Os abutres-pretos prestam excelentes cuidados parentais às crias e o casal divide as várias responsabilidades, como a incubação, a guarda do ninho e a provisão de alimentos.

 

 

Sobre a parceria do projeto LIFE Aegypius return

O projeto LIFE Aegypius return é cofinanciado pelo Programa LIFE da União Europeia e é liderado pela Vulture Conservation Foundation, uma ONG internacional. O consórcio conta ainda com oito entidades parceiras, de Portugal e Espanha: Palombar - Conservação da Natureza e do Património Rural, Herdade da Contenda E.M., Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Liga para a Protecção da Natureza, Associação Transumância e Natureza, Fundación Naturaleza y Hombre, Guarda Nacional Republicana e Associação Nacional de Proprietários Rurais Gestão Cinegética e Biodiversidade.

 

 

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