O parque de merendas do Arelho, em Óbidos, acolheu mais uma atividade do Centro de Interpretação da Lagoa de Óbidos, desta vez sobre intoxicações alimentares por consumo de bivalves - dados históricos da Lagoa de Óbidos.
A conduzir o encontro contámos com representantes do Departamento de Saúde Ambiental do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (DSA/INSA), Elsa Dias, investigadora auxiliar e com Susana Franca, investigadora coordenadora aposentada.
Em março de 1946, pela primeira vez em Portugal, os habitantes de Caldas da Rainha foram surpreendidos por um caso de intoxicação coletiva por ingestão de bivalves provenientes da Lagoa de Óbidos. Cerca de 100 pessoas sofreram perturbações neurológicas, como paralisia parcial da face e dificuldades respiratórias, e seis crianças perderam a vida.
Em novembro de 1955, na povoação de Reguengo da Parada, na freguesia de Tornada, houve registo de outra ocorrência de intoxicação, também por ingestão de berbigão proveniente da Lagoa de Óbidos. Desta vez, 21 pessoas sofreram de perturbações neurológicas e uma criança perdeu a vida, para além de vários animais.
Como é que as toxinas aparecem e porque é que aconteceram estes casos de toxicidade?
Começando por conhecer os bivalves… Moluscos com duas conchas, estes animais são filtradores, retirando da água o seu alimento – o fitoplâncton, que são microrganismos com capacidade de fotossíntese que se encontram em suspensão na coluna de água. Algumas espécies podem filtrar até 2 litros de água por hora, concentrando assim o fitoplâncton no seu organismo.
Sabe-se que na origem das ocorrências de toxicidade está uma alteração na composição do fitoplâncton, com predomínio de uma espécie produtora de toxinas. O fitoplâncton e, consequentemente, as suas toxinas, ao ser filtrado pelos bivalves é acumulado na sua massa muscular (corpo do bivalve) tornando-os tóxicos. Ao serem então ingeridos, causam perturbações graves levando em muitos casos à morte.
Entre os vários tipos de toxinas, destacam-se dois grandes grupos: as que causam problemas ao nível do sistema nervoso, com efeitos paralisantes que podem ser letais, as toxinas PSP (Paralytic Shellfish Poison); as toxinas com efeitos amnésicos, as ASP (Amnesic Shellfish Poison); e as que causam distúrbios gastrointestinais, as toxinas com efeitos diarreicos, as DSP (Diarrhetic shellfish poisoning), consideradas cancerígenas e que podem causar cancro do sistema digestivo.
O conhecimento destes registos ocorridos junto à Lagoa de Óbidos, e de outros a nível europeu e até mundial, e a pressão exercida por mariscadores espanhóis, motivada pelos movimentos comerciais entre estes países vizinhos, levou a que em 1986 se iniciasse também em Portugal o programa de monitorização de moluscos bivalves.
Com o início deste sistema nacional de monitorização deixou de haver descrição de casos de intoxicação.
A monitorização periódica permite assim controlar a apanha e a comercialização de bivalves, interditando a sua apanha quando os valores de toxicidade, resultantes das análises efetuadas, ganham expressão.
“A monitorização garante saúde!” Susana Franca
Aos participantes desta ação de formação e informação, entre eles representantes da Associação de Pescadores e Mariscadores Amigos da Lagoa de Óbidos (APMALO) e a equipa do MARE-FCUL no projeto NIPOGES, deixamos o nosso agradecimento pela partilha de conhecimento que tanto contribuiu para o sucesso desta atividade.
À Elsa Dias e à Susana Franca, o nosso bem haja!
Dados históricos a nível mundial sobre intoxicações por ingestão de bivalves:
Nos países sem sistema de monitorização:
Para evitar intoxicações deste tipo, já em 1999, 21 países seguiam programas de monitorização que, simultaneamente, garantem a qualidade dos bivalves e reduzem os elevados prejuízos económicos dos mariscadores.
Para mais informações sobre o Centro de Interpretação para a Lagoa de Óbidos, clique aqui.
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