Ao deslocarmo-nos ao Parque Natural da Arrábida ficamos sempre “cativos” na contemplação da sua beleza e embalamo-nos nela, tal como Sebastião da Gama e Frei Luís de Sousa se deixaram de envolver e a retrataram nas suas descrições e poemas sobre a serra “Mãe”.
A sua diversidade e riqueza é resultante da sua localização geográfica e de condicionantes geofísicas mas também da presença constante do Homem ao longo dos séculos.
E assim lá fomos no âmbito de uma ação do Projeto Despertar para a Natureza, um projeto em contexto de capacitação para a Educação Ambiental e de incremento da realização de saídas de campo. Desta vez com os professores e alunos da Escola Secundária Fernão Mendes Pinto. O sol projetava naquele dia a sua luz brilhante na primeira paragem junto ao Alto do Jaspe junto ao local que constituiu uma das causas primeiras da constituição da LPN e onde o senhor João – vigilante da Natureza do Parque Natural da Arrábida nos esperava.
Encerrada desde a criação do Parque Natural da Arrábida, na “Pedreira do Jaspe” explorou-se para fins ornamentais um tipo litológico único - a “Brecha da Arrábida”. Trata-se de um local com elevado valor pedagógico derivado dos variados aspetos de natureza geológica observáveis, para além de se disfrutar para oeste de uma privilegiada vista da serra do Risco, a escarpa carbonatada mais elevada da Europa.
Com a vista para o Píncaro, o ponto mais alto da serra do Risco e após um enquadramento teórico efetuado, os alunos observaram e identificaram as espécies com ênfase para os aspetos de adaptação das diferentes espécies às condições bioclimáticas da Arrábida e para a importância da sua conservação.
Carrasco – Quercus coccifera - na Arrábida o carrasco pode ter um porte arbóreo coms 17 metros levando à formação de uma nova espécie – Carrasco arbóreo ou da Arrábida – Quercus rivasmartinezii.
Pedreira do Jaspe – Brecha da Arrábida
E já nos íamos embora com destino à outra paragem da nossa saída quando de repente somos surpreendidos com a visita de uma raposa a passear e a atravessar a estrada… aí alertou-se para o facto das pessoas que visitam o parque fornecerem comida às raposas, pois são animais selvagens e se nós os acostumamos a comerem os nossos alimentos, elas habituam-se a comida fácil e vão perdendo não só as faculdades natas que têm para arranjarem comida, e ao mesmo tempo tornam-se presas fáceis. Para além disso podem começar a sair dos seus lugares próprios e devidos (a serra neste caso, é o seu habitat natural) aproximando-se cada vez mais das cidades e zonas habitadas, à procura de comida "fácil" (nomeadamente nos lixos humanos), em detrimento da caça.
E com o cenário das colinas da serra da Arrábida que se estendem ao longo do Estuário do Sado, com vista para a pedra da Anicha fomos de seguida em direção ao museu oceanográfico professor Luís Saldanha. Este museu expõe coleções de vida marinha da região em articulação com os aspetos relacionados com a conservação do litoral marinho do Parque Natural, funciona como laboratório para as questões do Parque Natural relacionadas com a investigação e proteção marinha mas para além disso estava patente uma excelente exposição - Plástico no mar: despertar para mudar.
Museu Oceanográfico Parque Marinho professor Luís Saldanha – ao fundo escultura de Sebastião da Gama.
Forte de Santa Maria da Arrábida – Entrada do Museu Oceanográfico Parque Marinho professor Luís Saldanha.
No Museu Oceanográfico fomos recebidos pela técnica Mafalda Gaspar que orientou a visita ao museu e à exposição. Esta exposição colaborativa integra fotografias de microplásticos de Filipa Bessa, investigadora vencedora de um prémio mundial das Nações Unidas para o ambiente, esculturas feitas com 70 000 beatas de cigarro resultantes da colaboração da artista plástica setubalense Ana Quintino com o grupo Feel4Planet, e uma peça do talentoso artista plástica. A exposição foi organizada no âmbito do projeto Inforbiomares, promovido pela LPN - Liga para a Protecção da Natureza e pelo Xicogaivota (Ricardo Ramos).
Museu Oceanográfico Parque Marinho professor Luís Saldanha.
Portinho da Arrábida noa anos 20 do século passado. Note-se a evolução geológica, com alterações significativas na dimensão do areal e na qualidade dos sedimentos. A dimensão da praia decresceu significativamente, sendo que o seu comprimento está reduzido a 37% e a sua área a 43%, do valor que outrora apresentaram.
Seguidamente dirigimo-nos rumo à Plataforma do Cabo Espichel, em direção ao Santuário do Cabo Espichel e à Ermida da Memória onde na arriba se encontram as pegadas de dinossauros assentes nos calcários do jurássico terminal e que se encontram atualmente classificados como o Monumento Natural da Pedra da Mua (decreto nº 20/97 de 7 de maio). Assinale-se que essas pegadas constituem pelo menos oito níveis de abundantes pistas de dinossauros saurópodes (quadrúpedes) e terópodos (bípedes), sendo que o quinto destes níveis está na origem da lenda da Senhora do Cabo.
Na Ermida da Memória um pequeno templo implantado na escarpa do promontório onde no seu interior se encontram painéis de azulejos que relatam a lenda da Nossa Senhora do cabo Espichel e onde se ilustra a escarpa com a imagem do trilho das pegadas.
E na senda do compromisso de se observarem as pegadas in loco e para que não houvessem dúvidas até para os espíritos mais descrentes na ciência visitámos as jazidas de pistas bem conservadas de saurópodes nos calcários do Jurássico superior da Pedreira do Avelino, classificado como monumento natural em 1997.
E após a tomada de conhecimento e da alerta para a importância da conservação do património geológico visitando-se dois dos sete monumentos naturais do país regressou-se à escola com a mensagem de se zelar pelo nosso património natural regressou-se à escola.
E assim na certeza de que os alunos tiveram um dia diferente, com mais uma aula “fora de portas” achamos que importa conhecer o território de uma forma integrada, ligando o conhecimento à origem do planeta e às nossas origens de forma a se promover uma literacia ambiental crítica e não um molho de definições que constitui por vezes a práxis no ensino. Esse é o grande objetivo do projeto Despertar para a Natureza da LPN agradecendo aos professores que se empenham na organização de saídas de campo permitindo que os alunos vivenciem e compreendam mais o nosso património.
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