O estado de saúde do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina

Este ano o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) celebra o seu 32º aniversário. A LPN foi decisiva para a sua criação e considera que é um dos mais importantes da Rede Nacional de Áreas Protegidas, constituindo um exemplo territorial raro de um troço de costa bem preservado no Sul da Europa. No entanto, esta situação está a mudar e um exemplo que reflete isso é o estado de conservação do habitat prioritário Charcos Temporários Mediterrânicos (CTM) protegido pela Diretiva 92/43/CEE.


A cartografia do projeto LIFE Charcos, coordenado pela LPN, identificou 106 charcos na área do PNSACV, sendo que destes só cerca de 12% possuem um estado de conservação favorável. Se entretanto nada for feito pelas entidades responsáveis pela gestão deste território a tendência é para este número continuar a baixar uma vez que se verificou que para conservar este habitat é necessário condicionar algumas atividades em seu redor e realizar uma gestão ativa, nomeadamente pastoreio leve no verão e remoção de espécies arbustivas ou invasoras, só para mencionar alguns exemplos. Logo, este habitat não pode simplesmente ser deixado ao abandono porque isso significaria a sua degradação a longo prazo.


Os CTM estão associados a uma biodiversidade riquíssima por criarem condições favoráveis a um vasto leque de espécies de flora e fauna que possuem mecanismos e particularidades de sobrevivência muito distintos. Foram identificadas cerca de 250 espécies de plantas (11 das quais com estatuto de proteção ou distribuição restrita), 13 espécies de anfíbios, várias espécies de micromamíferos, como o rato de Cabrera e o rato-de-água e 17 espécies de morcegos (algumas criticamente em perigo). Existe também um grupo desconhecido que é inteiramente dependente destes charcos temporários, que são os crustáceos grandes branquiópodes, sendo que nesta área existem metade das espécies existentes em Portugal, entre as quais um endemismo como o camarão-girino (Triops vicentinus) e uma espécie muito rara de camarão-concha (Maghrebestheria maroccana) que foi registada num só charco.


Recentemente foi também descoberta uma nova espécie de planta (Helosciadium milfontinum), pela Universidade de Évora, que sobrevive neste habitat. Este será mais um dos vários endemismos e raridades que destacam a importância da preservação deste habitat único.
Assim, a monitorização de parâmetros biológicos e químicos dos CTM poderia ser uma ferramenta importante para medir a situação ambiental do PNSACV, devido ao potencial deste habitat como bioindicador/sentinela, uma vez que algumas espécies são muito sensíveis a alterações.


Para a LPN é imperativo existir um plano de gestão e monitorização que seja efetivamente implementado e assegurar uma monitorização ambiental regular do estado de conservação dos habitats e das populações de espécies existentes nestas áreas da Rede Natura 2000. Esta é uma obrigação do Estado Português, prevista em lei e nos acordos internacionais, da qual não se pode descartar. Só com a existência desta informação se podem calcular os impactos das várias atividades humanas, bem como das alterações climáticas e discutir/implementar formas de minimização. É isto que as Associações de Defesa do Ambiente, como a LPN, e todos os cidadãos devem exigir ao Estado Português. É também necessário denunciar através de meios oficiais, nomeadamente às entidades responsáveis, as vezes que forem necessárias, todas as irregularidades detetadas.


Este é o nosso apelo pela conservação da natureza!

 


Algumas entidades e contactos:

 

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