O desafio lançado pelo Agrupamento de Escolas da Ericeira vale por muitas palavras. E se esse desafio for agradável, valorizador do conhecimento local, integrando o património natural e cultural, vale ainda muito mais. Foi com esse objetivo que a LPN em articulação com o Museu Arqueológico de Odrinhas desenvolveu uma ação de sensibilização/formação na área de Educação Ambiental com educadores de infância e auxiliares de ação educativa.
São 10 horas, o dia começa nevoento em Odrinhas, junto a Sintra, Concelho considerado por Lacroix como uma “jóia da Petrografia” dada a diversidade de rochas. As condições naturais são únicas, as forças telúricas reúnem-se em Sintra, juntando-se plantas dos cinco continentes que de repente se erguem plenas de harmonia criando a beleza e a poesia, onde a Lua cai cheia de mistério. O exuberante património natural permitiu uma ocupação humana precoce, testemunhada no Museu Arqueológico de Odrinhas. Esse não poderia ser o melhor local para iniciarmos uma ação em colaboração com o serviço educativo do Museu Arqueológico de Odrinhas dirigida a educadores de infância e auxiliares educativos do Agrupamento de Escolas da Ericeira.
A proposta da professora Esmeralda Batalha era a seguinte: articular o conhecimento da Geologia, da biodiversidade da região com o património arqueológico-arquitetónico e averiguar os efeitos da ação humana no território, levando ao mesmo tempo os educadores a conhecer as ações da LPN e do Museu Arqueológico de Odrinhas.
Para materializar esse compromisso, lá nos encontrámos no Museu Arqueológico de Odrinhas para irmos realizar as atividades dinamizadas pela técnica do Museu – Marta Ribeiro e pelo professor destacado na LPN – Jorge Fernandes. Após uma breve introdução de divulgação da LPN, do Museu Arqueológico e das atividades que se iriam propor, demos início à nossa caminhada já com um sol bem radioso até a uma ribeira de beleza assinalável envolvida pelos calcários do Cretácico, dirigindo-nos depois até à primeira paragem – o arqueossítio dos Menires da Barreira, classificado em 1993 como "Imóvel de Interesse Público”.
Apresentação da LPN e do Museu Arqueológico de Odrinhas aos educadores do Agrupamento de Escolas da Ericeira.
Percurso pedestre rumo aos Menires da Barreira.
Percurso pedestre numa zona rural. Exemplo de um sinal de vivências diferenciadas num mesmo local.
Chegados ao local, situado no alto de uma pequena colina, avistamos o imponente Palácio Nacional de Mafra, as elevações correspondentes a antigas chaminés vulcânicas (Cheleiros, Alcainça, Penedo do Lexim), o temerário Oceano Atlântico, o “Monte da Lua”- serra de Sintra e os povoados calmos da região saloia, entre os arbustos e arvoredo.
Aí abrimos uma cancela e deparamo-nos com mais de vinte menires (e outros monólitos) cilíndricos e prismáticos. Identificados em 1961, classificado como Imóvel de Interesse público em 1993, os menires dispostos no terreno de forma irregular, meio encobertos pela vegetação eram provavelmente símbolos masculinos relacionados com o culto da fertilidade das comunidades megalíticas e ainda hoje são objeto de procedimentos e rituais místicos.
Monte das Barreiras (Menires da Barreira) - Atividades de avaliação do estado de saúde de uma pequena mancha de Coníferas – Breve descrição Arqueológica do local.
Diz a lenda que por baixo de uma destas grandes pedras está enterrada uma grade de ouro, e que quem a procure “de alma limpa” a encontra certamente. Não encontrámos o “ouro”, mas estávamos perto sob o ponto de vista litológico do calcário de Rudistas explorado como rocha ornamental digno das construções nobres. Seria o sítio precioso para iniciarmos as nossas investigações e principalmente envolvermo-nos com a o espaço mais natural procurando perceber as vivências efetuadas neste território ancestral e investigar o estado de saúde da mancha de arvoredo no qual as coníferas assumem um papel dominante.
Após a caraterização da Geologia da região procedeu-se à escolha de uma determinada parcela de terreno de investigação. Munidos de materiais e fichas de trabalho para um conjunto de cerca de seis indicadores de avaliação do estado de saúde do local (condição das árvores, diversidade de espécies, qualidade do solo, regeneração, restos de arbustos, árvores mortas, qualidade do solo e abundância de líquenes), as educadoras avaliaram a condição de saúde do local tendo-se empenhado arduamente nas tarefas numa atmosfera de boa disposição e de envolvimento com o espaço mais natural.
Monte das Barreiras (Menires da Barreira) - Atividades de avaliação do estado de saúde de uma pequena mancha de Coníferas – Breve descrição Arqueológica do local.
Monte das Barreiras (Menires da Barreira) - Atividade de avaliação do estado de saúde – de uma pequena mancha de Coníferas. Verificação de danos na árvore resultante de doenças, tempo, atividades de seres vivos e atividades humanas.
Monte das Barreiras (Menires da Barreira) - Atividades de avaliação do estado de saúde de uma pequena mancha de Coníferas.
Monte das Barreiras (Menires da Barreira) - Uma mancha de coníferas não é só constituída por árvores. A presença de diversidade de vida é um indicador de um local saudável (na figura um exemplo de um inseto coleóptero da família Coccinellidae.
Monte das Barreiras (Menires da Barreira) – Avaliação da qualidade do solo - um indicador importante e um elemento-chave na manutenção de um ecossistema da floresta saudável.
Após a recolha dos indicadores de avaliação, o checkup de saúde do arvoredo no local foi considerado satisfatório pelos participantes. Embora este sítio reúna um valor patrimonial tanto cultural, como natural, com valor pedagógico e científico ele encontra-se num terreno meio abandonado, de âmbito privado no qual o acesso é efetuado através de uma cancela sem nenhuma proteção e sem que existam quaisquer estruturas de apoio e de informação, a não ser as que são providenciadas pelos arqueólogos do Museu Municipal de Arqueologia.
Bom, era tempo de prosseguirmos com a nossa caminhada, descendo e subindo por trilhos até à aldeia do Funchal que brilhava com a luz do sol as suas casas típicas em pedra da região, muito bonitas e algumas bem preservadas até chegarmos ao Museu Municipal de Odrinhas.
Percurso pedestre até à aldeia do Funchal.
Já era tempo de almoçarmos e estava à nossa espera um repasto cheio de sabores gastronómicos saloios onde o bacalhau “embora seja uma espécie exótica não é absolutamente nada invasora” e onde a sobremesa com o nome de pantera (alusiva à lápide epigráfica de uma escrava dos romanos) dava a energia necessária para as atividades que se seguiam.
Seguidamente, os participantes foram convidados a entrar no mundo da arqueologia e descobrir um passado que o museu desvenda através de um apreciável conjunto de monumentos epigráficos encontrados por entre as ruínas romanas. Mais tarde simulando uma das atividades propostas pelo Museu que estimula a criatividade e a imaginação, os educadores elaboraram máscaras de figuras que simbolizam a mitologia romana.
Visita guiada pela drª Marta Ribeiro ao Museu Arqueológico de Odrinhas.
Representações da mitologia romana dos deuses - Ceres (Deusa das Plantas), Prosérpina, Júpiter (Deus do dia), Plutão (Deus dos mortos e das riquezas) e Neptuno (Deus do mar, das correntes de água e dos terramotos).
Uma das atividades do museu é um exemplo de como se pode integrar a necessidade da conservação da natureza com a arqueologia, nomeadamente a adopção da mascote infantil Poseidipos. A mascote do museu resultou da combinação das palavras gregas Poseidon (deus dos mares) e hippos (cavalo). É um ser mágico, curioso e bem-disposto, que acompanha as crianças na descoberta dos segredos da Coleção. A escolha da mascote não poderia ser a melhor, pois o cavalo – marinho é uma espécie indicadora de qualidade ambiental que habita águas costeiras, pouco profundas, sendo uma espécie muito “frágil” dependente da qualidade da água.
Embora Portugal reúna uma das maiores colónias do mundo na Ria Formosa, salienta-se a necessidade de uma maior avaliação/investigação pois os dados disponíveis são muito poucos para as duas únicas espécies de cavalos-marinhos existentes no Mediterrâneo e Atlântico – o Hippocampus hippocampus e o Hippocampus guttulatus.
Poisedipos (cavalo-marinho) - mascote infantil do Museu
O desafio que se coloca aos educadores é o de uma ação integrada de diferentes ramos de conhecimento face a um tema comum. Para isso a oferta tanto dos Programas Educativos da LPN como do Museu Arqueológico de Odrinhas poderão proporcionar aos educadores condições para que possam trabalhar temas e atividades de educação ambiental que possam conduzir a práticas pedagógicas, incentivando mais tarde o debate, a reflexão sobre as questões ambientais e a construção de uma consciência crítica.
Tudo isto foi em Sintra, onde sentir faz a diferença. E onde o sentir é conhecimento.
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