Os corais estão a morrer?

A Autoridade do Parque Natural da Grande Barreira de Coral confirmou que 29% dos corais de águas pouco profundas estão mortos e que dois terços da Grande Barreira perderam a cor. Este fenómeno de perda de cor é designado por branqueamento e é, em grande parte, provocado pelo aquecimento global que induz o aumento de temperatura das águas superficiais marinhas.

 

Os corais são animais marinhos invertebrados - cnidários, que segregam um exoesqueleto calcário ou de matéria orgânica. Tipicamente vivem em colónias de indivíduos idênticos. Grande parte das espécies vive em simbiose com microalgas fotossintéticas a partir das quais obtêm grande parte da energia e nutrientes e que lhes conferem uma grande variedade de cores. Com o aquecimento das águas superficiais marinhas, as algas começam a produzir substâncias tóxicas, deixam de fazer fotossíntese e perdem a cor. Como a própria designação indica, o branqueamento dos corais traduz-se em corais com um aspeto esbranquiçado em consequência da perda de cor das microalgas que os cobrem.

 

O branqueamento dos corais pode conduzir à sua morte, uma vez que sem as algas os corais ficam sem acesso aos nutrientes. E isto sim é grave, pelos corais em si, mas também pelas comunidades que deles dependem. A Grande Barreira de Coral abriga cerca de 625 espécies de peixes, 3 mil de moluscos, 450 de corais, 220 de pássaros e várias espécies de baleias, golfinhos e tartarugas.

 

No entanto, a morte dos corais branqueados não é uma condição inevitável, estes organismos podem entrar num modo de “standby” ficando à espera que a temperatura da água volte a baixar. Aqueles que forem afetados por um branqueamento moderado conseguem sobreviver, mas se o branqueamento for severo acabam mesmo por morrer. Ou seja, a boa notícia, é que um coral branqueado não é obrigatoriamente um coral morto, se as condições se tornarem favoráveis os corais podem ainda recuperar. Esta recuperação é um processo lento, sendo necessário uma década ou mais para que as espécies de crescimento mais rápido recuperem suficientemente e muito mais tempo para os corais de crescimento lento. Tendo em conta que em menos de 20 anos se assistiram a quatro grandes fenómenos de branqueamento na Grande Barreira de Coral (em 1998, 2002, 2016 e 2017), estamos neste momento a assistir a um grande declínio dos corais e a uma mudança no equilíbrio de espécies.

 

No entanto, existem também evidências de recuperação dos corais. Nas Seicheles, doze de entre vinte e um recifes que sofreram um episódio de branqueamento em 1998 recuperaram. No Palau muitos recifes recuperaram depois de terem passado pelo mesmo pico de temperatura de 1998. Da mesma forma, num sistema coralino isolado na Austrália Ocidental, esse mesmo episódio afetou cerca de 90% dos corais que em 2010 recuperaram. Apesar da possível recuperação dos corais ser um aspeto muito positivo, este assunto não deve ser encarado sem preocupação, pois essa recuperação só é possível se houver tempo suficiente entre branqueamentos e condições favoráveis aos corais que permitam a sua recuperação.

 

Também existem corais nas águas portuguesas, apesar de terem uma génese mais recente que a Grande Barreira de Coral.  Na costa algarvia pode, por exemplo, ser encontrado o coral vermelho, uma espécie vulnerável protegida pela Convenção do Mediterrâneo e pela Diretiva Europeia dos Habitats. Os nossos corais estão em águas temperadas e, até agora, sujeitos a menores alterações de temperatura. No entanto, existem estudos que descrevem a degradação de corais nas zonas costeiras na ria de Aveiro, no rio Mondego e na ria Formosa devido à fraca oxigenação das águas, que pode ser resultado de poluição e de alterações climáticas.

 

O estado de conservação dos recifes de corais deve merecer a nossa especial atenção, não só pelas espécies em si mas, também pela enorme biodiversidade que deles depende. Os corais desempenham também um importante papel na sustentação de várias espécies com interesse para a pesca, bem como na proteção da costa contra a erosão. Deixamos assim a todos o desafio de conhecer melhor estes organismos únicos e defender a sua conservação, em Portugal e no mundo.

 


Artigo de Ana Maria Moreira - LPN

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