Parlamento Europeu quer uma Lei de Restauro da Natureza

A proposta original da Comissão Europeia sai enfraquecida, mas os Eurodeputados, eleitos pelos cidadãos europeus, adotaram hoje uma posição para as negociações e a proposta de Lei segue caminho!

 

Após uma progressiva campanha de desinformação sem precedentes, liderada por políticos conservadores e tentativas de influência dos setores da agricultura e das pescas, a proposta de Lei do Restauro da Natureza foi hoje aprovada pela maioria dos eurodeputados no Parlamento Europeu. Esta é a segunda grande legislação da União Europeia sobre a biodiversidade após a Diretiva Habitats em 1992, sendo a primeira inteiramente dedicada ao restauro da Natureza.

 

No entanto, esta vitória teve um custo elevado, uma vez que para chegar a um compromisso o Parlamento Europeu adotou várias alterações e, entre derrogações e isenções, sacrificou muitas obrigações e objetivos críticos da proposta original da Comissão Europeia, tornando a lei substancialmente mais fraca. O nível de ambição diminuiu, em particular no que diz respeito aos objetivos de restauro marinho, das turfeiras e das florestas, e ao acesso à justiça.

 

Com a eliminação completa do artigo proposto sobre o restauro de terras agrícolas, que incluía o restauro de turfeiras, perdeu-se uma alavanca essencial para aumentar a capacidade da Europa para sequestrar carbono. Adicionalmente, com a eliminação do artigo que garante o direito fundamental de acesso à justiça, arriscamo-nos a mais violações da Convenção de Aarhus e um campo de ação desigual entre os vários Estados Membros. No enfraquecimento da proposta há ainda a lamentar a supressão da referência à obrigação de não deterioração, que impeda a continuação da degradação dos habitats, e a limitação do compromisso de recuperação natural dos habitats terrestres apenas às áreas da Rede Natura 2000 e a supressão dos objetivos calendarizados.

 

Como consequência da campanha de alarmismo conduzida pelo PPE de Weber, o maior e mais antigo grupo do Parlamento Europeu, e pelos grupos de extrema-direita, o Parlamento adotou uma alteração que adia a aplicação deste regulamento até que a Comissão Europeia forneça ao Parlamento Europeu e ao Conselho dados sólidos e científicos sobre as condições necessárias para garantir a segurança alimentar a longo prazo na Europa.

 

Ainda assim, nem tudo foi enfraquecido, e o Parlamento Europeu também votou a favor de algumas alterações individuais para melhorar o nível de ambição, tais como: a garantia de que a aplicação das medidas de restauro dos ecossistemas marinhos seja coordenada entre os Estados Membros; e a realização de um relatório por parte da Comissão Europeia descrevendo a disponibilidade, as necessidades e as lacunas de financiamento para a execução da lei, incluindo as medidas de compensação para os proprietários de terras e as medidas suplementares, num prazo de 12 meses a contar da data de entrada em vigor do regulamento.

 

A LPN e o seu grupo de trabalho técnico sobre o Restauro Ecológico[1] apelam agora à Comissão Europeia, ao Parlamento Europeu e ao Conselho Europeu para que utilizem de forma construtiva as negociações do trílogo para garantir uma lei final que seja adequada para enfrentar a emergência climática e a crise global da biodiversidade.

 

 

 


[1] O grupo de trabalho técnico sobre o Restauro Ecológico foi criado pela Liga para a Protecção da Natureza (LPN) em colaboração com a Rede Portuguesa de Restauro Ecológico (ResECO) da Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO) em junho de 2022, no seguimento da proposta de Lei do Restauro da Natureza apresentada pela Comissão Europeia. Este grupo tem como objetivo ajudar a definir uma Estratégia Nacional de Restauro Ecológico, dando suporte técnico e científico aos agentes envolvidos na implementação da nova Lei do Restauro da Natureza em Portugal.

 

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