Para além da importância que constitui a conservação e valorização dos espaços verdes na cidade e da sua função ecológica, Lisboa contém um rico património de parques e jardins que permite-nos conhecer as espécies de plantas oriundas de todos os continentes.
Com essa finalidade, a LPN organizou uma saída de campo orientada no Parque Monteiro- Mor, num património paisagístico e cultural classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1978 e que constitui um excelente laboratório de educação ambiental.
Cidades ecológicas são um contributo para o combate às ondas de calor, amenizam o clima e fazem-nos mais felizes. Para além do seu contributo para o bem-estar coletivo, sustentando muitos aspetos da saúde das pessoas em ambientes urbanos, os espaços verdes das cidades, como sejam os jardins e parques urbanos, são excelentes lugares de educação ambiental, facilitando a conexão com ambientes mais naturais.
Inserido no espaço verde do Museu Nacional do Traje – entidade responsável pela sua gestão, o Parque Botânico Monteiro-Mor é necessariamente um desses potenciais recursos educativos que as Escolas podem utilizar, realizando atividades fora da sala de aula, indo ao encontro de um magnífico património paisagístico e cultural.
Assim, a LPN, em outubro, no Parque Botânico Monteiro-Mor efetuou uma ação de formação para professores, associados e cidadãos, orientada pelo arquiteto paisagista Rui Costa, responsável pelo Parque e que nos levou à descoberta de um tesouro verde na freguesia do Lumiar, num jardim que mantém as memórias de uma rica história, com espécies botânicas preciosas, com uma mata e um prado rodeado de árvores. No seu conjunto imóvel é uma perspetiva singular no espaço lisboeta pela sua história e caraterísticas.
O parque foi, aliás o cenário descrito no poema "No Lumiar" de Almeida Garrett, incluído na colectânea Folhas Caídas.
Ali no seu Lumiar, entre as sinceras
Belezas desse parque, entre essas flores,
A qual mais bela e de mais longe vinda
Esmaltar de mil cores
Bosque, jardim, e as relvas tão mimosas,
Tão suaves ao pé — muito há cansado
De pisar alcatifas ambiciosas,
De tropeçar no perigoso estrado
Das vaidades da Terra
Quando se visita este parque, logo ficamos surpreendidos com a sua frondosidade e com a variedade de espécies Botânicas com árvores de grande imponência que contrasta pelas estradas e urbanização à sua volta extramuros. Com um microclima favorável ao desenvolvimento de vegetação luxuriante e mais de 200 espécies autóctones e exóticas, o arqº Rui Costa destacou algumas árvores, como por exemplo a Araucária ou Pinheiro de Norfolk (Araucaria heterophylla), oriunda da Nova Zelãndia. Ao olharmos para essa conífera majestosa, com 60 metros, o arqº Rui Costa mencionou que se trata do exemplar mais antigo plantado na Europa, em 1842, e que deu origem a uma outra filha existente logo à entrada do parque.
Segundo Rui Costa, a filha da Araucária foi “plantada a 16 de fevereiro de 1864, pelo nascimento da bisneta do primeiro Duque de Palmela, recordando também as duas únicas vezes em que a primeira Araucária adoeceu perigosamente, exigindo uma verdadeira e aparatosa operação de salvamento que envolveu a Força Aérea Portuguesa através de um helicóptero. A Araucária voltou a renascer mesmo depois de nova intervenção na Primavera de 1996, e continua a desenvolver-se tendo uma largura do tronco em que “são necessárias 21 crianças para a abraçarem”.
Araucaria heterophylla- exemplar mais antigo plantada na Europa.
Também nas imediações Rui Costa nos chamou a atenção para uma árvore que se destacava também pela sua altura e por estar numa posição inclinada, trata-se de uma Araucária também, mas de uma espécie diferente. a Araucaria columnaris, oriunda da Nova Caledónia e na qual uma investigação de 2017 descobriu que as árvores tendem a ter uma inclinação dependente do hemisfério em que estão localizadas, crescendo na vertical no Equador, mas inclinando-se para sul no hemisfério norte e para norte no hemisfério sul.
Araucaria columnaris
No patamar a Norte do museu do traje, podemos ver uma sequoia (Sequoia sempervirens) secular, com mais de 25 metros de altura, espécie que na Califórnia pode atingir 115 metros de altura, e se trata da árvore registada em 2006, como oficialmente, a árvore mais alta do Mundo.
Lindos e magníficos exemplares de Metrosideros excelsa, Ginkos, loureiros, olaias, Figueiras da Austrália, ciprestes-do-México, goiabeiras, Dragoeiros, belas-sombras, faias, plátanos, azereiros e tantas outras espécies de árvores e arbustos eram observadas, testemunhando a natureza num exemplo de conservação.
Mesmo na cidade, esta caminhada transportava-nos para a natureza dentro da cidade integrando elementos culturais e reforçando um saber ambiental que expressa o ser no tempo, o conhecer na história.
Rui Costa também salientou que o Parque possui um sistema de captação, armazenamento e distribuição de água, baseado num intrincado sistema de galerias subterrâneas. Da mesma forma é atravessado, ao longo de toda a sua extensão, por um riacho que, mais ao menos, a meio do seu curso corre ao ar livre, escondendo-se posteriormente num canal subterrâneo, obra do século XIX, e a existência de lagos artificiais.
Datado do século XVII, Rui Costa salientou que após a venda da Quinta do Monteiro-Mor em 1840 a D. Domingos de Sousa Holstein, 1º duque de Palmela e 1º Marquês do Faial, o parque sofreu melhoramentos, tendo sido trazidas mais espécies raras para o jardim e recebido ornamentação de estatuária. O desenho de algumas áreas seguiu o traçado típico dos jardins ingleses, populares na época. Alguns dos botânicos envolvidos nesses melhoramentos foram Jacob Weist e Friedrich Welwitsch que Rui Costa relembrou que este último foi responsável nas suas explorações botânicas em Angola pela descoberta de 1000 plantas diferentes e da planta da qual ele ficou mais conhecido a Welwistchia mirabilis.
Orientação do arqº Rui Costa.
Note-se também em coexistência com o arvoredo e prados no parque, a existência de hortas comunitárias em talhões criativos, uma forma de criar comunidades sustentáveis e menos dependentes.
Para além de ser um parque romântico e um espaço verde de recreio, o Parque Monteiro Mor e o Museu Nacional do Traje disponibilizam atividades educativas e visitas guiadas para as escolas constituindo-se assim como um serviço educativo.
Ao longo destes anos, a LPN tem realizado diversas ações de formação nos jardins e parques de Lisboa (exemplos; parque Florestal do Monsanto, Jardim Tropical de Lisboa (2021), Jardim Botânico da Ajuda (2019), Jardim do Príncipe Real (2019), Tapada das Necessidades (2019), Jardim do Torel e Campo de Santana (2020), Parque da Bela Vista e do Vale do Silêncio (2021), Parque Quinta das Conchas (2022), no sentido de dar a conhecer a geodiversidade e a biodiversidade urbana, pois constituem-se como verdadeiros laboratórios naturais, oferecendo ao público em geral e aos vários níveis de ensino escolar, uma série de visitas e atividades que os professores podem efetuar ao ar livre de educação ambiental.
Dada a riqueza cultural e natural do Museu Nacional do Traje - Parque Monteiro Mor e no mesmo local -no palácio Monteiro-Mor do Museu Nacional do Teatro e da Dança, possibilitando ações educativas interdisciplinares dirigidas às escolas, esta ação de formação permitiu sensibilizar os professores para utilização desses espaços verdes urbanos e culturais, como estratégias educativas que vão ao encontro das competências explicitadas no perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória e para a promoção da educação para a sustentabilidade.
Se deseja receber informação atualizada sobre a LPN, por favor insira o seu email:
© 2018 Liga para a Protecção da Natureza.
Powered by bluesoft.pt