Percursos de Descoberta no Arouca Geoparque Mundial da UNESCO

Ação de formação da LPN – Educação Ambiental

 

Nos dias 12 a 14 de julho, a LPN através do seu Centro de Formação realizou em parceria com a Associação Geoparque Arouca – AGA, uma ação de formação para professores. Embora não tivessem sido possíveis as saídas de campo programadas ao património natural e cultural do município de Arouca, classificado como Geoparque Mundial da UNESCO, devido à declaração da situação de contingência no País, a ação de formação efetuou uma viagem pelo património natural e cultural, contando com uma ampla participação e satisfação por parte dos docentes.

 

 

 

 

Na véspera de se iniciar o Curso de Formação de Professores no Arouca Geoparque Mundial da Unesco, o território continental atravessava uma onda de calor, com altas temperaturas e estava com uma declaração da situação de contingência devido aos incêndios florestais com proibição de acesso, circulação e permanência a caminhos rurais e florestais e outras vias que os atravessem entre os dias 11 de julho e 15 de julho.

 

Relembrava-nos as imagens inquietantes de episódios passados, de incêndios que provocaram a morte de várias pessoas, destruindo casas; das árvores secas, das carcaças de animais e depoimentos comoventes dos humanos cujos modos e meios de vida se desfaleceram em cinzas. Estampando manchetes pelo mundo fora, os incêndios florestais, em Portugal têm uma frequência elevada, sendo a atuação humana a grande responsável.

 

Não obstante, a acumulação de biomassa ao longo dos anos, (mesmo sem intervenção do Homem nos ecossistemas florestais de tipo mediterrânico), tornar inevitável a ocorrência de incêndios em Portugal, a sua frequência e a devastação causada têm aumentando drasticamente, com consequências graves conducentes a perdas materiais e humanas e na biodiversidade.

 

Para além da questão dos incêndios florestais se revestir de inúmeras variáveis e complexidade, necessita-se de um trabalho eficaz e contínuo ao nível da sensibilização e educação para a Floresta. A LPN tem um trabalho reconhecido na Quinta da Moenda de preservação e recuperação da floresta autóctone, desenvolvendo um projeto de sensibilização e educação ambiental nacional, com franca expansão, e no qual as autarquias se candidatam - Projeto Literacia para a Floresta. O Projeto de Literacia para a Floresta, dinamizado pela LPN, através de candidatura efetuada pelas autarquias, tem alcançado as escolas de Braga a Loulé e visa mostra às crianças e jovens para a importância e preservação da Floresta, tendo este ano letivo alcançado mais de 1700 alunos.

 

Face à Declaração da Situação de Contingência, prevista na Lei de Bases de Proteção Civil, não se podia visitar em Arouca os espaços naturais fora da cidade. Essa Declaração de situação de contingência durante o período da ação de formação, implicava que não era possível o acesso pelos formandos e formadores à área geográfica mais natural do Arouca Geoparque Mundial da Unesco, com o seu valioso património geológico, de 41 geossítios, sendo 4 de relevância internacional, aliados ao restante património natural e cultural fora da localidade de Arouca.

 

Devido aos participantes da ação de formação serem oriundos de todo o País e de já terem adquirido o alojamento, não era possível o adiamento da ação de formação o que implicava que se reformulasse a programação da ação de formação.

Tinha de ser feita uma escolha, de se aproveitar os ventos da criatividade, da experiência no território e dos recursos já existentes efetuados, pela equipa técnica da AGA – Associação Geoparque Arouca. A viagem alterada tinha já começado antes de nos fazermos ao caminho…

 

A formadora Daniela Rocha, coordenadora da Direção executiva da AGA, num ápice, reuniu toda a equipa técnica e juntamente, com toda a gente envolvida nesse território, desenvolveu um programa alternativo. Como os melhores anfitriões, foi-nos dado a conhecer de forma presencial, uma outra Arouca, aquela que não está nos “postais de visita” incontornáveis, como a serra da Freita, o rio Paiva, Passadiços do Paiva, a ponte suspensa-516 Arouca, a Casa das Parideiras ou o Radar Meteorológico de Arouca, mas sim, que nos leva a descobrir outros pontos e recantos de inegável interesse natural e cultural.

 

No dia 12 de julho, de manhã, após a sessão de abertura, apresentada pelo vereador de turismo da Câmara Municipal de Arouca – António Duarte e pelo professor destacado na LPN – Jorge Fernandes; Daniela Rocha (AGA) fez uma introdução ao Arouca Geoparque Mundial da UNESCO, tendo a Alexandra Paz- técnica de Geologia da AGA e Susana Bastos- técnica de Biologia da AGA, apresentado os programas educativos no Arouca Geoparque Mundial da UNESCO.

 

 

Visita orientada por Marta Correia da Câmara Municipal de Arouca ao Museu Municipal de Arouca.

 

 

Durante a tarde visitou-se o Museu Municipal de Arouca com a orientação da técnica da Câmara Municipal de Arouca – Marta Correia. Inaugurado simbolicamente no Dia Internacional dos Museus, em 2008, Marta Correia deu a conhecer mais profundamente Arouca, divulgando as memórias e tradições do seu povo, para além de ter-se descrito o vasto património arqueológico e geológico e, ainda, a biodiversidade do concelho de Arouca.

 

 

Visita orientada por Marta Correia da Câmara Municipal de Arouca ao Museu Municipal de Arouca.

 

 

 

 

Após o percurso nesse espaço vivo das gentes de Arouca, entrámos em outro percurso orientado, desta vez, ao Mosteiro de Arouca e ao museu de Arte Sacra.

 

No coração de Arouca ergue-se o mosteiro de Santa Maria de Arouca. Sendo a maior construção granítica do género, em Portugal, Arouca viu a sua economia, a sua agricultura, a sua gastronomia, a sua cultura e, claro, a sua religiosidade, influenciadas por tudo o que significa este edifício, documentado desde o século X. O mosteiro de Arouca, exclusivamente feminino desde 1154, afirmou-se, essencialmente a partir do séc. XIII. O atual edifício data dos séculos XVII e XVIII, e mostra espaços belíssimos, como o Claustro, o Cadeiral, a Cozinha, e um dos mais ricos museus de Arte Sacra da Península Ibérica.

 

 

Visita orientada ao Mosteiro de Arouca e Museu de Arte Sacra. Claustro do Mosteiro.

 

 

Uma das salas, a sala do capítulo, reúne lindíssimas pinturas das molduras de azulejo com paisagens e motivos de Flandres que ladeavam a abadessa por hora dos julgamentos e reuniões mais solenes. Ali se decidia o presente e o futuro do Mosteiro.

 

 

Visita orientada ao Mosteiro de Arouca e Museu de Arte Sacra. Interior da sala do Capítulo com os seus azulejos com motivos de origem flamenga

 

 

Passando pelos preciosos altares meticulosamente talhados a folha de ouro, chegamos ao centro do Mosteiro, ao espaço de oração, antes de chegar à Igreja, uma sala com um grande cadeiral de madeira de jacarandá do Brasil (Jacaranda mimosifolia). Separadas do povo por grades de madeira, na sala do cadeiral as monjas assistiam à missa, com os livros de cânticos nestas estantes, sentadas ou em misericórdia. Foi em 1743 que o órgão ganhou voz, a voz que hoje recupera, para voltar a inundar de música o espaço recortado pela talha.

 

Visita orientada no Mosteiro de Arouca - Cadeiral

 

 

Orgão do Mosteiro de Santa Maria de Arouca.

 

 

No dia seguinte, partimos à descoberta da Biodiversidade de Arouca Geopark, efetuando um pequeno percurso no Parque do Ribeiro de Gondim e Ecovia do Arda. Com a orientação da técnica Susana Bastos da AGA, por momentos, nem sentíamos os 41ºC de temperatura desse dia, de tão envoltos estávamos nas espécies de seres vivos que íamos encontrando e pelas descrições efetuadas pela Susana. Embora o calor fosse incessante, o local por ser fresco, (com vegetação ribeirinha) tinha sido bem escolhido, tratava-se de um corredor ecológico, derivado da qualificação, sustentabilidade e valorização do ribeiro do Gondim e do espaço natural envolvente efetuado pela Câmara Municipal de Arouca.

 

 

 

Visita orientada por Susana Bastos – técnica de Biologia da AGA no Parque do Ribeiro do Gondim e Ecovia do Arda.

 

 

Ali, foi possível para além das diversa espécies típicas de ecossistemas ribeirinhos presenciar um exemplo de restauro ecológico. Embora, o Ribeiro do Gondim tivesse pouco caudal resultante dos diversos açudes provenientes da agricultura a montante, em poucos anos, as mudanças estavam em curso através da erradicação de espécies invasoras efetuadas e do desenvolvimento da vegetação ribeirinha preenchidas com árvores autóctones (ulmeiro, amieiro, salgueiros, sabugueiros) a Ribeira de Gondim.

 

De repente, passamos por uma borboleta irrequieta, a voar de forma agitada. De imediato, a Susana, com a sua rede, recolhe-a para a identificar. Tratava-se da borboleta-malhadinha (Pararge aegeria), uma espécie muito territorial, que não gosta de abandonar o seu posto de observação. 

 

 

Susana Bastos – técnica de Biologia da AGA identificando a borboleta-malhadinha (Pararge aegeria) no Parque Ribeiro do Gondim e ecovia do Arda.

 

 

Outros animais como salamandras e aves normalmente associadas a habitats agrícolas, como rolas, pardais e gaios se costumam observar naquele local. Enquanto íamos ouvindo as explicações da Susana Bastos acerca das plantas rizomatosas, importantes para a limpeza dos rios, eis que, subitamente, surge um brilho azul metalizado esvoaçante…uma libelinha… mesmo junto a nós, estava um macho da bela mademoiselle-gaiteiro–azul (Calopterix virgo), espécie indicadora de caudais de água oxigenados, com boa qualidade.

 

 

Libelinha Gaiteiro-Azul (Calopterix virgo) - Parque do Ribeiro do Gondim e ecovia do Arda.

 

 

Grupo de formação no Parque do ribeiro de Gondim e ecovia do Arda

 

 

Após a saída de campo no Parque do ribeiro de Gondim e ecovia do Arda, fomos para o auditório da Loja Interativa de Turismo do Arouca Geopark para participar em várias sessões orientadas pela técnica de Geologia da AGA – Alexandra Paz, sobre a Geologia da serra da Freita, visualizando do documentário “Pedras Parideiras” e projetos Rota dos Geosítios, Iter Hominis para depois visitarmos uma exploração agrícola de modo de conversão para modo de produção biológico.

 

Esperava-nos, a Marianna Holz – técnica da AGA que incentiva e apoia as explorações agrícolas em estreita articulação com o projeto Arouca Agrícola, e o senhor Óscar, propietáriuo de uma pequena exploração agrícola familiar, onde desenvolve modos de Produção Integrada e de Agricultura Biológica.

 

O Projeto Arouca Agrícola desenvolve-se em articulação com o Plano de Adaptação às Alterações Climáticas do município de Arouca, no qual, o município propõe a elaboração de um regulamento que permita a atribuição de incentivos às explorações que iniciem a sua transição para modo de produção agroecológico, designadamente, em modo de Produção Integrada ou em modo de Agricultura Biológica.

 

 

Visita a produção agrícola em conversão para modo de produção biológico. Apresentação de Marianna Holz e do senhor a mostrarem o terreno de agricultura biológica.

 

 

Percurso orientado pela propriedade agrícola em conversão para modo de produção biológico.

 

 

Percurso orientado pela propriedade agrícola em conversão para modo de produção biológico.

 

 

 

Após as apresentações da Mariana e do Sr. Óscar, mencionando as vantagens da produção de agricultura biológica, bem como, dos resultados e dificuldades, por vezes, encontradas na implementação da agricultura biológica, em especial, da necessidade que há de todos os agricultores ao redor das explorações não utilizarem adubos sintéticos e pesticidas, o Sr. Óscar mostrou-nos algumas culturas agrícolas experimentadas, bem como o processo de biofumigação (aplicação no solo de resíduos orgânicos - compostagem).

 

O processo de modo de produção biológico que o Sr. Óscar desenvolve na sua exploração familiar tem como principal finalidade a manutenção da fertilidade e capacidade produtiva do solo, preservando os recursos naturais e permitindo uma alimentação mais saudável. 

 

 

Sr. Óscar a evidenciar uma das suas variedades de morangos deliciosos produzidos por modo biológico.

 

Logo nos chamou a atenção as diversas variedades dos maravilhosos morangos da horta do Sr. José, mais ricos nutricionalmente, de certeza comparativamente aos morangos provenientes das estufas e da agricultura convencional…

 

Como prevíamos, ao provar os morangos da exploração agrícola do Sr. Óscar, acabados de colher, com as nossas mãos, foi a descoberta em doces momentos de um universo de maravilhosos sabores frescos e sumarentos.

 

 

Colheita de morangos de modo de produção biológica da propriedade do Sr. Óscar.

 

 

Desgustação de produtos regionais após a apresentação do Projeto Arouca Agrícola

 

 

Algumas das dificuldades da produção biológica, remete para disponibilidade de produto, e para a viabilidade do produto orgânico, além do canal de distribuição em que o produto é comprado, dando a conhecer ao consumidor as qualidades do produto e sua credibilidade. Nesse âmbito, fomos visitar, de seguida, o espaço de venda - mercado local, onde se procedeu a uma  degustação de alguns produtos locais.

 

A Associação Geoparque Arouca (AGA) tem vindo a dinamizar e a promover o setor agrícola e a respetiva fileira alimentar por via do projeto municipal Arouca Agrícola articulando-o com os princípios da rede GEOfood.

Nesse mercado local são comercializados hortofrutícolas, ervas aromáticas (medicinais e condimentares) e produtos transformados.

 

Atualmente, o Arouca Geopark integra a Rede Internacional Geofood oferecendo localmente uma rede de restaurantes aderentes, que incluem maior variedade de produtos locais nos seus menus, visitas turísticas a produtores com Itinerários Geofood e ainda uma oferta educativa junto da comunidade escolar por via do restaurante pedagógico, das cantinas e de várias ações de sensibilização.

 

Desse modo efetuámos um itinerário Geofood visitando a pastelaria Doçaria Conventual que é uma das maiores riquezas de Arouca e que espelha através da sua doçaria alguns dos geossítios de Arouca, como por exemplo, as Pedras Parideiras, onde o sr. Manuel Bastos explicou o processo de fabrico dos doces conventuais e a sua ligação à Geologia do território.

 

Confecionados pelas monjas, os doces conventuais eram o ex-libris do convento de Arouca e com eles, eram presenteadas entidades civis e eclesiásticas. As suas receitas perduraram para lá da extinção da vida religiosa do convento. Foi pela mão de uma tia avó da família Bastos (afilhada de uma das últimas monjas) que estas receitas se transmitiram, como herança familiar, até aos dias de hoje.

 

 

Percurso pela rota Geofood – visita à doçaria conventual de Arouca.

 

 

No final, foram efetuadas mais um ciclo de sessões, com apresentações sobre a biodiversidade no Vale do Paiva, a problemática das invasoras no Vale do Paiva e vários documentários, no auditório da Loja Interativa de Turismo do Arouca Geopark.

 

 

Loja interativa de Turismo do Arouca Geopark.

 

 

Saímos desta ação de formação, sem as experiências únicas de presenciar a Frecha da Mizarela, ou de efetuar uma pequena caminhada pela serra da Freita, no vale do Paiva ou mesmo de se observar in loco os fósseis de Arouca que se tinham programado visitar. No entanto, em alternativa, ficámos com a alma de viajante e de conhecimento sobre o património natural e cultural mais acesa ainda. O trabalho efetuado pelos  formadores da AGA foi de grande profissionalismo nesta ação proporcionando recursos úteis e diversificados aos professores para que possam realizar atividades e visitas de estudo com os seus alunos, tendo-se demonstrado a importância dos geoparques enquanto recursos educativos, como é o caso do Arouca Geoparque Mundial da UNESCO.

 

 

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