Resgatado do ninho e devolvido à natureza: a história do abutre-preto Aquis

O abutre-preto Aquis nasceu esta primavera no Parque Natural do Tejo Internacional (PNTI). Era ainda demasiado jovem para voar quando a equipa multidisciplinar contratada pelo projeto LIFE Aegypius Return o retirou do ninho para verificar o seu estado de saúde, anilhar e equipar com um emissor de GPS.

 

Aquis seria novamente devolvido ao ninho, no entanto, uma protuberância sobre o olho deixou a equipa técnica preocupada com as possíveis causas daquela massa e o jovem abutre-preto foi transferido para o CERAS - Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens de Castelo Branco. Após cirurgia e reabilitação, Aquis foi libertado esta terça-feira. Devolvido à natureza, Aquis tem posto em práticas as suas habilidades de voo, explorando a área onde foi libertado, junto ao Campo de Alimentação de Aves Necrófagas.

 

 

©SPEA/Paulo Monteiro

 

Aquis foi uma das crias de abutre-preto que nasceu este ano no Parque Natural do Tejo Internacional

 

Desde o início da época de reprodução, as equipas de monitorização do LIFE Aegypius Return têm acompanhado, com a colaboração de outras organizações (o ICNF e a Quercus no PNTI), os casais de abutre-preto e o crescimento das crias, nas quatro colónias existentes em Portugal. A partir de uma distância segura, com a utilização de telescópios, os nossos especialistas determinam o momento certo para marcar as crias no ninho, um cálculo complexo, uma vez que a ave deve ser suficientemente grande para suportar o transmissor GPS, mas ainda incapaz de voar para evitar que salte prematuramente do ninho.

 

Em julho, a equipa concluiu que o abutre-preto Aquis estava pronto para ser marcado e preparou a operação para o retirar do ninho. O jovem abutre recebeu o nome Aquis que significa “água” em latim, em homenagem ao local do seu ninho, Águas de Verão (Castelo Branco).

 

Uma estranha protuberância sobre o olho de Aquis

 

Aquis foi uma das 15 crias de abutre-preto marcadas este ano. A operação de marcação envolve técnicos especializados, desde escaladores experientes a veterinários e biólogos de conservação. É levado a cabo um exame ao estado de saúde da ave e são recolhidas amostras biológicas, que permitem saber o sexo das crias e recolher importante informação genética, toxicológica, entre outras.

 

Quando o macho Aquis foi retirado do ninho, a equipa de monitorização ficou surpreendida com uma grande massa sobre o olho da ave. Sem conseguir determinar a causa da protuberância, a equipa decidiu encaminhar a jovem ave para o Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens (CERAS), gerido pela Associação Quercus.

 

 

A estadia do Aquis no CERAS

 

Ao chegar ao CERAS, o Aquis foi submetido a cirurgia pela equipa veterinária. Com as amostras biológicas recolhidas, foi efetuada uma análise laboratorial de histopatologia (relacionada com doenças nos tecidos) e testada a varíola aviária.

 

Aquis teve sorte. Os resultados indicaram um processo inflamatório extenso associado a colónias de bactérias, mas não foi encontrada nenhuma infeção viral, incluindo varíola. As evidências laboratoriais indicam uma possível contaminação bacteriana por presença de um corpo estranho.

 

 

De volta à vida selvagem: Aquis está novamente em liberdade.

 

Para garantir que a ave recuperava totalmente antes de regressar à natureza, Aquis foi mantido em cativeiro com o mínimo de contacto humano possível, para permitir que mantenha as suas características silvestres. Embora algumas semanas após a cirurgia a inflamação estivesse já ultrapassada, a equipa do CERAS decidiu esperar até que a ave pudesse voar de forma independente.

 

No dia 19 de setembro de 2023, o abutre-preto Aquis foi devolvido à natureza no Parque Natural do Tejo Internacional num evento que contou com a participação da SPEA (parceiro responsável pela monitorização da colónia do Tejo no âmbito do LIFE Aegypius Return), Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e Quercus. Antes da libertação, a ave foi equipada com um transmissor GPS, que nos permitirá seguir o seu movimento durante as suas aventuras pela Península Ibérica. Desde que regressou ao Parque Natural, tem explorado a zona a sul do local de devolução à natureza. Será que permanecerá na região?

 

©SPEA/Paulo Monteiro

 

A importância da monitorização das colónias de abutres-pretos

 

Esta história tem um final feliz, graças ao acompanhamento constante e à abordagem interdisciplinar do projeto LIFE Aegypius Return. As equipas de monitorização têm estado no terreno desde o início de fevereiro, procurando novos casais e confirmando o sucesso reprodutivo nas quatro colónias existentes em Portugal.

 

A monitorização e marcação das crias no ninho permite verificar o seu estado de saúde e atuar rapidamente caso seja necessário resgatá-las ou reabilitá-las, tal como aconteceu com o Aquis. Estas intervenções potenciam o sucesso reprodutor e a sobrevivência das crias. Além disso, os dados recolhidos permitem analisar a dinâmica das populações, mapear a sua expansão e prospetar potenciais áreas onde as condições de nidificação e de habitat podem ser melhoradas. Em breve, o projeto vai anunciar os resultados da época de reprodução, com uma estimativa do número de casais e de crias produzidas.

 

©SPEA/Paulo Monteiro

 

 

Sobre o projeto LIFE Aegypius Return   

 

 

 

O projeto LIFE Aegypius Return pretende consolidar e acelerar o regresso do Abutre-preto em Portugal e Espanha ocidental, através da melhoria de habitat e da disponibilidade alimentar, e da minimização das principais ameaças com ações de capacitação das entidades e agentes nacionais. A equipa do projeto vai implementar ações de conservação específicas em dez áreas Natura 2000 ao longo de quase toda a fronteira entre Portugal e Espanha, com o objetivo de duplicar a população de Abutres-preto em Portugal para 80 casais em 5 colónias e, assim, baixar o estatuto nacional da espécie de ”Criticamente Em Perigo” para ”Em Perigo” até 2027.  

 

O projeto LIFE Aegypius Return é confinanciado pelo programa LIFE da União Europeia. O seu sucesso depende do envolvimento de todos os stakeholders relevantes, e da colaboração dos parceiros, a Vulture Conservation Foundation (VCF), coordenador beneficiário, e os parceiros locais Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, Herdade da Contenda, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Liga para a Protecção da Natureza, Associação Transumância e Natureza, Fundación Naturaleza y Hombre, Guarda Nacional Republicana e e Associação Nacional de Proprietários Rurais Gestão Cinegética e Biodiversidade.    

 

 

 

Subscreva a
nossa Newsletter

Se deseja receber informação atualizada sobre a LPN, por favor insira o seu email:

© 2018 Liga para a Protecção da Natureza.

Powered by bluesoft.pt