Rota pelo Geoparque Terras de Cavaleiros e Parque Natural do Douro Internacional

Fotografia: Miradouro da Fraga do Puio – (Miranda do Douro) - Parque Natural do Douro Internacional

 

 

Rota pelo património natural e geodiversidade da comunidade intermunicipal de Trás-os-Montes, Geoparque Terras de Cavaleiros e Parque Natural do Douro Internacional.

 

 

A formação de professores da LPN tem enfatizado a utilização de metodologias participativas realizadas ao ar livre, em áreas protegidas e em Geoparques, possibilitando o contacto direto e a melhor compreensão dos fenómenos naturais e culturais. Tem-se como objetivo fundamental o conhecimento acerca da Geodiversidade e Biodiversidade, em estreita articulação com outras áreas do saber, para a compreensão e valorização de um território.

 

Nesse âmbito, nos dias 13 a 15 de julho, o Centro de Formação da LPN organizou uma ação de formação em Terras de Trás-os-Montes, no Geoparque Mundial de Terras de Cavaleiros e Parque Natural do Douro Internacional, dando a conhecer a sua enorme geodiversidade, biodiversidade e património cultural.

 

Nesta ação de formação de professores percorremos paisagens de “cortar a respiração”, conhecendo a geologia, caminhando sobre um fundo oceânico com mais de 400 milhões de anos de história da Terra através de uma ”sanduíche” geológica com vestígios de um mar entre dois antigos continentes e observámos o voo planar das aves de rapina em miradouros de cenários deslumbrantes.

 

A ação iniciou-se, no dia 13 de julho, nas instalações do Geoparque Mundial de Terras de Cavaleiros, orientada pelo técnico João Alves, que nos presenteou com um “outro olhar” para um património Geológico notável, de relevância internacional à qual se associa um grande património de biodiversidade e histórico cultural.

 

O Geopark Terras de Cavaleiros situado na área no Nordeste Transmontano, no concelho de Macedo de Cavaleiros, em 2014 foi reconhecido pelas Redes Europeia e Global de Geoparks da UNESCO e, em 2015, como Geoparque Mundial da UNESCO. No total, tem referenciados 42 Geossítios que testemunham uma história local com mais de 400 milhões de anos.

 

Ao longo da ação visitando cerca de 5 Geossítios, os participantes tiveram a possibilidade de visualizar rochas junto ao maciço de Morais sendo este formado por rochas de dois antigos continentes e um oceano primitivo. Através de uma experiência incrível conseguiu-se visualizar e tocar em rochas exóticas (que viajaram centenas de quilómetros até ao interior de Portugal) e também, em rochas vindas das profundezas do Planeta Terra.

 

Os formandos tiveram ainda a possibilidade de estar num território prodigioso em termos Geológicos, em marcos emblemáticos, como sejam o de observar as rochas que expressam descontinuidades - superfícies de contacto entre zonas do interior da Terra que separam diferentes tipos de materiais. Para além da Geodiversidade, no Geoparque Mundial de Terras de Cavaleiros vemos os ecossistemas a funcionar acolhendo 1/3 das borboletas e libélulas do país.

 

João Alves evidenciou toda a riqueza Geológica do Geoparque Mundial de Terras de Cavaleiros, mostrando uma clara relação entre a Geodiversidade e a Biodiversidade evidenciada pelos solos serpentiníticos ou ultrabásicos do Monte de Morais que têm caraterísticas únicas e muito seletivas para a vida vegetal, propiciando a diferenciação de plantas endémicas e a presença de plantas raras.

 

"Numa área de cerca de 700 quilómetros quadrados conseguimos ter a sequência completa de uma crusta oceânica e não há nenhuma parte do mundo onde uma área tão pequena tenha esta sequência completa" mencionou João Alves.

 

Após a experiência notável em termos científicos e didáticos no Geoparque Terras de Cavaleiros fomos descobrir paisagens maravilhosas numa das áreas mais complexas da Zona Centro-Ibérica (ZCI), sendo de realçar a diversidade de litologias e de processos que garantem a diversidade das suas paisagens.

 

Com a orientação da professora Elisa Preto Gomes, os formandos tiveram a possibilidade de conhecer o Património Geológico e Cultural do Parque Natural do Douro Internacional (PNDI) e Terras de Trás-os-Montes, com a visita a diversos miradouros e Geossítios, relacionando o traçado do rio Douro e seus afluentes com a Geologia.

 

A região do PNDI e de Trás-os-Montes é conhecida pelo rico património cultural, nomeadamente etnográfico, histórico e mesmo arqueológico. Mas desde há muito que naqueles concelhos a ocupação e atividades do Homem estiveram claramente relacionadas com as características geológicas, nomeadamente a variedade de litologias, de geoformas e dos processos geológicos que as originaram.

 

A região possui um registo litoestratigráfico complexo, muito marcado pela evolução tectónica durante o Paleozóico, a qual edificou a Cadeia Varisca da Europa Ocidental por colisão intercontinental. Desde então o orógeno (resultado da convergência entre duas placas litosféricas) tem sido modelado, principalmente por processos que facilitaram a sua erosão. Só na região abrangida entre os concelhos de Mogadouro e de Miranda do Douro identificaram-se 46 Locais de Interesse Geológico, dos quais 22 foram selecionados e caracterizados como Geossítios (Patalão, A. 2011).

 

Identificando estruturas geológicas importantes, sobretudo as responsáveis pelas arribas do Douro, a professora Elisa Preto Gomes caraterizou diferentes geoformas e rochas, como por exemplo os Gnaisses de Pombal, ou na Bemposta, os migmatitos (com veios de quartzo boudinados), aplitos e granitos, proporcionando recursos úteis e diversificados aos professores para a realização de atividades e visitas de estudo com os seus alunos.

 

Genericamente, ao nível do relevo, pode dizer-se que o PNDI apresenta o canhão fluvial do Douro e terrenos aplanados, existindo duas zonas planálticas de natureza essencialmente granítica: o Planalto Mirandês (mais elevado), a Norte, e, no extremo Sul, o Planalto de Riba Côa, que acompanha o vale do Águeda (Monteiro & Henriques, 2001).

 

Relacionando a Geologia com a paisagem num território, Carlos Santos, biólogo do ICNF (PNDI) mencionou a grande variedade de habitats, entre os quais as escarpas rochosas e vertentes de declive acentuado, onde nidifica avifauna rupícola (em rochas).  Destaque pela riqueza em avifauna, pelo facto de muitas delas terem nesta região um elevado número de indivíduos nidificantes a nível da Península Ibérica. Destacam-se a Cegonha-preta, Abutre-do-Egipto, Grifo, Águia-real, Águia-de-Bonelli, Falcão-peregrino, Gralha-de-bico-vermelho e o Chasco-preto (Amaro, 1998).

 

Recentemente, a LPN trabalha num novo projeto pelo Abutre-preto, o projeto "LIFE Aegypius return” - consolidação e expansão da população de Abutre-preto em Portugal e no Oeste de Espanha" que nos é trazido pelas mãos da Vulture Conservation Foundation (VCF), uma organização internacional dedicada à conservação das espécies de abutres europeus em parceria com a LPN. Em julho, foram marcadas as duas crias que eclodiram este ano na colónia do PNDI.

 

Alguns recursos geológicos da região foram visitados pelos participantes, nomeadamente, antigas pedreiras como os Barreiros de Atenor-Sendim e os Mármores de S. Pedro da Silva – (Miranda do Douro). Após a descrição e caraterização efetuada pela professora Elisa Preto Gomes nas antigas pedreiras, salientou-se a ligação que estes recursos tiveram na região. Nenhuma civilização pode prescindir do uso dos bens minerais, principalmente quando se pensa em qualidade de vida, uma vez que as necessidades básicas do ser humano - alimentação, habitação e vestuário - são atendidas essencialmente por estes recursos.

 

Após a visita às antigas pedreiras fomos em direção à localidade de Palaçoulo (Miranda do Douro) para visitar a Tanoaria J.M. Gonçalves. Aí explicou-se o processo de fabrico inovador de uma técnica aplicada ao processo de tratamento térmico das barricas, que sem utilizar combustão, permite um estágio diferenciado para vinhos de qualidade superior. Utiliza pedras vulcânicas, semipreciosas ou até mesmo da região/vinha do produtor para o seu tratamento térmico, sendo um projeto que teve início em 2018, exportando 90% da sua produção.

 

Seguidamente, visitou-se a Cutelaria Martins - Palaçoulo (Miranda do Douro), onde se verifica uma ligação às tradições e cultura da região no fabrico das peças, feitas a partir de matérias-primas cuidadosamente selecionadas e de um saber de experiência feito, onde os artigos são produzidos segundo metodologias tradicionais, o que lhes confere uma identidade única.

 

Um exemplo de recursos naturais que atualmente são explorados são relativos a águas termais. Assim fomos conhecer as Termas mais recentes de Portugal – as Termas da Terronha de Vimioso. Orientados pelo professor Alcino Oliveira, sentimos as propriedades terapêuticas da água. As águas minerais naturais são de origem subterrânea, bacteriologicamente sã e de composição química estável. Diferenciam-se por poderem ser ricas em certos sais minerais e oligoelementos e pela sua pureza original estável, uma vez que provêm de aquíferos preservados pelo estabelecimento legal de perímetros de protecção.

 

Com esta saída o professor Alcino Oliveira explicou as diferentes propriedades das águas, assim como a sua génese nomeadamente a das Termas da Terronha que se trata de uma água Bicarbonatada, sódica, sulfúrea, fluoretada, cloretada e alcalina que apresenta um temperatura média de 17,6 °C e um pH de 8,7. Estas águas eram usadas no alívio ou cura de doenças, particularmente do foro dermatológico. Atualmente, estudos médicos hidrológicos desenvolvidos nesta tipologia de águas comprovou os efeitos terapêuticos ao nível dos sistemas músculo-esquelético, dermatológico, reumático e aparelho respiratório.

 

A 1,5 km das instalações e balneário das Termas, o professor Alcino Oliveira mostrou-nos os furos de captação da água das Termas, que ocorrem numa zona de contacto de rochas graníticas (granito de Caçarelhos - um granito de duas micas, de grão médio, orientado) e rochas metassedimentares paleozóicas, com permeabilidade do tipo fissural e produtividade pouco significativa. Os fluxos subterrâneos desenvolvem-se através das famílias de fraturas presentes que compartimentam o maciço rochoso em profundidade, criando condições hidráulicas favoráveis à infiltração, circulação profunda e ascensão de águas subterrâneas. A zona mais favorável para a descarga do sistema hidromineral localiza-se na área de influência do contacto entre o granito de Caçarelhos e os metassedimentos, conjuntamente com as famílias de fraturas presentes.

 

Foram três dias de formação riquíssimos, conhecendo locais com uma geodiversidade, biodiversidade e património cultural notável. Todos esses locais visitados constituem valores científicos, didáticos e pedagógicos que importa salvaguardar e valorizar. Utilizando a região da Comunidade Intermunicipal de Trás-Os-Montes, o PNDI, Geoparque Terras de Cavaleiros como recurso pedagógico demonstrou-se a sua importância enquanto recurso educativo, nomeadamente, o papel dos programas educativos no ensino das geociências, dando a conhecer a geodiversidade numa clara relação com a biodiversidade e a cultura. Estimulando práticas de campo e conhecimento dos locais articulando a Geodiversidade com as diferentes áreas do saber, esta ação de formação contribui para a organização de práticas educativas que constituem uma transgressão metodológica para uma Educação Ambiental efetiva, reforçando os princípios e eixos temáticos da Estratégia Nacional de Educação Ambiental (eixo 3 - Valorizar o Território e Descarbonização da Sociedade) eixo temático da Estratégia Nacional de Educação Ambiental.

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