Trepámos a encosta do Penedo do Lexim e esgueirámo-nos pelos rochedos e colunas basálticas cobertos de Musgos e Líquenes. Aventurámo-nos na floresta e transpusemos o rio Lizandro. Com os sapatos cheios de lama deslizámos pelas margens e caminhámos até à cascata de Anços.
Reparámos nas texturas e padrões das folhas das árvores que cuidavam a floresta, numa Águia de Asa Redonda que nos circundava ao alto, em uma aliança com o mundo natural. E junto ao litoral, nas camadas sedimentares, entre Falhas, Dobras e Filões presenciámos as forças da Natureza.
Caminhando, conhecendo e vivenciando os locais, é receber a natureza e ganhar-se uma cultura de lugar. E ganhar uma cultura de lugar é sentir-se numa comunidade que sente e respeita a Natureza. Esse é o espírito do Projeto Despertar para a Natureza que a Escola Básica de Venda do Pinheiro partilhou nesta saída de campo com a LPN.
No âmbito do Projeto Despertar para a Natureza promovido pela LPN, com o apoio da EPAL realizou-se uma saída de campo com professores e alunos do 8º e 9º ano do Agrupamento de Escolas da Venda do Pinheiro.
Viajando pelo território de Mafra e Norte de Sintra, caminhou-se à descoberta da muralha fortificada do Geossítio do Penedo do Lexim, Cascata de Anços e Praia da Ribeira de Ilhas.
Com a orientação do professor destacado na LPN e professora Teresa Loureiro da Escola Básica da Venda do Pinheiro começou-se a caminhada até ao primeiro ponto de paragem – o Penedo do Lexim, através de uma ligeira subida entre os zambujeiros, pastos e campos agrícolas de Cheleiros. Pelo caminho, até à chaminé magmática que constitui o Penedo do Lexim, o professor destacado ia identificando e descrevendo a flora da região onde em redor se salientavam os cabeços do Funchal, Cheleiros, de Alcainça e da Jarmeleira, vestígios remotos referentes ao ciclo magmático de natureza alcalina do Cretácico Superior ocorrido na região de Lisboa há 70/2 milhões de anos.
Passado algum tempo, entre as veredas rodeadas de carrasco – (Quercus coccifera) enrolados pela Salsaparrilha brava (Smilax aspera), chegámos ao topo do Geomonumento circundado por um castelo de penedos que teve ocupação humana encontrada desde o Neolítico final (4000 a.C) e onde foram encontrados diversos artefactos humanos resultantes de atividades agro-pastoris no Calcolítico.
A existência de um povoado fortificado é evidenciada pelas características naturais edificadas pela Geologia e que se constituiu como um exemplo das primeiras arquiteturas defensivas que surgem no 3º milénio a.C na península Ibérica. Essas caraterísticas são referidas num documento de 1970 de Oliveira, J e Jorge, V. sobre a Campanha Preliminar de Escavações realizada em 1970 - o ritmo contrastante da orografia, que define e isola três plataformas eminentes e de difícil acesso (suficientemente amplas para conter uma ou duas dezenas de habitações), a característica feição geológica dos afloramentos basálticos prismáticos, regular e continuamente implantados, a proximidade de um curso de água, constituíam outros tantos fatores propícios à fixação de uma comunidade, que dispunha assim de um condicionalismo extremamente favorável a organização defensiva e ao abastecimento alimentar.
Já junto à observação da Disjunção Prismática, de súbito, a professora Teresa Loureiro, com uma energia radiante, salta para cima do afloramento e começa a descrever o contexto Geológico do local transmitindo a energia que aquele local contém.
Penedo do Lexim – explicação pela professora Teresa Loureiro
Lá em baixo, entretanto, os alunos reparavam nos prismas dominantemente pentagonais da rocha e na sua textura. À medida que se ia apercebendo da mensagem que aquele local emanava, o professor da LPN - Jorge Fernandes salientava os estudos efetuados (Brilha, J,1998) que conferem caraterísticas peculiares à disjunção prismática do Lexim. Essas colunas distinguem-se dos prismas ocorrentes em escoadas subaéreas e demonstram que esta chaminé terá tido origem a cerca de 2000 m de profundidade.
Penedo do Lexim – explicação pelo professor destacado
A identificação desse antigo povoado foi despoletada por ação de uma pedreira que possibilitou melhores condições para a observação da disjunção prismática. No entanto, ela teve na iminência de ser totalmente destruída, pois a rocha basáltica alcalina era utilizada para a construção da calçada portuguesa em Lisboa. Após a denúncia através de um artigo publicado num jornal as explorações das pedreiras foram canceladas protegendo-se o Geomonumento e prosseguindo-se as escavações arqueológicas.
O património geológico, arqueológico e natural presente no Penedo do Lexim fundamenta a sua classificação como Imóvel de Interesse Público desde 1982 e embora também seja classificado como geossítio de relevância nacional pela ProGeo, atualmente, algumas incursões clandestinas de pessoas, conjuntamente com o processo de meteorização e erosão natural, gradualmente, vão destruindo o Geomonumento.
Enquanto, alguns alunos iam recolhendo amostras soltas do basalto e o professor destacado mencionava algumas ameaças ao património geológico, como por exemplo, a colheita de amostras para fins não científicos ou de ações de vandalismo que também em outros locais têm delapidado o património natural.
Após a visita ao Penedo do Lexim e fortalecidos pela ciência e mística do lugar partimos para a queda de água da cascata de Anços. Entrámos na floresta com um sorriso nos lábios, com os professores à frente, por um túnel de vegetação. Ia-se descendo encaminhando o grupo por entre as árvores, na sua maioria de Carvalho Cerquinho cheias de briófitas (musgo) e líquenes. Pelo caminho, salientava-se a importância dessas árvores pois o Carvalho Cerquinho é uma espécie que assume um papel muito importante na conservação dos solos, da biodiversidade e que infelizmente sofreu um grande declínio em Portugal no século XX. A forma dos ramos dessas árvores era como um cenário de um conto e pelos densos matagais caminhávamos para a nossa queda de água que nos esperava a cerca de 5 a 6 km.
Caminhada entre o Penedo do Lexim e a Cascata de Anços
Passado algum tempo, o grupo começa a dispersar-se, pelo que o grupo da frente espera junto a uma paisagem já um pouco diferente num prado em direção ao rio de Cheleiros. Caminhávamos com a luz que iluminava os nossos passos e as plantas. Observávamos as árvores que comunicavam entre si, onde os seus ramos serviam de poiso à trajetória das aves e ao alto cruzávamo-nos por vezes com uma Águia de Asa Redonda que nos circundava, em uma aliança com o mundo natural.
Embora não víssemos o rio, a água afluía no nosso pensamento, até que depois de termos passado por caminhos agrícolas chegámos à margem direita onde a água ainda escorria sinuosamente não obstante não ter chovido muito no corrente ano.
Caminhada entre o Penedo do Lexim e a Cascata de Anços.
Cobra encontrada no caminho entre o Pendeo do Lexim e a cascata de Anços.
À medida que seguíamos o percurso do rio, indo ao longo da margem e com os salgueiros a rodear-nos, procurávamos descobrir um lugar de passagem para a outra margem, em busca de um local em que o rio não fosse tão fundo e largo… passado algum tempo lá encontrámos uns afloramentos rochosos que talvez possibilitassem a transposição para a outra margem.
Margem direita do rio de Cheleiros ou Lizandro,
O desafio despertava e a professora Teresa Loureiro, mais uma vez, corajosa, toma a iniciativa de contornar o obstáculo da passagem para a outra margem. Energicamente, passa dá o exemplo a todos os alunos… alguns com os sapatos já molhados, trepavam pelas rochas, com algum equilíbrio para não se molharem, ajudados pelos professores todos superaram os obstáculos.
Passagem para a outra margem do rio de Cheleios ou Lizandro.
Após essa aventura e alguns quilómetros percorridos esgueirando-nos entre os rochedos deparamo-nos com a cascata de Anços, que está enquadrada numa paisagem de indescritível beleza, rodeada de bosques e fragas, num autêntico recanto natural.
Cascata de Anços
Exuberante, a cascata de Anços, entre camadas de calcário e basalto, rompe-se de repente na natureza sendo o local perfeito para nos oferecer o descanso e abrigo para o nosso almoço. Após essa paragem e com as energias repostas havia uma subida a fazer, por fim emergimos acima do vale vertiginoso onde nos esperava o autocarro para o próximo destino, até alo litoral na praia de Ribeira de Ilhas.
Por fim, chegados á praia de Ribeira de Ilhas vimos a simetria da Geologia com a Biologia, o Desporto e a Cultura numa aliança perfeita possibilitando que a praia se tornasse reserva Mundial de Surf. O interesse didático e científico desta praia é indiscutível pois a sua Geomorfologia, a existência de Dobras, fraturas, filões, chaminés magmáticas permite uma observação direta dessas estruturas.
Penedo Mouro (Praia de Ribeira de Ilhas) – Chaminé Basáltica. Fotografia de Rita Grácio.
Após uma descrição natural e de aspetos resultantes da ocupação antrópica e problemas de ordenamento do litoral pelo professor destacado, caminhou-se ao longo da praia salientando-se a chaminé do Penedo Mouro a Norte da Praia, e a intersetar as unidades litológicas sedimentares do Cretácico, as falhas e filões com destaque para um Graben bem visível.
Penedo Mouro (Praia de Ribeira de Ilhas) – Chaminé Basáltica. Fotografias de Rita Grácio.
Praia de Ribeira de Ilhas. Fotografia de Rita Grácio
E quando saímos da praia, rumo ao nosso destino final, na escola demos por concluído esta viagem pelo mundo mais natural mas iremos continuá-la porque ela deixou-nos o recado de a conservarmos. As ameaças à Biodiversidade e ao património geológico são dependentes da educação dos cidadãos. Para isso é importante conhecê-los para os conservarmos. Ao longo deste dia caminhámos, conhecendo e vivenciando os locais. Ao receber a natureza ganha-se uma cultura de lugar. E ganhar uma cultura de lugar é sentir-se numa comunidade que sente, respeita a Natureza, conservando-a. Esse é o espírito do Projeto Despertar para a Natureza que a Escola Básica de Venda do Pinheiro partilhou nesta saída de campo com a LPN.
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