A LPN no âmbito do Projeto Despertar para a Natureza apoiou a saída de campo com os alunos e professores da Escola Secundária da Quinta do Marquês – Oeiras, com o objetivo de dar a conhecer a Geologia e a Biodiversidade de Sintra-Cascais-Mafra.
Inserido no Projeto Despertar para a Natureza, que visa apoiar e estimular a realização de saídas de campo pelas Escolas, potenciando e evidenciando o território como um laboratório natural de bio-geodiversidade, no dia 16 de fevereiro, a LPN foi convidada pela Escola Secundária Quinta do Marquês (Oeiras), para apoiar a orientação da saída de campo prevista para os alunos do 10º ano, turmas A e B.
A atividade realizada no âmbito das disciplinas de Geologia, Educação Física, Física Química A, Inglês e da Componente transversal de Cidadania e Desenvolvimento teve como itinerário escolhido pela professora Maria Manuela Santos, professora responsável pela saída de campo, a praia da Crismina e uma pequena caminhada entre a praia do Abano e a Ponta da Abelheira, no Parque Natural de Sintra-Cascais.
Acompanhados pelos professores da escola e pelo professor destacado na LPN – Jorge Fernandes, caminhou-se em direção às arribas do forte da Crismina, início da nossa visita, para se efetuar um enquadramento natural e geológico da região de Sintra- Cascais.
Munidos do guião da saída fornecido pela professora, na plataforma de Cascais, visualizando a serra de Sintra a Norte, e o sistema dunar Guincho - Cresmina, Jorge Fernandes, professor destacado na LPN salientou estar-se numa zona sensível, pois os cordões dunares são estruturas geológicas frágeis, mas que assumem uma importância fundamental por constituírem uma barreira física de proteção das zonas interiores (salinização das águas subterrâneas, perda de solos aráveis infraestruturas e habitações), face aos ventos fortes de orientação noroeste-sudeste.
Junto ao Forte da Crismina.
A consolidação das areias provenientes da praia do Guincho e da Crismina para a formação das dunas que retorna ao mar mais a sul – entre Oitavos e Guia, é feita graças à vegetação natural capaz de se adaptar a essas condições difíceis. Observando-se algumas plantas das falésias e dunas mencionou-se algumas adaptações que as plantas têm face à proximidade do mar, aos ventos fortes salinos, à luminosidade excessiva, amplitudes térmicas elevadas, instabilidade do meio e reduzida disponibilidade de água.
Com a observação e descrição da flora representativa dunar, foi salientada a importância das espécies endémicas como a raiz-divina (Armeria welwitschii) ou a sabina-das-praias (Juniperus turbinata). Foi também mencionado as ações de recuperação da vegetação local, nomeadamente o controlo das espécies invasoras (como o chorão - Carpobrotus edulis), e da plantação de espécies autóctones (como o estorno - Ammophila arenaria).
Descrição da Geologia da região pelo professor destacado na LPN – Jorge Fernandes-
Após uma apresentação sintética da geologia de Portugal e do enquadramento natural da região, especialmente da Geologia, através de questões formuladas aos alunos, acerca da paisagem e da morfologia que observavam, constatou-se a influência que exerce o substrato geológico, e em especial, o Maciço de Sintra que domina visualmente a ocidente e norte de Cascais.
Inferindo-se que o Maciço de Sintra tem continuidade para Oeste, parecendo que foi submerso, os alunos foram desafiados a descobrirem e a observarem os fósseis das formações atravessadas, tendo-se interpretado os diferentes paleoambientes de deposição das rochas, nomeadamente, das variações do nível do mar sentidas ao longo do período Cretácico Inferior.
Visualização do Maciço de Sintra com o seu alinhamento E-W praia da Crismina
Interessados, os alunos iam levantando algumas questões acerca dos fósseis observados, até que, bruscamente, os calcários recifais da formação da Crismina são atravessados por um filão magmático, testemunhando a instalação do complexo ígneo de Sintra.
Introduzindo a análise da carta geológica simplificada do Parque Natural de Sintra Cascais, constatou-se a grande variedade de rochas que segundo Alfred Lacroix (1863-1948) célebre mineralogista francês, a apontou como uma “jóia da petrografia”.
Descrição da carta geológica simplificada do Parque Natural de Sintra Cascais.
Nesse pequeno trajeto, entre o sul do forte da Crismina e a praia da Crismina foi possível observar-se abundantes macrofósseis e aspetos sedimentares relevantes, permitindo a compreensão da evolução paleogeográfica e das variações do nível do mar da região durante o Cretácico Inferior. Em poucos metros andou-se em terrenos de formações compreendidas entre os 132-113 milhões de anos.
Perto do contacto dos calcários recifais da Formação da Crismina que suportam o Forte. Uns poucos metros a norte na praia da Crismina, contacto coma Formação do Rodízio (arenitos e conglomerados) que testemunha uma importante regressão (descida do nível do mar).
A primeira paragem na forte da Crismina – praia da Crismina constitui, portanto um local de grande interesse pedagógico, indo ao encontro das aprendizagens essenciais da disciplina de Biologia-Geologia mas também integrando diferentes disciplinas como a Físisca e Química, a Geografia e a História. Nela é possível mencionar os três fortes (Crismina, Galé e Abano) que integravam o conjunto das fortalezas que formavam uma cintura defensiva na costa de Cascais, construídas na época pós-Restauração. Também possibilita verificar uma sequência de condições, desde a orla da falésia até o interior do sistema dunar Guincho- Cresmina, permitindo observar-se a série Cretácica em excelentes condições, em cortes ao longo das arribas e da praia, descrevendo a evolução paleoambiental desta região atravessadas por diversos filões magmáticos.
Seguidamente dirigimo-nos até à praia do Abano passando pela praia do Guincho, no núcleo do sinclinal de Alcabideche, para caminharmos pela maravilhosa costa atlântica através de uma sucessão de calcários e margas, mostrando uma sucessão de ocorrências geológicas relacionadas com a distensão Mesozoica, quando da abertura do Atlântico e, principalmente, com a instalação do Complexo ígneo de Sintra.
O percurso efetuado tem um valor educativo excepcional, juntamente com a flora muito particular sendo um dos raros pontos do país onde se pode observar em continuidade o limite Jurássico- Cretácico e constatar-se uma evolução paleoambiental muito diferente nesses dois períodos geológicos.
Foi possível os alunos observarem as inclinações das camadas do Cretácico da parte sul para Norte e quando chegaram á praia do guincho e Abano constatar que as mesmas camadas passavam a inclinar-se para sul, o que permitiu afirmar que se trata de uma dobra sinclinal.
Respondendo às questões levantadas pelo guião, respeitantes à praia do Abano propriamente dita, observou-se um desligamento que põe em contacto os calcários do Cretácico Inferior com os Calcários do Jurássico Superior e do corte imediatamente a Norte da Ponta da Abelheira, onde é espetacular o contacto entre o granito de Maciço Eruptivo de Sintra e as camadas sedimentares mais antigas que o encaixam, através de filões eruptivos que se cruzam.
Para além de ser considerado um geossítio (lugar de interesse particular para o estudo da Geologia, geralmente com características notáveis do ponto de vista científico, didático ou turístico), a região apresenta grande importância para a fauna dada a fraca presença humana.
Face ao clima ter ventos intensos, verões quentes e secos, as espécies arbóreas têm dificuldade em se instalar pelo que só se observam alguns Pinheiros Mansos, um pouco prostrados ao longo do trajeto, observando-se algumas espécies, como por exemplo: o Carrasco (Quercus coccifera), Tojo-Gatunho (Ulex densus), Aderno-de-Folhas-Estreitas (Phillirea angustifólia), Salsaparrilha-bastarda(Smilax aspera), Esteva (Cistus ladanifer), Alecrim (Rosmanirus officinalis), Trovisco (Daphne gnidium) e a Rubia peregrina.
À medida que caminhávamos também se observavam algumas árvores e arbustos queimados resultantes dos incêndios que por vezes têm assolado a região, como por exemplo os incêndios de 7 de outubro de 2018 ou de 29 de julho de 2002. A questão dos incêndios foi assim salientada pois são uma das muitas causas que levam à destruição da vegetação natural. Hoje coloca-se a hipótese de que o aumento da frequência dos incêndios, poderá ser de origem humana, comparativamente ao que seria de esperar se as suas fontes de ignição fossem exclusivamente naturais, o que poderá pôr em causa a capacidade regenerativa do ambiente natural.
Caminhada entre a praia do Abano e a Ponta da Abelheira.
Depois desta excelente e agradável caminhada chegámos à praia do Guincho onde o autocarro nos aguardava. Para além do valor paisagístico e educativo excepcional que este trajeto nos proporciona, esta saída de campo revelou por parte dos alunos, de um modo geral, uma grande de satisfação, empenho e atenção. Tal foi manifestado inclusivamente, por parte de alguns alunos, a intenção de participar futuramente em atividades da LPN. Pensamos que esta saída, uma vez mais, cumpriu os objetivos do projeto Despertar para a Natureza, de sentir, conhecer para proteger o território e da importância de se preservar a geodiversidade e a biodiversidade.
Alunos que se revelaram muito interessados pela missão da LPN e que desejam participar em atividades futuras da Associação.
Foto de grupo na praia do Abano.
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