No âmbito das atividades da disciplina de Geografia do Agrupamento de Escolas Professor Armando Lucena (Malveira-Mafra) e inserido no Projeto Despertar para a Natureza da LPN, os alunos do 9º ano participaram em duas saídas de campo numa jornada de descoberta pelas impressionantes paisagens geológicas e naturais da Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica e do Parque Natural da Arrábida. A iniciativa proporcionou aos alunos uma oportunidade única de contactar diretamente com conceitos aprendidos em sala de aula, tornando-os mais significativos ao explorarem-se locais de elevado valor científico e ambiental.
Nos passados dias 30 de abril e 9 de maio, os alunos do 9.º ano do Agrupamento de Escolas Armando Lucena - Malveira realizaram duas saídas de campo explorando a riqueza natural e a ocupação humana da Serra da Arrábida e da Costa da Caparica. As atividades que contaram com o apoio da Liga para a Protecção da Natureza (LPN), através do professor em mobilidade estatutária – Jorge Fernandes e a colaboração do técnico Daniel Raposo da Câmara Municipal de Almada, foram organizadas pelo professor Henrique Martins integrando diversas áreas do saber e estabelecendo pontes essenciais com o Programa de Geografia do 9º Ano.
Com um percurso educativo assente na valorização do território e promoção de uma consciência ecológica, o professor Henrique Martins tem impulsionado a realização de saídas de campo integradas no trabalho curricular e extracurricular da escola, envolvendo os alunos desde a fase de planeamento à execução. Saliente-se a organização por parte do professor Henrique Martins só neste ano letivo, de 11 saídas de campo/visitas de estudo, envolvendo mais de meia centena de professores e técnicos de entidades externas como a Câmara Municipal de Almada, Câmara Municipal de Sintra e obviamente a LPN.
A sua abordagem pedagógica que atribui às visitas de estudo uma estratégia fundamental de aprendizagem envolve todas as suas turmas, através de uma aprendizagem autónoma, distribuindo pelos alunos um conjunto de tarefas específicas em questões colocadas nos guiões de cada paragem do percurso e recorrendo à sinalética do Sistema Nacional de Áreas Classificadas.
Divididos em grupos, os alunos foram responsáveis pela observação e registo de espécies e recolha fotográfica. Para complementar o trabalho efetuado através do preenchimento dos guiões de campo, existiram momentos de explicação acerca dos locais observados efetuados pelo professor Henrique Martins e que contaram com o apoio do professor em mobilidade estatutária na LPN e de técnicos de ambiente guiando os alunos na leitura da paisagem, identificação de espécies e análise das ameaças ambientais.
Houve uma flexibilidade da decisão invertendo-se a ordem das paragens entre as duas visitas. Enquanto as primeiras duas turmas, do dia 30 de abril, iniciaram o percurso pelo Parque Natural da Arrábida, no Alto do Jaspe, terminando na Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica, com paragens no Miradouro dos Capuchos e na Praia do Inatel da Costa da Caparica, as outras duas turmas seguiram o percurso inverso, adaptando os conteúdos à progressão do percurso.
Na primeira saída, o percurso começou com a saída da escola em direção ao Parque da Comenda, em Setúbal, para uma paragem técnica. Neste local, com o apoio da Junta de Freguesia de Setúbal, os alunos puderam reforçar o pequeno-almoço e utilizar as instalações sanitárias, preparando-se para o resto do dia.
Seguiu-se a subida pela Serra da Arrábida, com várias paragens interpretativas ao longo do percurso. Sem sair do autocarro, os alunos observaram e refletiram sobre aspetos relevantes da paisagem, do território e da geodiversidade, em contacto direto com um dos mais importantes patrimónios naturais do país.
O grupo chegou então ao Alto do Jaspe, um dos pontos panorâmicos local de elevada importância geológica e científica. Após a entrega das pranchetas e guiões com questões sobre a visualização do painel informativo/educativo colocado à entrada, os alunos efetuaram um pequeno percurso junto à Mata do Solitário, uma área de proteção total que testemunha as matas mediterrânicas de há muitos milhares de anos, antes das Glaciações, avistou-se sobranceira ao mar a serra do Risco, a falésia calcária mais alta da Europa, descrita por Sebastião da Gama, professor e poeta e grande defensor da serra da Arrábida, como o “fóssil de uma onda”.
Foi a partir do seu “apelo poético” que inspirou a constituição da LPN aquando da tentativa da destruição da Mata do Solitário e do Vidal para a obtenção de lenha chamando a atenção para a necessidade urgente de se proteger a serra, a sua biodiversidade e beleza natural mobilizando os cientistas, nomeadamente os professores Miguel Neves e Baeta Neves.
Para além do Alto do Jaspe ser um lugar de leitura integrada da paisagem, constitui-se como um local de elevado valor ecológico, patrimonial e educativo que possui uma “rocha única no mundo, cuja singularidade lhe confere valor patrimonial internacional – a Brecha da Arrábida.
Numa antiga pedreira, o professor destacado descreveu as caraterísticas e importância da Brecha da Arrábida, rocha ornamental classificada com Pedra Património Mundial, atribuída pela Subcomissão do Património Geológico da International Union of Geological Sciences (IUGS), parceira da UNESCO para diversos assuntos relacionados com as Geociências.
De grande importância histórica, associada ao elevado valor didático e científico, a Brecha da Arrábida formou-se há cerca de 150 milhões de anos e ao longo da história, encontra-se como elemento decorativo e componente construtivo em vários monumentos, desde a Época Romana até ao século XV, distribuídos por seis Países além de Portugal, associados à época dos Descobrimentos e ao estilo manuelino, como por exemplo o Convento de Jesus.
A presença de pedreiras desativadas no Alto do Jaspe forneceu ainda um contexto adicional para discutir o impacto da extração de recursos naturais e a subsequente recuperação paisagística. A Mata do Solitário, com a sua vegetação luxuriante, serviu ainda para realçar a importância da floresta mediterrânica e os seus desafios de conservação.
Entretanto, fomos confrontados nesta área protegida do Parque Natural da Arrábida com a presença de graffitis em vários pontos do afloramento da Brecha da Arrábida. Os graffitis, gravados diretamente nas rochas com tinta spray, comprometem a integridade visual e científica do afloramento, que constitui um registo geológico de grande relevância científica possibilitando a compreensão da história tectónica da região, o conhecimento rigoroso do campo de tensões associado à compressão Alpina da formação da serra da Arrábida para além do valor pedagógico/didático e cultural.
Este tipo de vandalismo representa não só uma agressão ao património natural, como também um entrave à investigação científica, uma vez que pode dificultar a observação de estruturas e formações geológicas essenciais para estudos académicos e educativos.
A LPN através dos seus técnicos e educadores ambientais, tem vindo a sensibilizar as comunidades escolares para a importância da geoconservação, promovendo ações formativas e experiências de campo que aliam o conhecimento científico à educação para a cidadania. A descoberta dos graffitis foi encarada como uma oportunidade educativa, permitindo um debate aprofundado com os alunos sobre a responsabilidade coletiva na preservação do património natural e geológico.
A associação pretende agora comunicar o sucedido às entidades competentes, nomeadamente, o Parque Natural da Arrábida no sentido de se avaliar os danos, estudar eventuais medidas de limpeza e prevenção de futuros atos de vandalismo. A LPN reforça ainda o apelo à valorização do património geológico como bem comum e recurso pedagógico de excelência, destacando o papel das escolas e das organizações da sociedade civil na sua salvaguarda.
A Brecha da Arrábida continua a ser um dos ex-libris da geodiversidade nacional e mundial, sendo que a sua preservação é essencial para as gerações presentes e futuras.
Após a paragem no Alto do Jaspe, a viagem continuou até ao Miradouro dos Capuchos, onde foi possível observar a vasta extensão da Costa da Caparica, a serra de Sintra, a linha de Cascais, o Oceano Atlântico, o canal da embocadura (Gargalo do Tejo). No Miradouro dos Capuchos, os alunos realizaram atividades de exploração e reflexão sobre a paisagem costeira, com a orientação dos professores e recurso aos painéis informativos instalados no local.
O Miradouro dos Capuchos localizado na Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica está também junto à Reserva botânica da Mata Nacional dos Medos, plantada para proteger a área agrícola interior da invasão de dunas ou "medos", sendo que constitui uma paragem relevante por possibilitar a caraterização da Arriba Fóssil – o elemento geológico mais relevante da área protegida e que apresenta aspetos notáveis geomorfológicos e paleontológicos, evidenciando a sua atual posição recuada relativamente à orla marítima.
Após a visita ao Miradouro dos Capuchos onde se observavam as praias da Costa da Caparica, o grupo chegou ao parque de estacionamento da Praia do INATEL, tendo sido recebidos pelo técnico Daniel Raposo da Câmara Municipal de Almada. Este apresentou o território e o Projeto Reduna, iniciativa municipal de restauro ecológico que visa a conservação e valorização dos sistemas dunares da Costa da Caparica. As dunas para além da sua função de proteção da linha costeira, são um suporte de biodiversidade importante, quer seja de espécies de flora como o estorno (Ammophila arenaria), a morganheira-da-praia (Euphorbia paralias), o cardo-marítimo (Eryngium maritimum) ou a luzerna-da-praia (Medicago marina); como de fauna, onde se podem encontrar, dependendo do local, libélulas, grilos, escaravelhos, anfíbios, répteis e aves.
O Projeto Reduna tem plantado algumas plantas autóctones, como por exemplo o estorno (Ammophila arenaria) contando com diversos voluntários, tornando o cordão dunar mais resistente à erosão provocada pelo vento e pelo mar.
Esta parte da visita alinhou-se perfeitamente com os tópicos do 9º ano da disciplina de Geografia relativos aos espaços litorais, os seus recursos e problemas ambientais, como a erosão costeira e a gestão da linha de costa. A observação in loco da intervenção humana e natural na linha de costa permitiu uma compreensão mais profunda dos desafios da gestão e ordenamento do território.
Seguiram-se as últimas atividades do dia, com forte envolvimento dos alunos e dos professores, encerrando a jornada com entusiasmo e aprendizagens significativas.
Importa ainda referir que várias atividades foram registadas fotograficamente, com vista à participação no Desafio do Dia da Escola Azul deste ano. Esta saída de campo foi um excelente exemplo de educação ambiental ativa, reforçando a ligação dos alunos ao território e à preservação do património natural.
O Professor Henrique Martins sublinhou a importância destas saídas de campo como complemento essencial ao currículo escolar, através de uma aprendizagem no terreno que contribui para uma compreensão mais holística e prática, salientando a colaboração que tem tido com a LPN, através do Projeto Despertar para a Natureza e de outras entidades na proporcionando aprendizagens mais enriquecedoras.
Estas saídas de campo reforçam o compromisso do Agrupamento de Escolas da Malveira em proporcionar uma educação dinâmica, preparando os jovens para serem cidadãos mais conscientes e responsáveis em relação ao ambiente que os rodeia. São esses os objetivos do Projeto Despertar para a Natureza da LPN, e que vão ao encontro das Aprendizagens Essenciais do perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, do Referencial de Educação para a Sustentabilidade e Estratégia Nacional de Educação Ambiental.
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