Uma ação de formação conjunta avançada pela LPN, GEOTA e Associação Pato nas duas principais zonas húmidas do Oeste abriu trilhos de ação para a missão educativa de dar a conhecer estes ecossistemas, protegendo-os e valorizando-os.
Numa ação conjunta, a LPN e o GEOTA, proporcionaram duas saídas de campo orientadas em duas das principais zonas húmidas do oeste. Os participantes foram primeiramente recebidos no Centro Ecológico Educativo do Paul de Tornada, um equipamento para a Educação Ambiental, onde se desenvolvem múltiplas ações de educação/sensibilização dirigidas a todos os públicos. O Centro Ecológico Educativo é co-gerido pelo GEOTA e pela Associação Pato e, localiza-se ao lado da Reserva. No Centro os participantes assistiram a uma apresentação sobre a importância ecológica da Reserva Natural Local do Paul de Tornada, classificada como sítio Ramsar e da Lagoa de Óbidos por parte dos professores destacados Carla Pacheco e Jorge Fernandes.
Atendendo à singularidade das suas condições territoriais, a RNL-PT alberga um ecossistema de grande diversidade justificativo da sua inclusão na lista de “Zonas Húmidas” de acordo com a Convenção de Ramsar. Está em curso na Reserva Natural Local do Paul de Tornada um projeto inovador pelo facto de concretizar uma modalidade de Área Protegida de âmbito local, agregadora de energias provenientes da Administração Central, do Município das Caldas da Rainha, da Junta de Freguesia de Tornada e das Associações de Defesa do Ambiente GEOTA e Associação PATO, com o propósito de formar competências ambientais coletivas através da proteção, qualificação e divulgação do património ímpar.
Seguidamente os participantes munidos de binóculos percorreram todo o trilho da Reserva Natural Local do Paul de Tornada, usufruindo de uma saída orientada pela professora destacada Carla Pacheco num cenário de inegável beleza.
Percorrendo o sistema de valas, que conflui no rio Tornada que, por sua vez desagua na cocha de São Martinho, o Paul da Tornada é um vestígio de um passado longínquo, em que o mar penetrava mais profundamente na faixa de sedimentos jurássicos do vale Tifónico das Caldas da Rainha, e em que o rio era navegável.
Caminhando pelo trilho do Paul de Tornada.
Destaque para a importância que as lagoas e campos da Reserva Natural Local do Paul de Tornada de serem um refúgio crucial para as duas espécies de cágados selvagens do país, nomeadamente os cágados de carapaça-estriada (Ermys orbicularis) em perigo de extinção devido á perda de habitats e à introdução e espécies exóticas, para além de ser um dos sítios mais importantes de aves de caniçal.
Por entre as margens foi possível observar-se, algumas aves aquáticas como a galinha de água, a marrequinha, o pato-real e a discreta garça vermelha, entre outras.
Paul de Tornada.
Tirando partido da paisagem da região e do espaço de visitação que atualmente nos oferece o Paul de Tornada, realça-se a importância que teve a sua recuperação ambiental e o seu aproveitamento atual em termos de visitação constituindo um espaço de referência para a sensibilização ambiental onde se evidencia o papel importante que as zonas húmidas têm para a humanidade.
Após o almoço, partimos rumo à Lagoa de Óbidos para tirar partido de uma bela paisagem e das condições de exceção que o lado selvagem da Lagoa de Óbidos exibe, que não obstante ser uma zona húmida com nichos ecológicos complexos e constituir uma área de inegável interesse ecológico e paisagístico com elevadas potencialidades para a educação ambiental não possui qualquer estatuto de proteção. No miradouro da Foz do Arelho junto aos passadiços, a professora Conceição Freitas efetuou-nos uma caraterização física da Lagoa de Óbidos, através de um enquadramento geológico, geomorfológico e hidrodinâmico que condiciona a relação existente entre a cultura e a sua biodiversidade. Analisando a carta geológica das Caldas da Rainha e observando os extremos norte e sul do areal da praia da Foz do Arelho verificávamos a existência de duas arribas com caraterísticas e idades diferentes entre si. A arriba norte formada por depósitos detritícos do Jurássico e a arriba sul constituída por depósitos igualmente detríticos de idade cretácica cujas camadas se inclinam para sul.
Miradouro da Foz do Arelho.
A explicação da professora Conceição Freitas transportava-nos para um passado longínquo, para a formação e evolução da Bacia Lusitanica, do estiramento crustal e abertura do Atlântico Norte, mostrando a evolução dos ambientes sedimentares neste sector desde a Era Mesozóica até à Atualidade. Na aventura do conhecimento imaginávamos os inúmeros trilhos que os dinossauros efetuavam, testemunhados nas jazidas, tanto nas arribas a norte, como nas do sul a Lagoa. Enquadrando-se num contexto regional relacionado com o Vale Tifónico – uma unidade estrutural que se prolonga de Rio Maior até Porto de Mós - Batalha íamos percebendo a origem da riqueza da região em recurso minerais (águas termais, gesso, sal gema, caulino, diatomitos).
Miradouro da Foz do Arelho - Apresentação da profª Conceição Freitas.
Devido à deposição dos sedimentos a lagoa naturalmente tende a fechar com um assoreamento que se traduz em amplitudes de maré muito reduzidas no interior da laguna e a sua ligação por um canal de embocadura divagante (conhecido por “aberta”) é mantido artificialmente. A Lagoa de Óbidos é assim naturalmente um ambiente efémero. Por isso e devido às pressões que tem sofrido, a Lagoa de Óbidos necessita de um sistema de gestão sustentável que preserve o habitat e as espécies que o integram.
Com o objetivo de dar a conhecê-la e de a valorizar a Ana Rita Martins divulgou o futuro Centro de Interpretação para a Lagoa de Óbidos, um projeto do Orçamento Participativo Portugal (OPP), financiado pela FCT e pela Ciência Viva, e que está a ser executado pela LPN em parceria com a Câmara Municipal das Caldas da Rainha, Câmara Municipal de Óbidos e o Conselho da Cidade - Associação para a Cidadania. O projeto visa a criação de um instrumento para a descoberta, valorização e transmissão do património natural e histórico-cultural da Lagoa de Óbidos.
Segundo Ana Rita Martins, o Centro de Interpretação será o resultado de “um conjunto de estruturas, equipamentos e outras valências informativas e interativas disponíveis ao redor da lagoa” visando “implementar um conceito inovador, dinâmico e de proximidade”, mas também promover ações educativas, debates, visitas, estudos académicos, ações dirigidas ao turismo de natureza e experiências com ligação ao centro interpretativo.
A Ana Rita Martins tem passado os últimos meses continuamente a explorar e a conhecer a Lagoa, e tal como a professora Conceição Freitas que realizou a sua tese de mestrado no local, foram os orientadores ideais para nos guiarem por um percurso pela margem norte até uma estrutura geológica que se destacava no local e que constitui um atração turística da Foz do Arelho. Trata-se do Penedo Furado. Após uma breve paragem a professora Conceição Freitas explicou-nos a origem de tal fenómeno geológico de se tratar de um relevo residual deixado pela erosão das formações geológicas das quais fazia parte numa área que foi em tempos banhada pelo mar. O nome deve-se às numerosas cavidades que afetam um grande bloco de arenito jurássico e que a erosão isolou do restante maciço aflorante nas vertentes vizinhas.
Embora o referido monumento natural tenha tido já intervenções para conter a erosão verifica-se a necessidade de novas obras de consolidação pois nota-se cada vez mais a sua degradação.
Seguidamente fomos visitar um dos vários recantos especiais da Lagoa de Óbidos, o Braço da Barrosa, um dos locais de maior importância do ponto de vista ecológico, com uma das poucas manchas de carrascal ainda existentes na lagoa, assim como algumas zonas de vasta vegetação relativamente bem conservada definindo boas condições para a avifauna. Após se ter salientado a importância dos rasos de maré e dos sapais para o equilíbrio ecológico, mencionaram-se alguns dos factores de perturbação mais relevantes como sejam a poluição provocada por esgotos industriais, domésticos, a poluição derivada das suiniculturas e pelos pesticidas, a queima do caniço, a existência de barragens e açudes que aumentam o assoreamento, a forte pressão turística, pisoteio sobre as dunas e as medidas de abertura ao mar que levaram à instabilização das zonas arenosas junto ao Bom Sucesso, com erosão junto a edificações e outras situações problemáticas que necessitam de medidas de conservação e de gestão urgentes.
Braço da Barrosa - Lagoa de Óbidos.
Já os últimos raios de sol enchiam o céu quando sem darmos por isso verificámos que a ação estava a terminar… No entanto, deixámo-nos levar por estes locais do Oeste, pela sua riqueza paisagística e ecológica, na certeza, porém, que esta ação terá continuidade na divulgação e trabalho nas escolas, não só pelo papel educativo que o Centro Ecológico Educativo do Paul de Tornada desempenha na região como do futuro Centro de Interpretação para a Lagoa de Óbidos contribuindo para a proteção desses locais e para o desenvolvimento local sustentável.
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