Fotografia: ©VCF
O projeto LIFE Aegypius Return continua a sua ambiciosa missão de recuperar o abutre-preto (Aegypius monachus) e criar uma população consolidada e sustentável em Portugal. Com 2024 a chegar ao fim, é um bom momento para rever o trabalho feito e celebrar as conquistas deste ano.
Em retrospetiva: O abutre-preto na Península Ibérica
Ainda não há muito tempo, o abutre-preto era uma ave comum em toda a Península Ibérica. Mas, ao longo do século XX, a população decresceu drasticamente devido a fatores como a destruição do habitat, o envenenamento e a perseguição. Na década de 1970, a população reprodutora de Portugal extinguiu-se e em Espanha restavam pouco mais de 200 casais.
A situação começou a melhorar em Espanha no final da década de 1980, graças a esforços de conservação dirigidos. Em 2010, algo surpreendente aconteceu: o abutre-preto recolonizou naturalmente Portugal, após 40 longos anos de ausência. Em 2022, a população portuguesa tinha aumentado para cerca de 40 casais, mas os progressos eram frágeis. As colónias pequenas e isoladas evidenciaram a necessidade urgente de ação. Foi aí que surgiu o LIFE Aegypius Return, um projeto com objetivos ambiciosos.
2024: Um ano de realizações
Este ano trouxe muitas novidades, com realizações importantes em todas as áreas do projeto:
Aumento da população e do sucesso reprodutor
Os progressos são encorajadores. Este ano foram registados entre 108 e 116 casais nidificantes – um aumento considerável face aos 40 casais conhecidos em 2022. Da reprodução deste ano foram recrutadas pelo menos 48 crias para a população! Adicionalmente, foi descoberta uma quinta colónia de reprodução. Esta nova colónia não existia até este ano, o que mostra que a espécie se está a expandir em Portugal.
Construção e manutenção de ninhos
Para apoiar o sucesso da reprodução, as equipas de projeto trabalharam na melhoria das condições de nidificação. Foram construídas plataformas artificiais de nidificação em áreas com elevado potencial, tendo sido já cumpridos 22% deste objetivo. O projeto prevê também a manutenção ou reparação de ninhos naturais ou plataformas já existentes, reforçando a sua estabilidade e segurança. Até ao momento, foram cumpridos 38% deste objetivo. Estes trabalhos são importantes, pois, por um lado, ajudam a atrair novos casais, e, por outro, previnem falhas na reprodução devido à queda ou colapso de ninhos.
Marcações e soft release
Este ano, foi construída uma jaula que permitiu a aclimatação e posterior libertação de quatro abutres-pretos no Douro Internacional, pelo método de soft release. No total, o projeto já marcou 41 abutres com emissor GPS/GSM, incluindo crias, aves reabilitadas, as quatro aves do soft release e, ainda, um adulto. A localização por GPS fornece dados essenciais sobre os movimentos das aves, os locais de alimentação, e as ameaças que enfrentam. Até 2027, o projeto pretende marcar e monitorizar 60 abutres-pretos.
Melhoria do habitat
Outro grande objetivo do projeto é a melhoria do habitat. Este ano, foi concluído um estudo de adequabilidade do habitat para a espécie e uma análise dos dormitórios, estando em curso os trabalhos relativos aos planos de gestão em torno das colónias.
Um estudo feito sobre a disponibilidade e a necessidade de alimento demonstrou faltam recursos alimentares para o abutre-preto em Portugal. Por conseguinte, o projeto implementará uma estratégia de alimentação suplementar para garantir que a população possa crescer e prosperar.
Combater o envenenamento
O envenenamento é uma das maiores ameaças aos abutres, a nível global. Para Portugal, foi concluído um estudo de referência e a GNR formou três novas patrulhas caninas de deteção de venenos. Foram também enviadas amostras de abutres vivos e mortos para laboratórios de referência portugueses e espanhóis, uma ação importante para monitorizar esta ameaça.
Envolvimento e sensibilização do público
A conservação não acontece num setor isolado, e a sensibilização mais generalizada tem sido uma grande aposta em 2024. O projeto obteve uma ampla cobertura mediática e lançou dois vídeos de animação: um sobre o regresso da espécie a Portugal e outro sobre o projeto. Estes esforços estão a ajudar a inspirar as pessoas e a trazer novos apoiantes para o projeto.
Perspetivas para 2025
Para 2025, o foco é claro: otimizar os progressos alcançados até agora e enfrentar os desafios que ainda subsistem. No próximo ano, as prioridades incluirão a gestão do habitat, a prevenção de incêndios e a construção de mais plataformas de nidificação em áreas-chave. Implementar a estratégia de alimentação suplementar será também essencial para fornecer à crescente população de abutres-pretos os recursos de que necessita para prosperar.
A luta contra o envenenamento da vida selvagem continuará a estar no centro do trabalho do projeto, por exemplo através do reforço da colaboração com o Programa Antídoto e com as autoridades na aplicação da lei. Estes esforços ajudarão a proteger não só os abutres, mas também os ecossistemas e as pessoas.
Em 2025 continuaremos a promover a cooperação. Os estudos sobre os serviços dos ecossistemas e sobre as preocupações levantadas pelos criadores de gado serão concluídos e partilhados, proporcionando uma visão mais clara da importância dos abutres, de eventuais conflitos, e propondo soluções práticas. O envolvimento de todas as partes interessadas continuará a ter um lugar central no projeto, com plataformas participativas e ações de sensibilização específicas destinadas a aumentar a consciencialização sobre as ameaças e formas de as mitigar. Por exemplo, será organizada formação específica para o setor da caça, sobre a utilização de munições sem chumbo, uma medida que poderá reduzir significativamente os riscos para os abutres e outra fauna silvestre.
Naturalmente, tudo isto depende da dedicação e da estreita colaboração entre todos os parceiros e partes interessadas do projeto. Organizações de conservação, proprietários rurais, autoridades, veterinários, e muitos outros desempenham um papel importante. Estamos a trabalhar para que 2025 seja mais um ano de progressos significativos - não só para o abutre-preto em Portugal, mas para a conservação em geral.
Sobre o LIFE Aegypius Return
O projeto LIFE Aegypius Return é cofinanciado pelo programa LIFE da União Europeia. O seu sucesso depende do envolvimento de todos os stakeholders relevantes, e da colaboração dos parceiros, a Vulture Conservation Foundation (VCF), beneficiário coordenador, e os parceiros locais Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, Herdade da Contenda, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Liga para a Protecção da Natureza, Associação Transumância e Natureza, Fundación Naturaleza y Hombre, Guarda Nacional Republicana e Associação Nacional de Proprietários Rurais e Associação Nacional de Proprietários Rurais Gestão Cinegética e Biodiversidade.
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